27 de setembro de 2006

Folclore, é? Sei, sei...

Outro dia, estava falando com um amigo no messenger e ele me fez a a pergunta mais inusitada de toda a história contemporânea.

"Você sabe qual a perna que o saci não tem?"

Eu achei que fosse apenas o começo de uma piada e disse logo que não para ver como aquilo iria terminar. Não é que ele realmente precisava saber qual perna o saci não tem, para um texto que estava fazendo? Pensei no assunto (mas não pensei muito, confesso) e disse a ele que achava que não era definido. Uma hora ele tem a esquerda, outra ele tem a direita. Sei lá.Passam-se os minutos e ele volta com a resposta. De acordo com o Guia dos Curiosos, "na dúvida entre a direita ou a esquerda, muitos afirmam que se trata de uma perna centralizada, apoiada em dedos laterais mais desenvolvidos."

Ahá! Sacizão é pé-de-mesa! Ao invés de tripé, é mono-pé. Por isso que ele não tem pernas. Afinal, quem precisaria delas tendo um... dote desses?

Isso explica muita coisa. Afinal, convenhamos, criaturas da mitologia e do folclore sempre tiveram uma quedinha pela putaria, desde os tempos da Grécia Antiga, onde Zeus e companhia limitada comandavam, no Monte Olimpo, uma das maiores surubas da história. Ali, ninguém era de ninguém. Deus, semi-deus, mortal, não importa... Caiu na rede é peixe. Isso foi copiado pelos romanos depois – mudaram apenas os nomes para evitar problemas com os direitos autorais. E, como todas as estradas levavam a Roma, não demorou muito para a safadeza se espalhar pelo resto da civilização ocidental.

Aqui no Brasil, a coisa é mais discreta, mas existe. Lá na Amazônia, por exemplo, temos o Boto, que não perdoa uma índia por lá e a Iara, que é uma espécie de sereia do terceiro mundo, atraindo os viajantes que passam perto do Rio Amazonas. Mas a grande maioria das criaturas brasileiras são mais caretas. O grande exemplo é o curupira, que não quer nem papo, fica só correndo com os cabelos pegando fogo e defendendo as florestas. Tem também os Caboclos D´Água, lá em Minas Gerais, que ficam sacaneando os pescadores que pescam mais do que precisam e não devolvem os peixes para água.

Isso, claro, era o que se sabia, até agora.

Afinal, com o segredo do Saci descoberto, surge um mundo de novas interpretações sobre o folclore nacional. Afinal, o saci está no mainstream da coisa. Ele é o grande astro desse universo, junto com a Mula-sem-Cabeça. Sendo assim, é óbvio que o Saci tem grande influência sobre as outras criaturas, seja ela política ou apenas como grande lançador de tendências do lugar. O resto dos bichos, como o Curupira e o Neguinho do Pastoreio, são apenas coadjuvantes que passam os séculos batalhando seu lugar ao Sol. Tem alguns, tipo uma tal de Alemoa, lá em Fernando de Noronha, e um sujeito que atende por Papa-Figo, no Nordeste, que são totalmente indies, ninguém conhece. Quem dá as cartas mesmo é o Saci.

E agora, com o segredo do Saci descoberto, fica mais do que claro que sim, o folclore brasileiro também se amarra numa safadeza. A coisa aqui é muito mais low-profile que na Grécia ou em Roma, mas existe, sim. Afinal, se o dono do pedaço tinha esse segredo na “manga” (saca só o olhar da fera na foto ao lado), os outros bichos devem seguir o mesmo caminho, e, obviamente, tomando gosto pela coisa. Ou seja, daí a coisa é só ladeira abaixo, degringolando de vez.

Fico imaginando aquelas raves fenomenais na floresta. Curupira incendiando as matas, Iara e Boitatá já saíram para comprar mais vinho, Mula-sem-Cabeça dançando totalmente embriagada, Caipora distribuindo ecstasy entre os convidados... Tem umas criaturas chamadas Pinto Pelado e Cobra-Grande que devem formar uma duplinha infernal. Aí, chega o Sacizão, num rodamoinho. Saci, o mito. Saci, a lenda. Saci, o objeto de desejo. Todos olham para ele. Ele arruma o gorrinho e acendo o cachimbo. É o sinal para a putaria começar. Coitado do desafortunado que estiver passeando pela floresta nessa noite. Se chegar perto, sobra pra ele também.

Meu medo agora é o Chupa-Cabra vir a público explicar a origem do seu nome.

Aí, periga a coisa já descambar para o mau-gosto.

5 Criaturas mais Estranhas do Folclore Brasileiro

1. Anta-Cachorro (Amazonas) -
é uma espécie de Wuzzles (aquele desenho onde todos os personagens eram uma mistura de dois animais, tipo Rinocaco) mas com um nome vagabundo. E, pior, apesar do nome, ela é uma espécie de amálgama entre onça e anta. Ou seja, o nome, além de pobre em criatividade, está errado.
2. Cabelobo (Maranhão/ Pará) - tem um nome mais elaborado que o colega acima, mas é tosco também. Dizem que é a versão indígena do lobisomem, o que não faz sentido nenhum, já que tem corpo de homem e focinho de tamanduá. Se alimenta de gatos e cachorros recém-nascidos. Só pode ser morto com um tiro no umbigo, sabe-se lá o motivo.
3. Arranca-Língua (Goiás) - Parece um macaco de 10 metros de altura e ataca os rebanhos de gado da região. O problema é que só arranca a língua deles, por alguma tara que é melhor ficar na obscuridade.
4. Árvore do Homem Morto (Goiás) - Reza a lenda que é um homem que foi petrificado ao tentar matar o pai. Na hora que apontou a espingarda, tornou-se pedra e está lá até hoje, no Parque das Emas, cercado pela vegetação. A hora que a Medusa souber, com certeza rola processo por plágio.
5. Zumbi (Sergipe) - Yes, nós temos Zumbis! Mas, diferente dos mortos-vivos dos filmes do George Romero, que se arrastam pelas ruas comendo cérebros, o morto-vivo brazuca tem o péssimo hábito de andar pelado, pedindo fumo nas estradas e batendo (tem como ser mais pobre?) em quem não atende seu pedido. Ou seja, é uma espécie de trainee ainda, está aprendendo como se faz. Mas, francamente, alguém que começa a conversar com um morto-vivo pelado no meio de uma estrada tem que apanhar mesmo, pra deixar de ser mané. Posted by Picasa

5 comentários:

Felipe Goulart disse...

Mas é bom deixar bem claro que essa obsessão pederástica do Saci observada pelo Gordon não tem absolutamente nada a ver comigo. Minha dúvida era meramente acadêmica!

Unknown disse...

Rob, agora fico pensando...

Por isso que, na minha inocente infância, meus pais e avós falavam que, se eu visse um saci, deveria sair correndo.

Muito estranho...

Anônimo disse...

Eu gosto do jeito como você escreve

Hum... É só isso... Não pensei em nada melhor pra dizer.

Anônimo disse...

Impossível não rir... hehehehehehe

Bebele disse...

Hum confeso que pensei o mesmo que a Luciana...
¨Por isso que, na minha inocente infância, meus pais e avós falavam que, se eu visse um saci, deveria sair correndo.¨
Hehe...
Muito bom mesmo...é impressionante como os assuntos mais sem noção do mundo tomam rumos inesperados as vezes né?