3 de outubro de 2011

When Love Comes to Phone

Antes de começar escrever este post, eu preciso ensinar vocês a lê-lo de forma correta.

Porque eu nunca falei sobre isso aqui – apesar de ser uma piada recorrente na minha família e entre meus amigos – mas minha mãe não sabe pronunciar o “r”. Calma, acho que exagerei um pouco. Não sou filho do Cebolinha.

Na verdade, ela sabe, mas faz isso de um jeito só dela.

Como vocês devem saber, o “r” tem duas pronúncias. Como exemplo, vamos escolher as palavras “caro” e “carro”. No caso da minha mãe, o “r” de “caro” é pronunciado normalmente. Já o “r” de “carro” soa sempre como se ela fosse uma criança fazendo o som do disparo de uma metralhadora.

Ou seja, minha mãe não fala “carro”, ela fala (Dica: leia a próxima palavra em voz alta colocando a língua no céu da boca e imitando um motor sendo ligado) “carrrrrrrrrrro”.

Se você sabe meu nome (e meu sobrenome) verdadeiro, imagine minha mãe falando comigo e pode começar a rir. Eu espero aqui. E não fique sem graça, eu e meu pai imitamos o jeito que ela pronuncia meu nome o tempo inteiro. E ela morrrrrrre de rrrrrrrrrir.

Enfim, agora vocês sabem como minha mãe fala. Podemos continuar.

Não, antes disso, vale dizer que minha mãe é fã de Harry Potter. Apaixonada mesmo. Mas, por uma ironia do destino, ela não sabe falar o Harry. São “erres” demais para ela. O mais perto que ela é Érrrrrri. Érrrrrrri Potter e as Rrrrrrrrrelíquias da Morte.

Agora sim podemos continuar.

- Alô?

- Rrrrrrrrrob?

- Oi, mã.

- Tudo bem com você?

- Tudo. E você?

- Tudo? Foi ao médico?

- Fui sim.

(Neste momento, eu explico a ela tudo o que o médico falou, converso sobre minha incapacidade de dormir e o remédio novo).

- E você já comprou o rrrrrrremédio?

- Não vou comprar agora à noite, quando sair para jantar.

- Deve ser caro, né?

- Ah, com certeza.

- E a Ana?

- Está aqui comigo. Está no sofá lendo.

- Então seu anjo da guarda está aí. Eu fico mais tranquila.

- Não precisa se preocupar, mãe. Mesmo.

- Eu sei, Rrrrrrrrro. Mas eu fico preocupada mesmo assim, quero saber se você melhorou.

- Eu estou melhor, sim. Ainda tenho uns dias difíceis, mas a Ana me ajuda bastante com isso.

- Eu sei. Mande um beijão para ela.

- Ok. Ela manda outro.

- Ah, Rrrrrrrob, seu sobrinho está tão bonitinho! Ele aprendeu a sentar!

- Sério?

- Sim, ele senta no primeiro degrau da escada. Então, ele fica de costas para a escada e vai dando rrrrrrrrrré. Quando o pezinho dele encosta no degrau, ele se senta. Aí a gente aplaude, e ele fica aplaudindo junto.

- Ele é demais, mã.

- Mas aí ele gostou da brincadeira, gostou de aplaudir. Então ele fez isso umas trezentas vezes, e a gente teve que aplaudir as trezentas vezes.

- Saudade dele.

- Domingo você vem aqui?

- Não sei ainda, eu te ligo mais para o final da semana.

- Ah, seu pai veio me falar do texto do blog!

- Que texto?

- Aquele do comercial da calcinha. Ele me contou no almoço! Não sei quem dava mais rrrrrrrrrrrisada, ele contando ou eu ouvindo.

- Ah, ficou legal, né?

- Naquela hora que o homem fala que “se eu perder o emprego então, eu preciso colocar uma cueca nova para te contar a novidade”, seu pai até engasgava de tanto rrrrrrrir.

- Que bom que vocês gostaram.

- Eu pedi para ele deixar a página aberta que eu quero ler depois!

- Tá bom.

- Bom, Rrrrrrrrrob, você está bem, então?

- Estou, mãe. Pode ficar tranquila.

- Não esquece que estamos sempre aqui pra você.

- Eu sei, mãe. Obrigado.

- Não tem nada que agradecer, Rrrrrrrob.

- Tá bom. Papai tá bem?

- Tá sim. Tá mandando um beijo.

- Manda outro.

- E perguntando se você está bem.

- Fala que sim. E a vovó?

- Tá bem também.

- Manda um beijo para ela.

- Mando sim. Um beijo, filho. Qualquer coisa, me liga.

- Ok, mãe.

- Um beijo.

- Outro.

Esta foi uma das últimas conversas telefônicas que eu tive com a minha mãe. Últimas porque desde que recebi o diagnóstico oficial, ela me liga (pelo menos) três vezes por semana para saber como estou.

Mas o ponto não é esse. O ponto é que esta conversa telefônica, mesmo sem ter nada de especial, foi um dos pontos altos do meu dia, quando ela aconteceu.

E quando uma simples conversa telefônica com a sua mãe é um dos pontos altos do seu dia, isso pode significar duas coisas. A primeira: sua vida é tão sem graça que cinco minutos no telefone com sua mãe é o máximo de emoção que você consegue. A segunda alternativa: você tem a melhor família do mundo.

No meu caso?

Digamos que eu gostaria, todas as noites, de voltar a ser criança somente para viver novamente por todos os dias que estive ao lado deles.

Porque amor de verdade é sincero. Independente do número de “erres”.

33 comentários:

Beatrice disse...

Que lindo! :)
Ô coisa boa dessa vida é mãe né!

Renata Schmitd disse...

e agora eu lembrei do meu pai, rindo de vc imitando sua mãe. :)

Ana Savini disse...

E é a sogra mais fofa do mundo inteiro. <3

Bia Nascimento disse...

Ela deve ser uma linda =]

Natalia Máximo disse...

Família, mesmo com todos os defeitos >>>>>>>>>> qualquer coisa nesse mundo

E eu fiquei imaginando seu sobrinho batendo palminha, ele deve ser a coisa mais fofinha do universo *____*

Nelson disse...

Confesso que não consegui pronunciar seu nome com os erres da sua mãe. Difícil demais, hehe.

E ter uma família legal é um suporte imenso na nossa vida mesmo.
Com exceção dos meus avós, as pessoas da minha família moram em outras cidades, mas mesmo sem nos falarmos com muita frequência (ligação interurbana é cara), é uma delícia ouvir o pessoal, contar as novidades e ter a certeza que eles irão aparecer caso você precise. Don Corleone foi sábio quando valorizou a família :-)

grande abraço, Rrrrrrrrrrob.

Michele disse...

ô seu Rrrrrrrrrrrrrobi Gorrrrrrrrrrrrrrdon, agora fiquei com vontade de falar com a minha mãe... =/
(e fazem 10 anos q n posso mais)

mas aproveita ao máximo a sua mãe, aproveita pq (infelizmente) nada é p sempre e daqui uns 30 anos vc vai ler alguém falando da mãe deles e ficar com saudade da sua...

(espero q vc entenda o tom q tentei usar, q n é triste ou agourando nada... e sim alegre e feliz)

IsabelVeronica disse...

Pôxa Rob, você conseguiu me levar da risada às lágrimas em um único texto.

Ri muito dos erres de sua mãe e tomara que ela não fique brava com tanta gente aqui rindo. Rsrs

Chorei porque sou mãe, e somente eu e meu filho moramos aqui em Maceió, longe de toda a nossa família. Me deu a maior saudade do meu pai e da minha irmã. Infelizmente minha mãe não tá mais aqui e a saudade dela foi ainda maior.

Mas, olhe, tenha sempre a certeza que não existe amor mais sincero do que o da sua família.

Ah, e mande um beijo para a sua mãe.

Bjs!

Helga disse...

Chorei.
Tão bom ter família unida, é o que nos anima a levar em frente a vida nas horas ruins.
Beijão pra sua mamis, pra você, pra Ana e pro seu pai.
UFA, só faltou a Xuxa né?

Varotto disse...

Ela podia fazer dupla com o Galvão Bueno.

Imagine só o tamanho do RRRRRRRRRonaldinho que ia sair...

Silvia disse...

Rrrrrrob, eu concordo com a tua mãe, o texto do comercial tá de morrrrrrer de rrrrir. :-)

Trauti Lang disse...

Deve ser uma delícia ter uma família assim! É um privilegio :)

Rob Gordon disse...

Beatrice:

Acho que, no mundo inteiro, a única coisa melhor que "mãe", é a "nossa mãe". :)

Beijos

Rrrrrrrob

Rob Gordon disse...

RRRRRRRRR:

Eu não lembrava disso! Mas depois que você disse, eu lembrei e comecei a rir aqui também!

Beijos

Rrrrrrrrob

Rob Gordon disse...

Ana:

Se deu bem, né? :)

(L)

Beijos

Rrrrrrrrrrob

Rob Gordon disse...

Bia:

Sei que sou suspeito, mas é a melhor mãe do mundo.

Beijos

Rrrrrrrrob

Rob Gordon disse...

Natália:

Pior que eu ainda não vi a "brincadeira das palmas", mas estou morrendo de vontade de ir até a casa dos meus pais ou do meu irmão só para ver isso!

E família é demais, né?

Beijos

Rrrrrrrrrrob

Rob Gordon disse...

Nelson:

Dá uma lida no comentário do Varotto, logo abaixo do seu, ele tem uma explicação fantástica para falar os "erres" como a minha mãe.

E família é foda mesmo. Só de estar perto deles parece que tudo se arruma.

Abração, cara!

Rrrrrrrrrrrob

Rob Gordon disse...

Michele:

Não vou pedir desculpas por ter trazido estas memórias para você. Pelo contrário, quero agradecer você por ter compartilhado elas aqui no blog. Achei seu comentário lindo - e eu vi a alegria do tom dele.

Muito obrigado, de verdade!

Beijos

Rrrrrrrrrrrob

Rob Gordon disse...

Isabel:

Se eu consegui fazer você rir e chorar no mesmo texto, sinal de que consegui o que queria - ou melhor, o que sempre quero quando falo da minha família - que é emocionar de um modo alegre, pois, para mim, família é exatamente isso.

Sinto muito pela saudade que bateu aí, mas aposto que você sabe que é uma saudade daquelas que vale a pena ser sentida, pois, como o amor da família, ela é sincera demais.

E não precisa ficar preocupada com minha mãe ficar brava - ela já está acostumada comigo e com meu pai (mesmo com meu sobrinho em casa, eu e meu pai somos as verdadeiras crianças da família) imitando o "erre" dela o tempo inteiro.

E o beijo será entregue a ela!

Beijão!

Rrrrrrob

Rob Gordon disse...

Helga:

Família unida é uma coisa perfeita, né? Dou graças a Deus todo dia pela família que tenho. Beijos devidamente mandados!

Beijos!

Rrrrrrrrrob

Rob Gordon disse...

Varotto:

Você é um gênio - mesmo sem conhecer minha mãe, explicou o "erre" dela de uma forma perfeita!

Abraços!

Rrrrrrrrrrrrrob

Rob Gordon disse...

Silvia:

Que bom que gostou do texto do Chronicles! Obrigado de verdade!

Muita gente tem gostado também, mas quando meus pais gostam e comentam comigo, o orgulho multiplica por 1000.

Beijão!

Rrrrrrrrrob

Rob Gordon disse...

Del:

"Delícia" é a palavra exata! :)

Beijão

Rrrrrrrrrob

Irmão do Rob disse...

Ele pode falar o que quiser, mas eu sou o filho predileto. hahahahahaha


beijunda retardado....

Rob Gordon disse...

Senhoras e senhores:

O comentário acima foi feito pelo Klingon de estimação da família. Sim, eu convivi com isso, o que mostra que nem toda família é perfeita.

Irmão do Rrrrrrrob:

Beijão, Gorda.

Rrrrrrrrob.

Kel Sodré disse...

hahahahaha

Gente, deve ser alguma propriedade que se ganha quando se vira mãe: uma qualidade zoável! A da sua mãe é a dificuldade pra pronunciar os "erres". A da minha mãe é uma certa lentidão no pensamento, aliada a uma rapidez incomparável na língua. Ou seja, sem citar exemplos, já dá pra imaginar as situações em que ela se mete/coloca a gente. Citando um exemplo recente, basta dizer que ela me contou que meu tio fez uma "sobremesa de morango com ACETATO balsâmico". huashuashuashuas Mas, atenção, não é que ela não saiba a diferença entre uma coisa e outra. Ela apenas fala mais rápido do que pensa e isso rende material pra gente rir durante ANOS! kkkkkk

Mas acho que essa qualidade zoável é que também é a responsável por boa parte da ternura que a gente sente pela mãe da gente. Do tipo, basta lembrar dessa qualidade que a gente logo vira a cabeça e fala "ahhh... é o jeitinho dela"!

Como já disse um sábio, "mãe é mãe e vice-versa". hahaha

Bob Mussini disse...

Puxa vida,

Tudo ia bem... Li o texto numa boa até o fim. Lindo... bonito mesmo.
Daí, me imaginei no lugar da tua mãe lendo isso... e cai no choro.

QUe beleza Rob...

Abrrrrrrrrrrraço

Claudia Iarossi disse...

É, família é o nosso alicerce.
Tudo de bom quando são assim como seus pais.

Beijos a essa família cheia de amorrrrrrrrrrr.

Beijos

Rob Gordon disse...

Kel:

Ri alto com seu termo "qualidade zoável". Mas é verdade, parece que toda mãe ganha isso, e (de novo), é verdade que isso vira a marca registrada delas da melhor forma possível! Obrigado pelo comentário! :)

Beijão

Rob

Rob Gordon disse...

Bob Mussini:

Como eu disse para a Isabel, a ideia era justamente fazer vocês, leitores, rirem e chorarem (de emoção, não de tristeza) pois, para mim, isso é família.

Que bom que gostou!

Abração!

Rob

Rob Gordon disse...

Claudia Iarossi:

Você definiu maravilhosamente bem: "família é o nosso alicerce".

Um beijo pra vc também!

Rob

Anônimo disse...

Cara,

eu tava folheando seu blog aqui de novo, me deparei com esse texto, comecei a le-lo e meus olhos marejaram, só não chorei porque estou na empresa e tem três advogados na mesma sala que eu. Meus pais separaram em 2004, isso é algo que me dói todo dia na vida, machuca muito, eles casaram de novo em 2007, chorei feito criança no casamento, abracei meu pai e minha mae e os implorei pra nunca mais se separarem, eles choraram juntos, meus irmãos também, aí então, no final de 2008, eles separaram de novo, e isso continua me doendo, mesmo depois de 4 anos isso me dói. Não sei porque tive essa vontade absurda de chorar ao ler esse texto, se apesar de separados não falta amor, mas ouvir minha mãe dizer que meu pai me manda um beijo acho que seria o ponto alto da minha vida de novo. O valor que aprendi a dar à uma família é inexplicável, está acima de qualquer outra coisa, eu te entendo, com uma perfeição que eu até não gostaria de ter. Espero que as coisas estejam melhorando pra você cara, tenho te acompanhado há muito tempo. Força!