13 de novembro de 2006

A Tarde dos Mortos Vivos

Segundo a Bíblia, quando o Apocalipse chegar, os mortos se levantarão de suas sepulturas e caminharão pela Terra. Na minha humilde opinião, isso está mais próximo de acontecer do que nunca. O mundo realmente está acabando e os sinais são cada vez mais claros. O primeiro foi quando a Portuguesa chegou à final do Brasileirão e, de lá para cá, a coisa só tem piorado. Por exemplo, a Hebe Camargo declarou, semana passada, que quer fazer sexo com o Roberto Carlos (o cantor, não o lateral-arrumador-de-meias), deixando claro que os mortos vivos não apenas existem, como estão bolando meios de se reproduzirem.

Mas o ápice de tudo isso foi nesse último Dia de Finados (sim, eu sei, o post está mais do que atrasado. Até eu terminar de escrevê-lo, prometo que invento uma desculpa para isso), com a realização da primeira Zombie Walk em São Paulo.

Para aqueles que não fazem a menor idéia do que estou falando (e são vagabundos a ponto de terem ignorado o link acima), a Zombie Walk é um evento já tradicional no Canadá e nos Estados Unidos. As pessoas se fantasiam de zumbis e saem caminhando, tropegamente, pelas ruas, em plena luz do dia. Quer dizer, zumbis, não. Prefiro muito mais o termo “mortos-vivos”. Infinitamente mais assustador. Infinitamente mais George Romero. Enfim, resolveram trazer isso para o Brasil, e já estava mais do que na hora. Afinal, isso é muito mais divertido que aquelas comemorações de halloween, que tentamos desesperadamente importar para o Brasil já há alguns anos. Na boa, você conhece alguém que tem saco de fazer aquelas abóboras com velas dentro? Sem falar que qualquer pessoa que sair pela rua fantasiado de bruxinho ou diabinho e gritando “travessuras ou gostosuras!” (mesóclise mode: on) tornar-se-á sério candidato a veadinho do bairro. Isso se não levar um tiro, pois é capaz de alguém pensar que é assalto.

Enfim, pessoas vestidas de mortos-vivos, caminhando da Paulista até Pinheiros, passando por todos os cemitérios do caminho? Sorry, eu não poderia perder isso de jeito nenhum. Sempre fui fã de mortos-vivos. E não, não estou falando dos zumbis modernos de Resident Evil ou dos anabolizados de Extermínio (que é um puta filme, apesar disso). Não. Nada é mais assustador que aquele povo dos filmes do Romero, que se arrastam pelas ruas, devorando tudo o que encontram. Aliás, os mortos-vivos merecem aqui uma singela homenagem. Enquanto os vampiros tornaram-se um bando de gays que passam a eternidade choramingando a solidão (Christopher Lee, cadê você?), os lobisomens caíram no ostracismo (sim, porque o limbo não existe mais, lembram?), os mortos-vivos continuam por aí, firmes e fortes, capengando nas ruas e nos campos, murmurando “Braaaains!” pra cá, “Braaaains” pra lá. Então, imagine isso na esquina da Paulista com a Consolação. Eu não imaginei. Eu fui com meu irmão – que, obviamente, também não figura na lista das 10 pessoas mais normais do mundo.

Chegamos lá com a cara e coragem, sem maquiagem, nem nada. Na verdade, deveríamos ter ido a caráter, putrefatos e rasgados, mas o debilóide do meu irmão, como deixa tudo para a última hora, acabou micando tudo (pelo menos ele não veio com o trocadilho infeliz de que “a maquiagem estava pela hora da morte”). Mas, como eu sabia que haveria gente ali maquiando os candidatos a mortos-vivos, fomos assim mesmo e demos sorte. Um(a) maquiador(a) que estava ali fazendo uma matéria com o Otávio Mesquita (é...eu sei. sem comentários) sobre o evento fez a minha maquiagem e a do meu irmão por míseros R$ 20,00 cada (mais barato que um caixão). Na verdade, meu irmão quase não pagou, pois o moçoilo da maquiagem se engraçou com ele, mas, quando meu irmão deixou claro que os mortos-vivos comem apenas o cérebro das pessoas, o mocinho do pancake desanimou e resolveu cobrar para não passar a tarde em branco.

Maquiagem a postos, começamos a caminhada. E, para minha surpresa, vi muitas fantasias legais demais. Eu imaginei que as pessoas fossem esfregar um batom na cara e tentar convencer os outros de que aquilo era sangue, mas o pessoal caprichou. Me lembro, de cara, de dois militares completamente destruídos que chamavam a atenção pela super-produção da fantasia. Mas o que eu mais gostei foram os “categoria originalidade”, como um cowboy com seis flechas enfiadas no peito, um sujeito com um cabo de vassoura atravessado no corpo (na horizontal, bem entendido), e uma ou outra Noiva-Cadáver que também deram as caras por ali – uma delas com o respectivo cônjuge. Claro que, como era de se esperar, pipocavam, de vem em quando, um Jason ou um Fantasma da Ópera. Será que as pessoas realmente acham que aquele débil-mental do Sexta-Feira 13 é um morto-vivo? Morto-vivo é o roteirista daquelas merdas de filmes. Enfim, é Brasil, pode-se esperar de tudo. Pelo menos, não tinha ninguém com a camisa do Corinthians, o que já é um começo.

Agora, mais divertido que se arrastar morta-vivamente (neologismo mode: on) pelas ruas é ver as caras das pessoas olhando tudo aquilo. Entre velhinhas que davam risada e camelôs que exclamavam cânticos milenares de proteção divina (leia-se: Cruzincredo!”), o ponto alto foi quando eu e mais uns 30 zumbis cercamos um ônibus na Paulista e começamos a bater nos vidros, gritando. Claro que alguns gritavam “miolos!”, mas eu mantive a classe e me ative ao tradicional “braaaains!”. É, sou purista mesmo. Se ninguém no ônibus falava inglês, problema deles.


















Este que vos escreve tentando devorar o cérebro
de uma incauta, ao mesmo tempo em que , de
Marlboro na mão, mostra que avisos do tipo
"O Ministério da Saúde adverte" são
inúteis, quando já se está morto.

Isso tudo nos primeiros 25 metros, o que dá um trajeto um pouco menor que do MASP (lugar de partida) até metade do quarteirão seguinte. Porque, a partir daí, começou a chuva. Sim, eu sei, todo Dia de Finados chove. Eu sei disso, você sabe disso. Mas o pessoal lá em cima provavelmente se invocou com aquele povo vestido de morto-vivo e resolveu fazer chover de balde. Se você estava na Paulista, sabe disso. Aquilo redefiniu o conceito de tempestade. Me senti como Noé. A diferença é que ele estava dentro daquela porra daquela arca, vendo TV, e eu estava na Paulista, com meu tênis parecendo um pântano (mas enquanto ele tinha que ficar dando ração e limpando cocô de um monte de bicho, eu estava andando de morto-vivo pelas ruas. Chupa Noé!)

OK, não vou negar que aquele bando de mortos-vivos encharcados andando pela rua ficou ainda mais charmoso, mas, antes mesmo de chegarmos à Consolação, o talão de cheques que eu tinha no bolso já tinha sofrido PT e o mesmo aconteceu com meu maço de cigarros (novinho) 30 metros depois. Felizmente, eu, como zumbi prevenido, estava com outro maço lacrado no bolso, que escapou (quase impune) do aguaceiro. O problema é que meu Zippo dos Beatles, literalmente, fez água, e não acendia de jeito nenhum. Então eu passei a segunda metade da caminhada tentando me decidir se entrava numa garagem e esfregava dois pauzinhos, ou se invadia um boteco, com cara de morto vivo e pingando água, com um cigarro na boca, grunhindo “Fóóóóósforo... Fóóóósforo...”. Nos dois casos, as chances de eu levar um tiro eram grandes, mas o vício falava mais alto. Felizmente, eu e dois zumbis que passavam pelo mesmo apuro achamos um pipoqueiro com uma caixa de fósforo que fingiu que éramos pessoas normais, e, prontamente, salvou a vida de todo mundo ali (piada fácil mode: on).

Enfim, quase no final da caminhada, a chuva passou. E, ao contrário do que dizem, depois da tempestade não vem a bonança. Vem o frio. Uma nova era glacial começava em São Paulo e eu ali, encharcado. As pessoas devem ter pensado que eu dei um upgrade na minha maquiagem durante o percurso, porque eu saí do MASP com o rosto roxo e cheguei em Pinheiros com o corpo roxo (e tremendo). A sorte é que a balada pós-Zombie Walk era do lado de casa e eu e meu irmão fomos para lá tomar um banho quente e trocar de roupa. Obviamente, quando colocamos o pé dentro do apartamento (ignorando o olhar do porteiro, que não está acostumado com moradores mortos-vivos) lembramos que o chuveiro de casa estava queimado. Ou seja, está provado: existe vida depois a morte. E, sim, ela pode ser tão ou mais zicada que essa aqui.

A balada? Sim, voltei para a tal da balada. Tomei 4 latas de cerveja em 7 minutos, estabelecendo um novo recorde para a comunidade morta-viva e, como estava de estômago vazio, me tornando MESMO uma espécie de zumbi, incorporando totalmente o personagem.

Felizmente, como eu e meu irmão não achamos nenhum cérebro ali (o que era de se esperar, devido ao cheiro de maconha lá dentro), resolvemos voltar para casa, tirar a maquiagem e, devidamente reencarnados, invadimos o Galinheiro, ali na Inácio, e devoramos uma picanha. Mal-passada, claro, porque mortos-vivos também são filhos de Deus.

5 Desculpas para o Atraso do Post
1. Como eu “morri” no dia 2 de novembro (e isso foi arredondado para 6 de novembro, porque todo mundo emendou o feriado), só pude postar isso aqui depois da minha missa de sétimo dia.
2. Você já viu a velocidade que um zumbi anda? Imagine a velocidade, então, que ele digita.
3. Como os mortos-vivos de Extermínio, eu tenho uma porrada de tiques nervosos e contrações. É difícil digitar desse modo.
4. Como sou um zumbi-trabalhador, que precisa garantir o cérebro nosso de cada dia, não tive tempo de entrar aqui semana passada de jeito nenhum.
5. Braaaaains!!! (Sorry, eu realmente gostei de grunhir isso pelas ruas)

5 comentários:

Unknown disse...

Rob, você é muito exibido.

Anônimo disse...

Braaaaains!

Desculpe, me descontrolei.

Anônimo disse...

depois da sua ilustre visita no meu humilde blog, tive que comentar por aqui.

e quer saber? ao contrário de todos os comentários 'nossa que foto horrivel', eu achei a foto uma gracinha ! principalmente, a parte do Marlboro ! =P

beijo, Rob exibidissimo ! =]

Anônimo disse...

poxa, e a gente teve que ver moleques fantasiados de anime! :/

Anônimo disse...

Depois, vc viu que entrei na onda e me fantasiei tb, de morto-vivo.

Mas, na boa... Sou muito mais Zumbi que personagem de anime. É mais classico.

heheehe

beijao