17 de setembro de 2015

Rob Gordon X Operetianos

Quando morávamos na outra casa, aqui na Vila Mariana mesmo, uma das minhas vizinhas era uma cantora de ópera. Ou, pelo menos, tinha vontade de ser. Quais as chances disso acontecer com uma pessoa normal? Acredito que poucas.

Aliás, talvez seja uma daquelas coisas que só acontece comigo. Mas acontecia sempre. Eu estava fumando no quintal do fundo e podia ouvir o som do ensaio vindo por cima do muro. Era como se eu fosse transportado imediatamente do quintal para a propaganda do Kadett com a voz do Edson Cordeiro cantando A Flauta Mágica, do Mozart.




Passei meses pensando em escrever sobre isso no blog, mas sempre adiei a tarefa. Eu tinha até mesmo imaginado em fazer uma crônica mostrando seu dia a dia, se comunicando com as pessoas somente por meio de trechos de ópera... Mas desisti, porque daria um trabalho do cão e eu não entendo de ópera a esse ponto (apesar de já ter escrito uma versão de Cavalleria Rusticana ambientada dentro de um ônibus, que você pode ler aqui).

Mas o tempo passou e nos mudamos.

OK, viemos morar no mesmo quarteirão, mas em um lugar onde eu não ouvia mais a Soprano da Vila Mariana. Ou seja, voltei a ter poder de escolha, e passei a ouvir ópera somente quando eu quisesse.

Mas, lá no começo do post, eu perguntei quais as chances de você morar ao lado de uma cantora lírica de chuveiro, lembra? Bem, se você ainda tem dúvidas sobre o quanto minha vida é estranha, vou fazer uma nova pergunta:

Quais as chances de você morar ao lado de uma cantora lírica de chuveiro, mudar de casa e se tornar vizinho de um cantor lírico de chuveiro?

Sim, porque faz algumas semanas que tudo começou novamente. Mas desta vez não é uma soprano, e sim um tenor. Estou no quintal do fundo com os cachorros e começo a ouvir aquela voz cantarolando exercícios vocais. Às vezes são trechos de ópera, mas normalmente são apenas exercícios vocais, sempre naquela voz grave e baixa, cuja amplitude varia entre vocalista do Type O Negative e Darth Vader logo depois de acordar.

E sabe o que é pior? Parece que apenas eu ouço.

Quer dizer, eu e os cachorros.

Estou no quintal do fundo e de repente começa aquele canto. Os cachorros levantam as orelhas, eu começo a olhar para o alto procurando de onde vem aquela voz que está cantando um trecho de ópera (às vezes, são trechos de Pagliacci, e eu começo a me perguntar se não deveria me ofender com isso)... E ninguém mais escuta nada.

E eu fico olhando ao redor, com cara de bobo, inconformado que ninguém mais está ouvindo.

Eu pensei em duas hipóteses. A primeira é a mais evidente: estou louco. Anos e anos pensando em histórias e crônicas e mundos paralelos começaram a cobrar seu preço. A segunda é que sou, na verdade, um super-herói, e meu principal inimigo, chamado Tenório, o Tenor, está me enviando mensagens numa frequência altíssima, que somente eu e os cachorros conseguimos escutar, mais ou menos como o Lex Luthor fez com o Super-Homem no primeiro filme. O problema é que como as mensagens são cifradas em canto lírico, eu não entendo direito o que o vilão quer.

Nota: ao reler este último parágrafo, eu cheguei à conclusão que a segunda hipótese nada mais que é uma prova cabal da primeira. Mas não sei se quero falar sobre isso.

O ponto é: apenas eu e os cachorros conseguimos escutar. E isso acontece o dia inteiro.

Mas, agora que estou terminando este texto, outra ideia surgiu em minha mente. E se for uma espécie de comunicação? Mas não como no caso do vilão, que quer apenas enviar um recado, mas sim uma espécie de contato alienígena?

Sim, eu sei, eu sei... Isso também reforça a hipótese da minha loucura, mas imagine por um momento que os habitantes do pequeno planeta Opereta – que, na minha cabeça, tem o formato do bombom – decidiram se apresentar aos humanos. Observaram o planeta em busca de um bom candidato para representar a Terra, e, como não acharam ninguém, decidiram que o prazo está ficando curto então vamos com que aquele baixinho que está soprando fumaça ali naquela casa, liguem a música e vamos ver como ele reage, olha ele está olhando para cima, acho que deu certo.

Claro que eu não sei as intenções desse povo. Afinal, o Opereta é um bombom meio neutro, que você come tranquilamente. Nunca é o primeiro que você pega na caixa (tipo Ouro Branco), mas também não é daqueles que ficam esquecidos durante meses (como aqueles bombons recheados com atum ou catupiry), então não sei o que esperar. Mas ao menos eu fico tranquilo ao lembrar que o Opereta não tem passas. Porque vamos ser sinceros aqui: uma espécie alienígena nascida num planeta feito de chocolate com passas certamente teria como objetivo destruir todos os outros planetas e seu passatempo seria enfiar sondas anais nos escravos capturados em guerras.

Não, os operetianos (que é como eu chamo os habitantes do planeta Opereta) não parecem agressivos. Então, me sinto seguro suficiente para tentar responder. A próxima vez que eu ouvir o canto, vou subir até a laje do quintal do fundo, encher os pulmões de ar e tentar estabelecer contato.

O problema é que eu conheço a letra inteira apenas dessa ópera aqui:


Espero, de verdade, não criar um incidente intergaláctico.

Um comentário:

Varotto disse...

Phoda!