Após um longo e tenebroso onde trabalhei feito um cão e ainda tive uma gripe que me fez comprar um pacote de expansão para o termômetro, estou de volta. Sem mais delongas, vamos colocando a vida em dia.
Ontem, fui ao show do Chico Buarque. Sim, sim, pode parecer difícil de me ver num show do Chico depois das bandas que eu já discuti aqui no blog, mas Chico é foda. Sempre fui fã do cara, desde que coloquei as mãos no K7 de Construção do meu pai. Inclusive, sou da opinião que a MPB se divide em dois grupos: 1 - Chico Buarque e 2 - O resto. Enfim, não vou macular um post sobre Chico Buarque citando os malas da MPB (especialmente aquele que se expressa num idioma próprio, sempre citando a porra da baianidade; e o mala do Coringa, que acha "tudo lindo").
Enfim, ontem eu fui ao show. Eu não estava com saco de ficar disputando ingressos no tapa para as primeiras datas da turnê e esperei. Dei sorte de ele fazer essa apresentação extra para a gravação do DVD. Ou seja, todo mundo que jogou na minha cara que tinha ido no show e eu nao, quando vocês comprarem o DVD, daqui a alguns meses, lembrem-se disso: sim, vocês estarão assistindo a um show igual ao que vocês foram. E estarão assistindo ao show que eu fui. Ou seja: chupa, todo mundo (menos as pessoas que me falaram "que legal, você vai adorar!")
Anyway, ao show em si. Chico Buarque tem dois problemas.
O primeiro é o mesmo problema que Ray Charles tinha: se ele fizer um show com todas as músicas fudidas, o show teria que durar uns dois dias e meio (isso sem falar no bis, que, sozinho, deveria ter o tamanho de um show do Caetano Veloso - ih... falei o nome. Merda). Então, não importa o que ele toque, sempre irá faltar algo. A vantagem é que, como ele é o Chico Buarque, não importa o que ele tocar, vai ser bom.
Claro que tocam várias músicas do disco novo, Carioca (que eu não comprei), mas os (poucos) classicões que entram no setlist, especialmente A Bela e a Fera e Na Carreira (do tesudíssimo O Grande Circo Místico) e Bye Bye Brasil (que meu irmão ouviu pelo menos metade, via celular) ajudam um bocado.
Agora, Chico, na boa... E Construção (tanto o disco como a música)?? Porra, Construção é o melhor disco dele e não entrou no show! Eu ainda vou encontrar esse cara na rua, colocar uma arma na cabeça dele e mandar "Ou canta Construção, ou já era! Inteira, com todas as mudanças de letra de uma parte para outra!" E, tenho certeza de que se ele começar a cantar, ninguém na rua vai me impedir ou chamar a polícia - pelo contrário, vão parar pra ouvir. Eu iria também. Enfim, fica aqui a sugestão: já que é moda artistas fazerem shows, agora, interpretando um disco clássico na íntegra, chico poderia muito fazer um Construction Live ou algo do gênero. Eu iria, e em Cotidiano, eu já estaria sem voz. Aliás, nada me tira da cabeça que ele não tocou porque o show (e o disco) chama Carioca. Se chamasse Paulista, aposto que rolaria Construção, Deus lhe Pague, Samba de Orly e até mesmo Roda Viva no bis.
Enfim, sem problemas. Teve muita música. Afinal, Chico Buarque é o cara mais eficiente do mundo. Graças à timidez dele, Chico simplesmente não fala no show ("não posso errar a letra e nem ficar suado, porque estou gravando", foi a única frase além de dois ou três "obrigado São Paulo" que ele soltou no show), emendando uma música com outra. Não é arrogância, é timidez. Isso fica claro toda vez que o público aplaude, e ele olha para baixo, sorrindo. E a platéia aplaude mais ainda. Ou seja, o cara escreve melhor que eu, joga futebol melhor que eu, e é tímido com mais classe que eu. E ainda tem olhos verdes. É foda, não dá competir. E, na boa... Quando ele entra no palco, tímido ou não, ele podia dar aula de carisma para qualquer atorzinho da Globo. Bom, é o Chico, né?
Agora, o segundo problema do Chico. A classe e o carisma dele são inversamente proporcionais aos de boa parte do seu público. Uma vez, uma amiga minha disse que existem dois tipos de mulheres no mundo: “as que já deram para o Chico, e as que querem dar para o Chico”. Ok. Mas, no show de ontem, eu identifiquei quatro tipos de mulheres:
1 – As que gostam (de verdade) de Chico. Ocupam pelo menos metade da platéia. Assistem ao show deslumbradas, não tiram o olho dele e cantam TODAS as músicas junto. Chegam a chorar de emoção por ele estar ali, na frente deles, cantando Eu te Amo ali, na frente deles. Podem não ter todos os discos, mas pagaram para ver AQUELE cara cantar. Se fosse um show do Djavan, não iriam. Não queriam ir a um show, queriam ir a um show do Chico.
2 – As que querem que o mundo saiba que gostam de Chico. Como Chico Buarque está na mídia, graças ao disco novo e ao show, elas vão usar isso como o seu grande diferencial na faculdade. “Eu fui no show do Chico. Vocês, não. Eu sou foda.”, ela vai dizer pras amigas, com ar de superioridade. Ou seja, se fosse Caetano Veloso (foda-se, já falei o nome dele mesmo), elas iriam. Não estão ali para ver Chico Buarque, estão ali para ver o show do momento. Claro que conhecem uma ou outra música, mas não sabem diferenciar A História de Lily Braun de Futuros Amantes. Para elas, foi apenas mais um show, que, independente dela ter gostado ou não, ela vai sair falando que “foi do caralho”, para humilhar ainda mais as amigas que não foram. Ah, sim, vão colocar uma foto do show no orkut, dizendo que realizaram um sonho antigo ao ver Chico ao vivo, e coisas assim.
3 – As mal-comidas. São aquelas que estão ali para pegar homem. Como vai ser bem difícil chegar perto daquele cara de olhos verdes cantando em cima do palco, qualquer outro serve. Normalmente, são aquelas peruas velhas, que passaram perfume com Vaporetto antes de ir ao show. Umas três ou quatro delas ainda passavam o ridículo de gritar “Gostooooso!!!” entre uma música e outra. Acho que não tinha como ser mais ridícula. Das duas, uma: ou a maior qualidade que ela vê nos 40 anos de carreira do Chico é a sua suposta gostosura, achando as letras da música apenas um detalhe; ou essa é a maneira que a espécie dela encontra para atrair os machos ao redor, para acasalamento. Enfim, a noite de uma delas deve ter passado em branco, quando ela gritou “Gostoooso!” no final de uma música e a única resposta que ela recebeu foi um “sssshhhh” de metade da platéia.
4 – A imbecil. Estava do meu lado. Era uma criatura que mesclava algumas características do grupo 2 (não sabia direito onde estava) e do grupo 3 (não aparentava ser uma das mulheres mais difíceis do mundo). Enfim, quando começou o show, ela se levantou – só ela, Chico Buarque e o cara do contrabaixo estavam em pé – e começou a sambar. A sambar! Provavelmente, estava tão maconhada que achou que estava num sambão da Ibirapuera. Detalhe que nenhuma das músicas era samba e ela ali, se sentindo “A” passista. Felizmente, na quinta música, ela viu que não estava fazendo muito sucesso, já que as pessoas continuavam olhando o Chico, e não para ela, e foi se sentar. Mas, pelo jeito, ela fez escola. Na segunda metade do show (não lembro em que música), um casal perto de onde eu estava levantou e começou a dançar, como se estivessem num show do Frank Aguiar. Pronto, virou gafieira. Ainda bem que o Chico não viu isso. O cara já é tímido, iria morrer de vergonha.
Ah, sim. Antes do show, o Tom Brasil fez o jabazinho habitual e passou, no telão, quais seriam os próximos shows. Entre eles, Lenine (que é igualzinho ao Gary Oldman em Drácula), Skank e Deep Purple. Eu sei que é até heresia colocar Skank e Deep Purple na mesma frase, mas, enfim: adivinhem qual será meu próximo show?
5 Melhores Músicas de Chico Buarque (sem contar nenhuma que esteja em Construção – mas já aviso que essa lista muda toda hora)
1. Geni e o Zeppelim – tudo o que Faroeste Caboclo queria ser
2. O Que Será (A flor da Terra) – uma música que rima as palavras alcovas / trovas / tocas é motivo suficiente para o Humberto Gessinger desistir de tudo e montar um comércio qualquer.
3. Trocando em Miúdos – quem nunca passou por isso?
4. Beatriz – Como alguém pode ter percebido que a palavra "atriz" está dentro do nome do Beatriz?
5. Roda Viva – a versão com o MPB4 é uma das mais paudurecentes do universo.
5 comentários:
1. Geni e o Zeppelim – tudo o que Faroeste Caboclo queria ser
Isso entrou no meu "As cinco melhores definições de qualquer coisa".
Rob, eu adoro Chico Buarque. Ele é um charme e a timidez dele só ressalta esse charme todo.
E é engraçado, porque toda vez que ouço Chico lembro do quanto você gosta dele e das músicas dele, e não posso esquecer aquela versão maluca que a gente fez uma vez "poblema todo mundo tem, e hoje não atendo ninguém"...
A gente tem que escrever essa versão tosca logo amigo, antes que os anos passem e fiquemos senis.
não resisti... sei que este post é velho, mas quando eu li o título fui dar uma espiada. eu tbm fui ao show do chico no ano passado, mas em setembro.
sim, tudo o que ele mais é na vida é tímido, e estrela tbm: não dá entrevistas, não conversa, não canta aquilo que a platéia espera. mas ele pode. só ele.
sobre o show: adorei e me emocionei quando ele cantou no final do bis "joão e maria". ele errou no começo de "leve", mas recomeçou e arrazou. amei também "as atrizes", "ela faz cinema", "ode aos ratos",
"imagina", "eu te amo". o que faltou nem vou comentar, mas dava para fazer uns três shows seguidos só com música boa!
Ô, não sei se deveria ter lido este post. Porque me dói que provavelmente nunca mais. Nunca mais vou ficar a dois metros dele no bis, enquanto ele canta "João e Maria" pra 1700 criaturas berrando a música de olhos fechados e mãos pro alto. Eu tinha a impressão de que, se fechassem o lugar e pusessem uma plaquinha "Hospício" na porta, ninguém se atreveria a tentar nos tirar dali. Foi dolorosamente lindo, minhas pernas estavam bambas e eu achei que fosse cair. Eu ia cair desmaiada, e ninguém ia nem perder o refrão. Ah, céus, como a vida pode ser boa e uma merda, tudo ao mesmo tempo.
1 - Vivo lendo essa bodega e só agora reparei nesse post.
2 - É muita viadagem dizer que eu me encaixo em tudo das Mulheres (e as Pseudo) de Chico?
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