10 de janeiro de 2012

O Engenheiro e a Bióloga


“Um pequeno passo para o homem
Um grande passo para a humanidade”

Em 20 de julho de 1969, o homem pisou na Lua pela primeira vez. O mundo parou para assistir Neil Armstrong deixando suas pegadas pela superfície lunar, mostrando que o satélite era mais sólido que os inúmeros poemas escritos sob sua luz poderiam ter indicado.

Mas, em um pequeno apartamento da Avenida Paulista, um poema em particular independia da Lua para ser escrito.

Era o apartamento deles.

Ele, engenheiro nascido na praia. Ela, bióloga nascida em casa italiana.

Quando o homem pisou na Lua, eles haviam se casado há pouco mais de seis meses. Ela já esperava pelo primeiro filho, e eles assistiram a tudo comendo sanduíches ali na sala da casa, que ainda estava sendo mobiliada e decorada.

Logo, o filho nasceu e o Brasil virou tricampeão. O bebê chorava de susto com os fogos qiue explodiam a cada gol da seleção. E, quando Carlos Alberto enterrou a Itália com um tiro de fora da área, ninguém imaginava que o Brasil ficaria anos e anos sem ganhar outra Copa.

Mas todos tinham a certeza de o Engenheiro e a Bióloga ganhariam títulos e mais títulos, em todos os dias que seguiriam, pois sempre jogariam juntos.

Logo, largaram o apartamento na avenida mais charmosa da cidade e fugiram para um bairro mais sossegado, para criar o filho com mais espaço e menos barulho. E, pouco mais de seis anos depois de ajoelharem no altar - uma época em que o mundo ainda era um lugar mais calmo e com menos correria – ganharam outro filho.

Agora eram quatro.

E, jogando juntos, o Engenheiro e a Bióloga venceram seu principal adversário: o tempo. Os dias viraram meses, os meses se tornaram anos. O mundo foi se tornando mais agitado, mas eles continuaram com seu ritmo, vivendo um dia de cada vez. E foi neste ritmo que deixaram os filhos crescerem.

Os natais foram passando. Os aniversários também.

Enterraram dois pais em menos de seis meses, e anos depois enterrariam uma mãe, uma irmã e um sobrinho. Enterraram animais de estimação. E sempre chorando pouco para poder enxugar as lágrimas dos filhos.

Enfrentaram falta de grana e decisões erradas, enfrentaram brigas e discussões. Mas sempre por amor. E tudo era superado, pelos dois, em nome dos quatro.

Os rostos começaram a mostrar rugas, os cabelos ganharam tons mais brancos.

Viram os filhos descobrindo que o mundo era maior que imaginavam. E estavam sempre ao lado deles; a cada música descoberta, a cada filme assistido, a cada livro devorado. Pois, mais que ensinar os filhos a ler e a escrever, a andar e a nadar, ensinaram os filhos a pensar e sonhar.

Os natais foram passando. Os aniversários também.

Os filhos cresceram e ganharam barbas.

Sorriam para os filhos quando estes se apaixonavam, consolavam os filhos quando seus corações eram partidos. Ensinaram os filhos a forma correta de amar e respeitar; mostraram aos filhos como tentar sempre fazer o bem e dar o melhor de si.

Vibravam a cada nota alta, a cada apresentação de teatro, a cada gol marcado. Choraram lágrimas de amor em formaturas, choraram lágrimas de amor em cada conquista. Pois cada conquista dos filhos era, também, deles.

Pois era somente com um amor incondicional e sincero que poderiam transferir para os filhos tudo o que possuíam de melhor. Um filho, eles presentearam com seu amor pelas ciências e pelos números. Ao outro, entregaram seu amor pelas artes e por contar histórias.

“Um se tornou professor; o outro virou escritor.” Mais uma rima do poema que começou a ser escrito antes mesmo do homem pisar na Lua.

Os natais foram passando. Os aniversários também.

E fizeram dois meninos se tornarem homens.

Homens que, como eles, nunca esqueceram a graça de ser criança para sempre.

E, décadas depois do homem pisar na Lua, o Engenheiro e a Bióloga ganharam um neto. Assim, voltaram a ser crianças de verdade. Tornaram-se crianças o lado do menininho que arrisca seus primeiros passos num caminho que manterá eterno tudo o que eles sempre foram, e fará com que o amor, que os uniu durante anos e anos, viva para sempre.

Pois se existe algo que eles ensinaram em sua história é que existe uma única maneira de amar: incondicionalmente, com respeito e para sempre.

Pois eles podem ter se apaixonado ao descobrirem gostos em comum e semelhanças. Mas foram as diferenças que certamente fizeram o Engenheiro e a Bióloga se amarem tanto.

Tanto e para sempre.


A Bailarina e o Homem Mais Forte do Planeta


(Dedicado aos meus pais,
que, nesta semana,
completaram 43 anos de casados)

41 comentários:

Anônimo disse...

Cara, você é fantástico!
Do jeito que você descreve, seus pais também são.

Não tive essa sorte de ter pais que se mantivessem unidos, ou mesmo que tivessem interesses comuns, que não fosse a educação dos filhos. Meus pais tinham outros interesses e outros valores, mas não são tão influentes sobre mim quanto seus pais são para você.

Muito amor e muitas felicidades pra eles e muitas inspirações e textos pra ti!

Como diz a @cintiamorares: mini chorei por aqui ;)

Grande abraço!!

Dudu disse...

Você é a cara do seu pai, mas com o sorriso da sua mãe. Acho que já te falaram isso antes, hehehe. Abraço e lindo texto.

Arthurius Maximus disse...

Meus abraços e beijos em ambos. Afinal, eles só podem mesmo ter algo muito especial. Se percebe isso pela maneira delicada e sensível que você os descreve e por você mesmo meu camarada. Afinal sensibilidade e criatividade só podem germinar se forem bem cuidados e bem acalentados desde a mais tenra infância.

Elise disse...

Eu poderia fazer minhas as palavras do @cmmmarcondes...
Esse texto ficou fantástico, fiquei mexida com essa história linda. Você tem MUITA sorte de ter pais tão unidos e tão cúmplices - sim, a palavra que melhor define minha impressão desse texto é cumplicidade.
Por gentileza, mande meus sinceros parabéns a esse casal tão lindo.
=)

Gilmar Gomes disse...

minha mãe e meu pai têm 30 anos de casados... meu sogro e minha sogra tem perto duns 40 tb... eu não consgui completar 5 anos no primeiro casamento.... essa juventude é phoda....

Gilmar Gomes disse...

eu ia escrever 30 e tantos... errei... se ele tivessem 30 anos de casdo eu seria mais jovem... heuheuhuehue

Natalia Máximo disse...

Derreti aqui, viu. As pessoas acham que só o amor basta. Não, ele é importante DEMAIS, mas tem que ter confiança, confidência, amizade, respeito, carinho. Os senhores Gordon aparentam transbordar tudo isso e, sem dúvida, têm muito para ensinar para a gente! Parabéns para eles e que venham muitos outros anos de casados!

(BTW, você é a cara da sua mãe!)

Renata de Toledo disse...

Ah, LINDO, Rob, que coisa mais linda, que presente, que.... que inveja (boa) da sua família linda, do amor que transpira e pinga do meu computador quando eu leio esses seus textos maravilhosos! Muitos parabéns para seus pais, por eles mesmos e por terem tido tanta competência na sua confecção.

@leandrodelucas disse...

Obrigado, por compartilhar histórias como essa e por expô-la tão bem com seu texto.

Varotto disse...

Épico! Parabéns.

E entre a bailarina e o homem mais forte do planeta, acho que só sobrou para você ser o palhaço (acho que você não daria uma boa Lily Braun).

Varotto disse...

Gomex, não precisa ficar atrapalhado com sua matemática. E eu, que assisti ao casamento dos meus pais com uns 12 anos?

Varotto disse...

Renata:

Sem querer manchar seu delicado comentário com minha rude falta de entendimento, mas ri muito aqui quando você disse:

"...do amor que transpira e pinga"

e eu, lendo na diagonal, entendi:

"...do amor que transpira pinga"

Caramba, ela está chamando os pais do cara de cachaceiros! :o)

Giovana disse...

Meus parabéns aos seu pais!
Uma história lida, um amor raro(nos dias de hoje), seu reconhecimento admirável e o texto emocionante...

Anônimo disse...

me emocionei !

Climão Tahiti disse...

Se conseguir chegar a 20 de casado serei vitorioso.

Parabéns aos seus pais, e a você que tem sorte de ser filho deles. =p

Unknown disse...

hahahahaa, Varotto, quem riu alto agora fui eu! Pior, parece que eu é que estava mergulhada na cachaça!!! Adorei sua leitura em diagonal, te perdôo! Ah, Sr e Sra Gordon, só para constar, eu não acho vocês cachaceiros!

Claudia Iarossi disse...

Linda homenagem!!
Com certeza a Bailarina e o Homem Mais Forte do Planeta orgulham-se demais do Escritor.

Parabéns!

Rob Gordon disse...

@cmmarcondes:

Cara, muito obrigado pelos elogios, em especial a respeito deste texto, que significou demais para mim!

E, a respeito de saber a sorte que tive por ter pais assim... Sinceramente? Eu penso nisso todos os dias da minha vida, sem exceção.

Muito obrigado mesmo pelo comentário!

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

Dudu:

Na verdade, todo mundo acha que eu - e meu irmão e meu sobrinho - somos a cara da minha mãe. Na verdade, do pai eu tenho a ausência capilar, o formato do queixo e a postura torta. O resto é tudo da minha mãe! Obrigado pelo elogio!

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

Arthurius:

Obrigado pelos cumprimentos. Mas algo em seu comentário me chamou a atenção: Certas qualidades precisam ser "germinadas e acalentadas" desde a infância. Gosto de pensar que minhas grandes qualidades vieram dos meus pais e de tudo o que aprendi com eles - os defeitos eu arrumei no caminho, por conta própria.

E já disse mais de uma vez para a minha mãe: "se eu conseguir educar meu filho com metade do que você me educou, eu ficarei muito satisfeito".

Abraços, irmão!

Rob

Rob Gordon disse...

Elise:

Tem razão. Cumplicidade define a vida dos dois. E o mais legal é que eles são muito diferentes em alguns aspectos, mas cada um respeita demais (e ama) o jeito do outro. Acho que todo casal deveria ser assim. Mandarei os parabéns para eles!

Obrigado!

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Gomex:

Mas aí entramos numa questão: eles foram criados de outra forma por serem de outra época, ou tiveram a sorte de cada um achar no outro a sua pessoa perfeita? Gosto de pensar nesta segunda opção, não apenas por eles, mas também porque isso deixa claro que cada um de nós pode construir algo deste tamanho.

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

Natalia:

Disse tudo. O amor não basta sozinho. É preciso sim estar acompanhado de tudo o que você disse, além de compreensão (não se pode respeitar o jeito do outro sem compreendê-lo) e generosidade. Uma pessoa egoísta não consegue amar; quando muito, se apaixonar até descobrir algo melhor ou mais interessante. Ou seja, sem generosidade, não há amor.

E, realmente, a cara da mamãe. :)

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Renata de Toledo:

Muito obrigado! Realmente, eles são pessoas que merecem ganhar os parabéns todos os dias - mas sabe o que é melhor? Eles não fazem questão disso, os "parabéns" deles são entregues por eles mesmos, um ao outro, em cada atitude ou momento juntos.

E não se preocupe com a "inveja boa". Ao contrário da outra, esta é bem benéfica!

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

@leandrodelucas:

Na verdade, eu que agradeço vocês, sempre, por lerem a história (e as histórias) da minha vida.

Muito obrigado, sempre, por isso.

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

Varotto:

Se alguém fosse pegar a referência da legenda da foto, seria você.

Valeu!

Rob

Rob Gordon disse...

Giovana:

Muito obrigado, de verdade. Mas confesso que é fácil demais escrever sobre o amor deles.

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Anderson Prates:

É normal. Meus pais são bons nisso, acredite!

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

Dragus:

Algo me diz que você chega, sim!

Abração!

Rob

Rob Gordon disse...

Varotto e Renata de Toledo:

Rindo alto com o papo de vocês aqui!

Rob

Rob Gordon disse...

Claudia:

Muito obrigado! Faço o melhor de mim todos os dias pensando nisso - como eu disse no Twitter, absolutamente tudo o que eu escrevo é um pouco para eles.

Beijos!

Rob

Camila disse...

Histórias assim são tão raras hoje que quando lemos é difícil não deixar a lagriminha escorrer no canto do olho.

Parabéns aos seus pais, Rob! Eles são realmente um exemplo.

Bjo

Rob Gordon disse...

Camila:

Obrigado. Mais que um simples exemplo, são o maior exemplo que eu tenho na vida, para absolutamente tudo.

Obrigado de verdade!

Beijos!

Kel Sodré disse...

Engraçado, né, Rob? Uns quatro anos atrás (ou um pouco mais), quando eu comecei a ler o Champ, ele era um blog com textos muito bons, de um cara que eu sabia só que era jornalista e que morava em São Paulo - mais especificamente, em Pinheiros. O tempo foi passando, o blog foi amadurecendo, você também, e hoje - veja só! - você tem um rosto, sua namorada também, seu sobrinho e até seus pais! E, com essas revelações, vai crescendo a sensação de intimidade, de compartilhamento, de proximidade.

Tenho a te agradecer um monte por dividir isso tudo com a gente, por dar rosto aqui no blog à senhora que pronuncia os "erres" do Galvão Bueno e ao senhor que curtiu com você todas as suas Copas do Mundo. Também agradeço por compartilhar a história da sua família, da vida de vocês. É preciso muita confiança pra isso.

Um enorme Parabéns aos seus pais pelo êxito pleno na tarefa de formar uma família, pela dedicação ao outro e a vocês (filhos e agora neto), à generosidade, ao altruísmo (necessário para ser bom pai ou boa mãe, bom marido ou boa esposa). É um prazer conhecer vocês.

Rob Gordon disse...

Kel:

Como a Ana disse - e eu já mencionei respondendo outro comentário - o Champ fez com que eu me tornasse uma espécie de Truman, com a minha vida sendo acompanhada por vocês.

Essa passagem de tempo que você citou... Sabe, hoje em dia é um pouco estranho para mim reler um post antigo do Champ. Eu me reconheço em todos eles, claro, mas minha vida era muito diferente (e o jeito e a qualidade do texto, então, nem se fala!), em quase todos os aspectos. Fazendo um paralelo com os "rostos que foram surgindo", o Champ pode ser apontado como meu "álbum de fotos", mas, ao invés de imagens, possui textos.

Mas é a história da minha vida que está aqui, e me sinto muito sortudo em poder compartilhar com vocês.

Como eu falo há muito tempo - e que ficou claro nos últimos 3 meses, em diversos comentários - eu tenho leitores diferenciados, que me deixam orgulhoso demais por lerem minhas histórias, minhas dúvidas e minhas certezas.

Muito obrigado e tenha certeza de algo: o prazer é todo nosso.

Beijos!

Rob

Ana Savini disse...

Demorou para eu comentar mas cá estou.
Na verdade, não comentei antes porque, assim como agora, não sei bem colocar em palavras o que tenho a dizer.
Mas sei que o que você sempre conta sobre eles não é exagero.
Exemplo de pais/avós. Exemplo de sogros. Exemplo de pessoas. Representam tudo aquilo que eu pretendo ser com você um dia, Luv.

Anelise Pereira disse...

Sempre acompanho teu blog, Rob!
Você escreve bem pra caramba!
Parabéns!

Rob Gordon disse...

Ana:

Modéstia à parte, com um exemplo destes, é só darmos tempo ao tempo. :)

Beijos

Rob

Rob Gordon disse...

Anelise Pereira:

Muito obrigado! Aguardo novas visitas e sinta-se à vontade para comentar sempre!

Beijos!

Rob

Juliana Santana disse...

Show de bola de história!

Rob Gordon disse...

Juliana:

Obrigado! Em meu nome e, principalmente, em nome deles!

Beijos!

Rob