20 de setembro de 2006

Aral contra Dudinka

Você sabe que está ficando velho quando pode entrar numa loja de brinquedos com seu próprio talão de cheques. E você sabe que está ficando velho quando você passa meia hora numa loja de brinquedos e simplesmente não acha absolutamente nada legal. Foi exatamente isso que aconteceu comigo numa loja na Teodoro Sampaio, que fica exatamente no meio do caminho entre minha casa e meu trabalho. Eu sempre passava em frente, mas nunca tinha entrado – ao contrário de bancas, livrarias e lojas de CDs, eu consigo me controlar vendo uma loja de brinquedos. Mas eu sempre diminuía a velocidade média – que já não é muito alta, afinal, estamos falando da Teodoro Sampaio – e arriscava uma espiada na vitrine, pensando “um dia eu entro aqui”.

Ontem, entrei.

Obviamente, assim que eu entrei, protagonizei com uma vendedora o mesmo diálogo que ocorre toda vez que eu entro numa loja de brinquedos.

– Boa tarde. – Boa tarde. – O senhor está procurando algo para menino ou menina? – Menino. – Qual a idade dele? – 31.

E, enquanto a vendedora pensava em como responder a isso, parti para o fundo da loja e comecei a fuçar nas prateleiras. A primeira que eu encontrei foi a dos bonecos e miniaturas. E aí começou a decepção. A maioria dos bonecos é cara demais e feia demais e metade dos que eu vi são baseados em desenhos ou em games que eu não conheço. Se bem que eu nunca fui muito fã dessa prateleira, porque sempre detestei aquelas miniaturas de super-heróis com variações estranhas. Você olha as prateleiras e vê bonecos do Hulk, do Batman, do Homem-Aranha. OK.

Mas, aí, quando você começa a ver de perto, encontra imbecilidades como Batman com roupa de mergulhador, Wolverine com proteção para batalha na neve, Homem-Aranha com roupa de verão, Hulk com uniforme de técnico da Eletropaulo. Como uma criança brinca com isso? Imagino um moleque sentado no chão da sala com o Hulk, gritando: "Poste de homenzinhos quebrou! Hulk troca poste de homenzinho!”.

Os bonecos que eu gostava mesmo eram os Comandos em Ação. (G.I. Joe porra nenhuma, pra mim vai ser sempre Comandos em Ação). Me lembro de quando ganhei os bonecos da primeira série. Os saudosos Cabeça-de-Ponte, Arma Pesada, Bazuqueiro, Rádio Alerta e Raio Laser. Nessa época, os vilões ainda nem chamavam Cobra. Era apenas um boneco todo preto que tinha o nome de Invasor. Nas séries seguintes, começaram a sair mais bonecos, mais veículos e mais vilões. Legal. O problema é que ficou impossível comprar todos, especialmente porque alguns tanques e outros veículos custavam uma fortuna e você simplesmente não tinha mais onde guardar aquilo – um amigo meu tinha um carro anfíbio que era quase do tamanho de um Fusca.

Dei mais uma fuçada, onde vi um Gollum e um Anakin Skywalker juntando pó (achei que o Gollum ficaria legal em cima da minha TV, mas o preço me mostrou que não) e fui para a minha parte preferida: a seção de jogos.

Outra decepção. Me senti como se tivesse 12 anos. Mas não por saudosismo e, sim, pelo fato de que os jogos de hoje são exatamente os mesmos que estavam à venda 20 anos atrás: War, Banco Imobiliário, Jogo da Vida, etc. Eles apenas mudam a foto da caixa e reeditam o jogo. Pô, será que ninguém pode criar um jogo novo? Será que o departamento de criação dos jogos da Grow era formado por um velhinho que se aposentou quando eu tinha uns 15 anos? Ou tudo isso é medo de competir com o PlayStation?

Se for, fica claro que as próximas gerações estão perdidas, entregues aos Wiining Eleven e Final Fantasy da vida. Os jogos de tabuleiro são essenciais na formação de qualquer pessoa.

Veja o War, por exemplo. Além de aprender que existem (ou existiam) lugares chamados Omsk e Aral, é jogando War que uma criança compreende que uma amizade de anos não significa nada quando seu melhor amigo precisa da Inglaterra (que está sob o seu domínio) para invadir a América do Norte. É atrás daquele tabuleiro que ela descobre que a vida pode ser ridícula quando ela perde todos os 12 exércitos da troca (para um imbecil que tinha apenas um exército), porque ele só tirou 1 nos dados, em todos os ataques. É só tirando o temível objetivo “Conquistar a Ásia e a América do Sul” que se aprende que, às vezes, sua vida está fadada ao fracasso, independente do quanto você tentar. E, pior, é lá que ela descobre que podem existir pessoas cujo objetivo de vida não implica em conquistar nada e, apenas em tirar você do jogo.

Está mais que na hora de as empresas acordarem e começarem a produzir jogos novos. Claro que as continuações como War II – que, por sinal, já é velha – não contam, porque, como toda continuação, elas são muito mais fracas que o original (as únicas exceções conhecidas pelo homem são O Poderoso Chefão II e O Império Contra-Ataca). Também não contam jogoso como Perfil II, Master II, porque são apenas expansões dos originais, não mudam nada.

Por outro lado, na preguiça de criar jogos novos, talvez essa possa ser a saída. Atualizar os jogos: um War III com a possibilidade de ataques terroristas (e um mapa atualizado, pelo amor de Deus) viria bem a calhar. Um Jogo da Vida onde você perde tudo devido a pacotes econômicos do governo seria legal também. E Scotland Yard, com a possibilidade de examinar a cena do crime, no estilo C.S.I. e com casos famosos, como da Richtofen ou o assassinato do Ubiratan? Isso sem falar no Master – Versão Nerd, com as categorias Star Wars, Star Trek, O Senhor dos Anéis, Quadrinhos, Arquivo X, Séries Diversas?

E, aí, tenho certeza, jogos novos e mais atuais começariam a surgir naturalmente. Deixo aqui umas idéias (e, para facilitar o trabalho da Grow, coloco também aquele textinho da caixa, que vem acompanhado da foto das crianças jogando e funciona como propaganda):

Celebridades.
Saia do anonimato e torne-se uma pessoa famosa. Qual caminho você irá escolher? Arriscar a sorte num show de Calouros? Participar do Big Brother Brasil? Dançarina de banda de axé: Namorar um piloto de fórmula 1 que morre num acidente? Engravidar de um roqueiro internacional? Você escolhe a forma de ficar famosa e a revistas de fofocas escolhem você para a próxima capa!
Participantes: de 2 a 6
Idade: a partir de 10 anos (a não ser que você seja filho da Xuxa ou da Carla Perez)

Campanha Política.
Funde seu partido e construa uma carreira política completa, de vereador até presidente. Lance pacotes econômicos, contrate um bom advogado e mãos à obra! Proteja seus escândalos, descubra as falcatruas dos seus concorrentes e, uma semana antes da eleição, libere para os jornais as fotos comprometedoras do governador com a secretária!
Participantes: ilimitado
Idade: a partir de 25 anos

Império.
Tráfico de drogas! Seqüestros! Assalto a bancos! Saia da sarjeta e conquiste a cidade, explodindo quartéis-generais de quadrilhas rivais. Pesquise novas drogas e assassine juízes. Se for preso, basta comprar um celular no mercado negro e continuar construindo seu Império. O mundo é seu... Mostre quem manda, caralho!
Participantes: 2 a 6
Idade: a partir de 8 anos
(Pistolas não incluídas)

E, por fim, (auto homenagem mode: on),
Parem as Máquinas!
Batalhe seu caminho através de uma redação de uma revista. Escreva matérias sem contar com um prazo humano e entrevistando personalidades débeis-mentais. Drible assessorias de imprensas que só atrapalham. Escolha seu caminho: você será um jornalista honesto ou jabazeiro? Divirta-se com seus amigos escolhendo a manchete do dia e lute para chegar ao cargo de editor-chefe, que dá direito a uma estagiária que está lá apenas para pegar café para você!
Participantes: 2 a 6
Idade: a partir de 10 anos
(alfabetização não necessária, mas recomendada)

As idéias estão aí. Pessoal da Grow, mãos à obra. Chega de preguiça. As crianças – especialmente as de 31 anos – agradecem.

De quebra, as 5 frases mais ouvidas em jogos de tabuleiro

1. 3 contra 1, de Aral para Dudinka. (War)
2. Qual o número do museu? (Scotland Yard)
3. Caiu no hotel em Copacabana! Tá fudido! (Banco Imobiliário)
4. Como funciona esse negócio de avião, mesmo? (War II)
5. Sei lá, caralho! (Master)

7 comentários:

Anônimo disse...

Nunca joguei War.
Frustrante.

Anônimo disse...

de fato... muito bem pensado. trabalhar em banco não é muito diferente de war.
Gustavo

Unknown disse...

Esses dias joguei Scrabble* com a minha mãe, só que não é da grow, é da mattel. E eu me senti muito mais velha jogando aquela porcaria. Parecia o Seinfeld jogando Scrabble* com a mãe dele. Nosso gato, o janjão, era o Kramer.

*o caça-palavras original.

Barretão disse...

Rob, outra informação super relevante que só o War ensinava era que de Wladvostok você chegava no Alasca! a melhor rota para a América! :)

E como vc falou em CSI.. poderia ter um WAR:Rio. A batalha aconteceria no Morro.. logo, o jogador da polícia diria: 1 contra 537 no morro do Alemão! E ainda insistiria em jogar o dado.

Aliás, seria uma boa a lista dos 5 Melhores Jogos! :)

Abs,
Bardo

Anônimo disse...

Porra, isso não se faz, cara. Você abriu feridas não cicatrizadas. War, pqp... :~~

Pulo no Escuro disse...

Não li o texto ainda... mas quero expressar uma opinião quanto ao título.
WAAAAAAAAAAAAAAAAAARRRRRRRRR

Pulo no Escuro disse...

Agora pós-texto.
War, quando jogado com 3 pessoas e com as peçes vermelhas, brancas e pretas, prova para qualquer criança, de qualquer idade, que o apartheid e a dominação comunista na Ásia é uma idéia viável.
ahuahuahuahuahuahuahuahauhauhau

Mas eu ainda gosto de quebra-cabeças grandes e detalhados (só é uma pena que eles custem R$99,99)