6 de junho de 2007

Carolina - Parte II

(a primeira parte você encontra aqui)

No caminho de volta para casa, pensei no quanto eu havia sido estúpido. Deixei me levar pelo calor do momento e perdi o elemento surpresa. Agora os confeiteiros sabiam que eu estava contra eles e iriam se preparar. Eu precisava bolar alguma estratégia, algum curso de ação que me fizesse colocar a mão em pelos 100 gramas daquelas malditas carolinas.

Cheguei em casa e comecei a analisar a situação. Primeiro, eu estava em enorme desvantagem numérica, já que os confeiteiros eram três e eu apenas um. Para piorar, os malditos ainda estavam bem posicionados no campo de batalha, bem protegidos atrás do balcão. Se eu tentasse um ataque frontal, me tornaria um alvo fácil assim que entrasse na padaria, provavelmente sendo bombardeado com bolos, tortas e pães-doces. E duvido muito que eles jogariam carolinas em mim para me afugentar.

Eu precisava encontrar uma outra maneira de enfrentá-los. Era o momento de deixar o gênio militar que mora em mim se manifestar. Afinal, todos os anos que eu passei jogando Age of Empires e Civilization tinham que servir para alguma coisa. Fui para o sofá e fiquei meditando sobre a situação, certo de que a solução apareceria naturalmente.

Duas horas depois, eu já tinha assistido a três episódios de Desperate Housewives e não tinha nenhuma idéia. Percebi que precisava de ajuda. Fui até o Google e comecei a pesquisar a vida de grandes gênios militares, líderes e conquistadores, para ver se alguma idéia brotava na minha cabeça.

Comecei com Hanibal. Mas de acordo com ele eu teria que cruzar a Teodoro com uma manada de elefantes, e o trânsito lá já é uma bosta sem eu fazer isso. As pessoas iriam reclamar, capaz até de eu ser preso por perturbar a ordem pública. Musashi? Não, ele pregava que o vencedor sempre chega ao campo de batalha antes do inimigo. Bem, não sei os horários de funcionamento das padarias no Japão feudal, mas, aqui, eu teria que chegar ao local às quatro da manhã. Nem pensar. Napoleão? Não, ele se ferrou por causa do frio, não vai me ajudar em nada. Gandhi também não. Se eu ficasse na porta da padaria pregando a paz entre eu e os confeiteiros e me recusando a comer qualquer coisa, capaz de nem repararem em mim. E eu continuaria a não comer carolinas.

Como última alternativa, procurei no Google “+sun tzu + arte da guerra + padaria”.

Nada. Nem um resultado.

Finalmente percebi a verdade: eu estava sozinho. Nenhum dessas supostas gigantescas figuras históricas poderia me ajudar. Voltei para a sala, liguei a TV e dei de cara com uma propaganda de Prison Break. Aos poucos, uma idéia começou a se formar na minha mente. Hum... Talvez... Sim! É isso! Vou tatuar a planta da padaria no meu corpo e arrumar um emprego como chapeiro ali. Aos poucos, terei acesso a todos os locais da padaria e terei acesso à fornadas e fornadas de carolinas! Chupem, confeiteiros!

Fui imediatamente até a sala, peguei um papel e comecei a desenhar uma planta, respeitando o tamanho das paredes e a disposição dos balcões e colocando bonecos-palito para indicar a posição dos confeiteiros, dos outros funcionários e dos clientes.

Ficou uma bosta. A geladeira de sorvete ficou parecendo um ovo e meus confeiteiros pareciam alienígenas cabeçudos. Desisti na hora. Eu iria morrer de vergonha de ter uma tatuagem tão tosca no meu corpo e, além disso (pensei depois), com meu 1,60m de altura, talvez nem coubesse a padaria inteira no meu corpo. Só a parte da copa já ia ocupar as costas inteiras e um pedaço da barriga. Merda de idéia.

Mas eu não ia desistir fácil assim. Já que o problema dos confeiteiros comigo era pessoal, a solução era fazer outra pessoa pedir as carolinas. Na hora, matei a charada: eu precisava me disfarçar. Iria entrar incpognito na padaria e, a hora em que eu colocasse as mãos nas carolinas, iria gloriosamente tirar meu disfarce, gritar um “CHUPA!” no meio da padaria e correr para o caixa!

Quase não dormi aquela noite, empolgado e revendo os detalhes do meu plano.

No dia seguinte, fiz a barba, coloquei boné e óculos escuros. Passei na banca ao lado da padaria e comprei um jornal. Abri o caderno de esportes de forma a esconder meu rosto e fingi que estava lendo uma matéria sobre o desempenho da Ponte Preta na série B.

Entrei na padaria já com o jornal aberto, aparentando despreocupação. Eu era apenas um consumidor casual, ninguém iria me reconhecer. O problema é que por causa do jornal eu não via nada na minha frente e meti o joelho com tudo numa prateleira de biscoitos, fazendo a padaria inteira olhar para mim.

Doeu. Muito. Mas não era hora de desistir. Fui mancando até a fila da confeitaria, ainda com o jornal aberto. Eu estava praticamente irreconhecível. Eles jamais recusariam carolinas à um cliente casual como eu. Conforme a fila ia avançando, eu ia chegando perto do balcão, sempre tomando o cuidado de manter o jornal aberto entre eu e os confeiteiros e aparentando despreocupação. Quando chegou minha vez, eu, ainda escondendo o rosto atrás do jornal, pedi, com o tom de voz mais casual que consegui:

– Hum... Oi? Ah, sim. Quero 1 kilo de carolinas!

Eles jamais desconfiaram de mim. Idiotas. Derrotados em seu próprio ambiente, porque me subestimaram! Jamais subestime a estratégia militar de Rob Gordon, a habilidade que ele possui de transformar a aparente derrota numa vitória inesquecível. E, com um kilo de carolinas, eu nunca mais precisaria de carolinas na vida! Vitória total!

– A carolina acabou.

Abaixei o jornal e tirei o óculos escuros.

– Como assim, acabou? Eu fiz tudo certinho! Planejei tudo com cuidado!

– É, mas acabou faz meia hora.

– Merda!

Virei as costas e chutei a geladeira de sorvete. Neste momento, ainda de costas para o balcão, percebi que eu jamais conseguiria derrotá-los. A saída era tentar comprar os confeiteiros. Vou fazer uma proposta que eles não poderão recusar. Ao mesmo tempo, subitamente, as imagens de Scarface surgiram à minha cabeça. É isso! A resposta é o Al Pacino! Basta mesclar a sutileza de O Poderoso Chefão e a agressividade de Scarface! É isso! Pacino nunca falha! Os confeiteiros não irão recusar minha proposta, ainda mais se eu usar a frase e o tom de voz corretos.

Joguei o jornal no chão, abri minha carteira e puxei meu cartão do banco. Virei para os confeiteiros, ergui o cartão do banco e gritei, fazendo a padaria inteira olhar para mim de novo:

– SAY HELLO TO MY LITTLE FRIEND!!!

O confeiteiro me olhou nos olhos. Assustado? Sim. Mas eu percebi a cobiça no seu olhar. Pronto. Ele estava sob meu controle. Mas, antes que eu pudesse perguntar "quanto você quer por um kilo de carolinas?", ouvi uma voz familiar vindo do meu lado.

– Não, não! Você já foi atendido! Se quiser comprar outra coisa, vá novamente para o final da fila, ou eu chamo o gerente!

Lentamente, virei a cabeça na direção. Eu sabia, era ela. Merda de velha! A padaria inteira começou a reclamar que eu tinha furado a fila. O confeiteiro me olhou com ar de superioridade, virou para a velha e disse:

– Pois não?

Enquanto eu caminhava cabisbaixo, na direção da porta, pude ouvir a velha pedindo dois croissants e um pão de torresmo. Olhei novamente para o confeiteiro, deixando claro que isso não iria ficar assim. Mesmo.

Mas nem eu tinha mais certeza disso.

(continua...)

31 comentários:

Anônimo disse...

Cara, você poderia ver em outra padaria.

Ou poderia ter tentado conversar com aquele camarada que já te conhece. Talvez ele te ajudasse.

Enfim, notei que você tem problema com velhinhas...

Anônimo disse...

eu ja acho q vc deveria ter pulado o balcão. Pena que seu "little friend" não tem o mesmo poder de destruição do original. Poderia sobrar algum pra velha que reclama.

Adônis D T disse...

Puuuttzz!!

Meu amigo, você está de parabéns!!

Seu blog está engraçadíssimo, hilário! Volto para ver a próxima parte da estória das Carolinas... :D

Só por curiosidade, li tbm "Desculpe, mas Seus Dentes Estão no Meu Orkut"... Aff, você tem o dom de fazer as pessoas rirem!

Muito bom.. ;]

Anônimo disse...

putz, não aguento mais cinco dias esperando para ver se você conseguiu comprar essas carolinas ou não. uma dica: leve a besta-fera com vc, vai todo mundo se intimidar e te dar quantas carolinas vc quiser. ou melhor: foda-se, vou comprar cinco quilos de carolinas pra vc, daí vc acaba com esta angúntia e vontade de comer o doce :o)

RFL disse...

hahahahahhahaa

Muito bom!
Sensacional.

E boa sorte né!

hahahahaa!

Parabéns pelo Blog.

Pa[†φ] BEiJo disse...

meu deus ahahua como vc gosta de escrever rsrs
mas ta muito bom^^
bem legal
parabens pelo blog^^

se cuida
e passa no meu se quiser
http://patypimi.blogspot.com/

R. B. Dillinger disse...

Em busca da Carolina perdida!
hahahahaha

quero ler essa saga!

abraço

Anônimo disse...

Liga não... na escala 1:1000 capaz q caiba a planta da padaria nas suas costas :P rs

Anônimo disse...

hahaha eu sei qual essa padaria, só tem carolina de sabado de manhã

Anônimo disse...

hahahahahaha muito bom. hilário suas histórias, tipo a "desculpe, mas Seus Dentes Estão no Meu Orkut" é fantástica também cara, compra essas carolinas e me avisa, quando comprar volto para dar umas risadas a mais. hahahaha

Renato Freixeda disse...

Cara, você é bom.

Só isso que eu tenho a dizer.


Abraços.

Jeffmanji disse...

omi... mata esse cara e pega essas carlinas!

kkk

valeu! Flu campeão!!!

Anônimo disse...

Gordon, guerra perdida. Use o plano abaixo e me convide, eu levo o Glenfiddich que tem aqui, esperando uma noitada com a carol.


Ingredientes:

Da Massa (Bombinhas):
- 1/4 kg de farinha-de-trigo;
- 100 gr de manteiga ou margarina;
- 6 ovos;
- Sal.

Do Creme:
- 70 gr de açúcar;
- 40 gr de farinha-de-trigo;
- 1/4 de litro de creme de leite;
- 1/2 litro de leite;
- 1/2 limão;
- Algumas gotas de essência de baunilha;
- 2 ovos.

Modo de Preparo:

Do Creme:

Bata as gemas com o açúcar e despeje polvilhando a farinha peneirada. Acrescente pouco a pouco o leite fervido a parte, com a baunilha e um pedacinho da casca de limão. Leve o creme ao fogo bem fraco e deixe cozinhar, mexendo continuamente. Quando ferver, deixe por mais 2 minutos. Tire então do fogo, retire a casca de limão e despeje o creme numa vasilha. Assim que estiver frio adicione o creme de leite batido a parte.

Da Massa (Bombinhas):

Unte uma assadeira com manteiga ou margarina. Leve ao fogo uma panela com 1/2 litro de água, a manteiga ou margarina e uma pitada de sal. Tire a panela do fogo e junte toda a farinha de uma só vez, mexendo energicamente. Leve novamente ao fogo e continue mexendo bem com uma colher de pau, até que a massa se torne aveludada (nesse ponto, ela se despregará do fundo e dos lados da panela, frigindo de leve). Tire então do fogo, deixe esfriar um pouco e junte os ovos, um a um, continuando a trabalhá-la por mais 10 minutos. Deixe-a repousar durante 1/2 hora. Depois ponha numa bisnaga de confeiteiro, fazendo sair um pouco de massa sobre a assadeira, tendo o cuidado de deixar os montinhos de massa um pouco distantes um dos outros.

Se preferir bombinhas compridas (conhecidas também como éclair) distribua a massa na assadeira em forma de bastõezinhos com aproximadamente 6 cm de comprimento. Leve ao forno médio durante cerca de 20 minutos. Antes de tirá-las do forno verifique se as bombinhas estão ligeiramente douradas e bem crescidas. Se você as tirar cedo demais, elas murcharão irremediavelmente. Tire-as da assadeira com uma espátula e deixe-as esfriar. Faça em cada bombinha uma pequena abertura lateral. Coloque o creme já pronto na bisnaga de confeiteiro, com um bico liso para rechear as bombinhas. Querendo pode polvilhar com açúcar de confeiteiro.
Se quiser variar a apresentação das bombinhas, pode cobri-las com glacê de chocolate, feito dessa maneira: parta uma barra de chocolate em pedacinhos e dissolva em banho-maria, numa panelinha.

Coloque as bombinhas sobre uma grelha e despeje por cima o chocolate derretido. Se o chocolate endurecer durante a operação, leve-a novamente ao fogo em banho-maria. O chocolate que passar através da grelha poderá ser recuperado destacando-o com uma faca.
Outra maneira muito usada é cobrir as bombinhas com um glacê de açúcar, ou seja, açúcar de confeiteiro misturado com calda de laranja ou limão, dessa forma: para cada 100 gr de açúcar, o caldo de um limão ou de uma laranja. Bata com uma colher até que fique um creme branquinho, nem muito mole nem muito duro. Ponha uma colherinha de glacê sobre cada bombinha.

Arthurius Maximus disse...

Uma verdadeira saga...

Anônimo disse...

Rapaz, um elogio desses vindo de vc me deixa feliz... O seu blog tb foi com certeza uma das melhores descobertas q fiz no último mês...
E termina logo essahistória da carolina q tô curioso!!!

Abs

Wanderson "Wans" disse...

KKKKK...desculpe,não estou rindo de sua desgraça,pelo contrário sou solidário, é a situação que trágica, para quem está de fora é cômica.
Eu sei que conselhos não têm valor hoje em dia,mesmo assim arrisco a dar o meu:
Acenda um cigarro com seu estiloso Zippo, olhe de "banda" para os confeiteiros e diga com voz cavernosa:
Filho, se você quiser ver sua família novamente, me dê um pouco deste lixo que você chama de Carolina OK?!!!
Se não funcionar experimenta sonhos....é uma delícia também.
Abraço.

Anônimo disse...

Tive que ler a primeira parte pra entender a segunda, mas... tô rindo aqui, que texto engraçado!

Muito bom, rapaz.

Será que so me resta desejar então... boa sorte?? (?!)

um abraço!

Anônimo disse...

Adorei!

Terei que voltar aqui para ver o final da história!

Parabéns você é muito criativo!

Lord Salander disse...

ah .

.......
bregado x)))~

comédia u post
isaugdiugsauiguigui

Roderico P. Franco disse...

Gostei da história e de como vc misturou cinema e, é claro, o nosso querido Age of Empires, hhuaahua!

bem-bolado.blogspot.com

Anônimo disse...

O que a gente não faz por umas carolinas, hahaha...

Nil Borba disse...

Oi..

Longo, porém muito bem escrito.

Gostei
Beijos e bom domingo

Anônimo disse...

aliás, pensando melhor... eu não gostei muito dessa história de "Carolina"...

hunft.

espera só eu mostrar meus dotes culinários, principalmente com chocolate, leite condensado e morangos em mãos. e ele VAI TER NOME !

Anônimo disse...

Porra, tivesse me falado. Almocei carolinas na sexta-feira, sobrou um monte, joguei fora ainda frescas. Top 5 guloseimas:

5) o clássico morangão posto na boca de Kim Basinger por Mickey Rourke em Nove e 1/2 Semanas de Amor;
4) o milk-shake de US$ 5 consumido por Uma Thurman em Pulp Fiction;
3) o joelho de um policial degustado por Anthony Hopkins em O Silêncio dos Inocentes;
2) a batata straight de Elijah Wood em Uma Vida Iluminada;
1) o bolo com glacê que o pequeno mafioso de Era uma Vez na América pretendia trocar com a gordinha dos prazeres.

Wagner disse...

cara, agora é uma questão de honra! vc tem que conseguir as malditas carolinas!

heheh

Climão Tahiti disse...

Agora eu tb quero carolinas... E onde moro não vendem. =/

Ane Talita disse...

Oi!

Nossa! seu blog é muito bom...não é à toa que é melhor dos melhores...
Muito engraçadinha a história das carolinas...hum...que vontade de comer uma...

beijo!

ah...descobri seu blog num link na comunidade do orkut!

Adrian Masella disse...

AHAHAHAHAHA

to me mataaando de ri cara!!!!

como assim a experiencia com Age e Civilization não serviram de nada??? Esse mundo está perdido caro amigo!!!

Antes desse post eu li o "Desculpe, mas Seus Dentes Estão no Meu Orkut"
Curti sua escrita, e vc realmente mudou meu modo de pensar
ahahahahha
Ah cara, nem vo te enrola tentando comenta, to rindo demais!!!

Abraço!!!!

Johnny disse...

Ao menos a velhinha não pediu carolinas... Já pensou se ela conseguisse? Estaria assim provada a perseguição dos confeiteiros...

Carol disse...

Afinal, pq não ir à uma outra padaria???

Fabi disse...

Ô, desta vez fui eu que acordei os vizinhos, tenho certeza. Meia-noite e meia, e eu aqui GARGALHANDO a cada parágrafo.

A propósito: "Duas horas depois, eu já tinha assistido a três episódios de Desperate Housewives e não tinha nenhuma idéia."

TÁ FALANDO DE MIM?