13 de outubro de 2011

Presence of The Lord

Ao sair do estádio do Morumbi, não pude deixar de perceber a decepção no rosto de muitas pessoas na plateia.

Antes de continuarmos vale dizer que se existiu um problema no show de Eric Clapton em São Paulo foi a escolha do local. O espetáculo é intimista demais para o Morumbi. Os problemas no som eram horríveis nas duas primeiras músicas, ao menos para quem estava nos anéis superiores. Além disso, a música de Clapton, num local monstruoso como este, perde parte da personalidade em alguns momentos. Update: a Marina, minha companheira no roteiro de TerapiaHQ, criticou bastante q qualidade do som, e eu dou total razão a ela a respeito disso.

Mas a visível decepção de boa parte das pessoas não se devia ao Morumbi. Afinal, mesmo com duas horas de show, Eric Clapton abriu mão de grandes clássicos, como Bell Bottom Blues e Sunshine of Your Love, investindo em músicas mais pessoais e até mesmo arriscando um arranjo totalmente novo para sua música-assinatura, Layla.


The gypsy woman told my mother
Before I was born
I got a boy child's comin'
He's gonna be a son of a gun



Antes de falar do show, é preciso discorrer um pouco sobre estas pessoas. Atualmente, qualquer espetáculo de um “astro do rock”, especialmente no Morumbi, torna-se mais um show. É um evento social, que atrai toneladas e mais toneladas de roqueirinhos e roqueirinhas de shopping center. Deixou de ser música para se tornar um flash mob. As pessoas vão apenas para falar que foram.

Você conhece o tipo: veneram publicamente um artista consagrado sem sequer conhecer sua obra, somente porque ele é considerado importante. Falar bem dele traz pedigree à sua imagem de “roqueiro”. E, na semana do show, se tornam os maiores “fãs” do sujeito, escolhendo a dedo dois ou três grandes sucessos e decorando cada verso e acorde. Afinal, é preciso saber cantar ao menos as principais músicas para mostrar a todos ao seu redor o quanto você “sempre” foi “fã”.

Assim, passa dois ou três dias falando somente no artista, aos amigos e na internet, para deixar claro a todos que irá ao show porque é roqueiro; e os dois ou três dias seguintes ao show falando o quanto o espetáculo foi maravilhoso, para deixar claro que foi ao show porque é roqueiro.


He gonna make pretty women's
Jump and shout
Then the world wanna know
What this all about


Já nos shows, o figurino é sempre o mesmo. Montado em lojas de departamento ou de grife, normalmente com blusinhas estampadas com caveiras cercadas de brilhantes, que descobriu em blogs de moda. Isso, claro, para as meninas; os garotos estão sempre com jaquetas rasgadas e camisetas do último show que foram – é a forma de mostrar que aquele não é o primeiro show de sua vida.

Se você conhece alguma pessoa assim, preste atenção nos comentários destas pessoas e você verá que ela usa sempre os mesmos adjetivos e elogios (normalmente vazios) em conversas e nas redes sociais para descrever como os shows nos quais ela foi foram ma-ra-vi-lho-sos. Muitas vezes não é falta de vocabulário, é piloto automático mesmo. Afinal, é preciso mostrar o quanto curtiu o show, pois precisa zelar pela sua imagem de roqueiro.

Já Eric Clapton não tem imagem nenhuma a zelar – e é isso que deve ter decepcionado imediatamente todas estas pessoas que estavam no Morumbi com suas roupinhas de roqueiro de butique e o refrão de Layla cuidadosamente decorado.


But you know I'm him
Everybody knows I'm him
Well you know I'm the hoochie coochie man
Everybody knows I'm him



Porque Eric Clapton não é – ou, melhor dizendo, nunca foi – um astro do rock. Claro, sua importância dentro da história do rock é inegável e isso pode passar uma imagem errada de sua persona. Mas Clapton é, antes de tudo, um músico, e não um astro. Em seus shows, concentra-se totalmente em sua guitarra, em sua banda e em sua música. E só.

Vítima de uma timidez lendária no mundo da música, grita um “thank you” ao final de algumas músicas – e esta é sua única interação com a plateia. Seu show não tem a pirotecnia de outros espetáculos vistos recentemente no Morumbi, baseando-se somente em sua música – o maior exemplo é sua entrada no palco: caminha lentamente, com uma roupa que ele provavelmente usa dentro de casa (calça, camisa e sapatos) acena para a plateia, pega a guitarra e começa a tocar. Pois ele está lá para isso.

Para os roqueirinhos e roqueirinhas que queriam mais um “grande show em seu currículo” para matar os amigos de inveja e parecer cool, isso já tornaria o espetáculo do inglês numa experiência difícil. Mas, para elas, este é apenas o primeiro grande “problema” de Eric Clapton.


I got a black cat bone
I got a mojo too
I got the Johnny Concheroo
I'm gonna mess with you


O segundo – e muito maior - é que, cerca de quinze anos para cá, o guitarrista abandonou totalmente sua carreira de roqueiro e concretizou seu grande sonho, tornando-se aberta e declaradamente um músico de blues.

Em sua biografia, Clapton deixa claro que tocava rock (mesmo com arranjos de blues) porque era o que se tocava à época em Londres, mas seu sonho sempre foi tocar blues “de raiz”. No livro, ele reverencia o tempo todos os grandes nomes do gênero (Muddy Waters, Robert Johnson), praticamente pedindo desculpas por ter mais reconhecimento público que seus ídolos.

E, de dez ou quinze anos para cá, ele assumiu totalmente seu lado blueseiro: gravou um CD com BB King, outro somente com covers de Robert Johnson e investe cada vez mais no seu festival Crossroads.

E este é o Eric Clapton que se apresentou em São Paulo, causando um enorme ponto de interrogação em muitas pessoas da plateia que conhecem a carreira do músico somente superficialmente, muito mais pela mídia do que pelos discos em si.


I'm gonna make you girls
Lead me by my hand
Then the world will know
The hoochie coochie man



Mas não foi por falta de aviso. Já na terceira canção, Hoochie Coochie Man, música de Willie Dixon que se tornou um dos maiores hinos do blues de todos os tempos na voz de Muddy Waters, ficava claro que a noite seria diferente do que estas pessoas esperavam. Para o desânimo das pessoas com camisetas de caveirinhas fofas e botinhas de marca, começou a se desenhar que o Morumbi serviria de palco para um show de blues, e não de rock.

Momentos depois, uma pausa no show que confirma toda a áurea blueseira do espetáculo. Clapton senta-se em um banquinho e começa toda uma parte acústica, abrindo com Driftin’ Blues (composta por uma big band dos anos 40) e a maravilhosa Nobody Knows You When You're Down And Out (que, apesar de estar no disco Layla and Other Assorted Love Songs, é um cover – foi composta na década de 20).

A noite fria definitivamente não é de rock, é de blues. E o frio em São Paulo contagia boa parte da plateia, que apenas assiste ao show, esperando pelo Clapton "herói do rock" construído pela mídia, que parece não ter entrado no palco.


But you know I'm him
Everybody knows I'm him
Oh you know I'm the hoochie coochie man
Everybody knows I'm him



E ao final deste set acústico ocorre o momento crucial do show. Ainda sentado, mas já com sua Fender de volta aos braços, Clapton inicia Layla. Era a música que faria o estádio vir abaixo. Contudo, o que se viu foi certo receio das pessoas em aplaudir, talvez por não reconhecerem o que estavam ouvindo.

Com um arranjo totalmente novo – que fica entre a versão acústica do Unplugged de 1992 e a original, Clapton transformou seu hit num blues amargurado e dolorido, que teria palco mais adequado numa espelunca à beira de estrada no Mississipi do que no palco do Morumbi. Pessoalmente, achei a versão tão boa quanto a original – e só não me arrisco a dizer que ela é melhor em alguns momentos já que a original tem seu status de clássico esculpido em pedra.

Mas foi o momento-chave do show e que talvez simbolize toda a carreira atual do músico. Ali, Clapton abandona definitivamente sua carreira no rock, “sacrificando” até mesmo seu maior sucesso em nome de paixão de sua vida: o blues. O rock ainda existe em seus shows, mas sua alma é definitivamente negra e nascida no sul dos Estados Unidos.

Mesmo sabendo a letra de cor e salteado, não consegui cantar junto. E não por não estar acostumado ao ritmo novo, mas sim por me emocionar demais com a voz gritada do músico implorando “please don’t say we’ll never find a way” para um Morumbi lotado, a ponto de eu quase engasgar em alguns momentos. Eu já havia quase chorado durante o solo de Old Love, somente pelos acordes em si, pois a música não é especial para mim. Coisa de momento.

Coisa de blues.


On the seventh hours
On the seventh day
On the seventh month
The seven doctors say


Aí, sim, temos alguns momentos de rock para que as pessoas de blusinhas fofas e maquiagem no rosto possam contar para os amigos. Quer dizer, rock? Talvez não. A sequência vem com Badge, composta pelo supergrupo Cream, cuja carreira era totalmente baseada no blues americano da primeira metade do século 20; Before You Accuse Me, cover de Bo Diddley, que sempre teve o pé fincado no blues; e a magistral Little Queen of Spades, cover de ninguém menos que Robert Johnson, o mais lendário nome da história do blues e um dos maiores ídolos de Clapton – e de basicamente todos os guitarristas ingleses dos anos 60.

Em meio a tudo isso, Wonderful Tonight, uma das baladas mais belas do guitarrista; e, fechando a primeira parte do show, mais um pouco de “rock”: Cocaine, um dos maiores sucessos da carreira de Clapton – na verdade foi composta pelo seu parceiro J. J. Cale – que ganhou uma versão monstruosa e magistral de oito minutos e encerrou o show como a única música cujo refrão (fácil e curto) foi cantado junto pela plateia.

Após poucos minutos de intervalo, Clapton e a banda voltam ao palco ao lado de Gary Clark Jr, guitarrista texano responsável pelo show de abertura. Considerado o grande nome atual do blues texano, o guitarrista foi apadrinhado por Clapton e chegou a participar do grande festival Crossroads, organizado, pelo inglês, na edição de 2010.

Com todos os músicos no palco, o encerramento definitivo. A versão do Cream para Crossroads, um dos maiores sucessos de Robert Johnson. Agressiva, roqueira, pesada... Mas mesmo assim, um blues em sua essência, e ideal para fechar a noite. Clapton se despede do palco de forma humilde.

Fim.

He was born for good luck
And that you'll see
I got seven hundred dollars
Don't you mess with me


E, ao ver aquela pequena figura vestindo azul caminhando de costas para fora do palco – de onde estava, acompanhei todo seu percurso até ele desaparecer de vista – eu percebi que estava sem palavras. Sem palavras e um tanto quanto emocionado.

Porque nesta noite eu aprendi muito com o blues, vendo algumas de minhas músicas preferidas ao vivo pela primeira vez. O blues é safado em Hoochie Coochie Man, mas dói em Layla; o blues é solitário em Nobody Knows You When You're Down and Out e briguento em Before You Accuse Me. O blues se apaixona em Little Queen of Spades, mas escolhe culpados por ter perdido o amor em Tearing us Apart.

Mas, ao final, o blues admite que não existe resposta para tudo, como Clapton deixou claro ao encerrar seu “discurso” de duas horas com a enigmática e quase hipnotizante Crossroads.

Neste 12 de outubro, eu não tive uma aula de blues. Eu tive uma aula de vida.

Aliás, me arrisco a dizer que a apresentação de algumas horas atrás não foi um dos maiores shows de blues que certamente terei em minha vida, mas um dos maiores que já aconteceram na cidade de São Paulo.

Pena que nem todos entenderam isso. O espetáculo foi difícil e intrincado, intimista e pessoal demais. Mas esteve longe de ser decepcionante. Na verdade, é o contrário. Foi mágico. Pois se tratava de Eric Clapton tocando para Eric Clapton, do jeito que ele sempre quis. E isso é algo que não tem preço, tanto para ele como para a plateia.

A apresentação de horas atrás foi feita para se sentir, digerir lentamente e guardar com você, do seu jeito. E mais nada. Porque foi, antes de tudo, um show de blues.


But you know I'm him
Everybody knows I'm him
Well you know I'm the hoochie coochie man
Everybody knows I'm him


Ontem, Deus esteve entre nós.

Bem aventurados aqueles que entenderam as palavras do Senhor.

Pois é graças a ele (e à sua alma negra) que “I feel wonderful today”.


O universo musical de Eric Clapton.
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45 comentários:

Richard disse...

Rob,


Sei que não há comparações, mas tive a mesma sensação quando fui ao show do Marcelo Camelo esse ano. Ele veio a Maceió com a mesma vontade de mudar. Sair do Rock e entrar no mítico MPB/Rock/Blues ou tudo junto e misturado, mas bem ao seu estilo.

Eu adorei o show, fui vê-lo, peguei autógrafo, mas percebi um montão dessas pessoas que você comentou esperando ele cantar Ana Júlia ou de repente o Rodrigo Amarante aparecer do nada e dizer que era só brincadeira, que Marcelo Camelo ainda era do Rock.

Você ainda me influenciando muito em relação ao Blues, conheço pouco, mas estou me apaixonando.

Abs!

Camila disse...

Eric Clapton não é modinha. As músicas dele não tocam juntamente com os pop hits do momento. Eu penso que os fãs de Clapton têm gosto mais refinado; não buscam pirotecnia, efeitos especiais ou surpresas. Eles vão ao show para ver Clapton tocar - e só isso já é espetacular.

Sobre o local do show, mesmo não tendo comparecido ontem, concordo com você. Assim que o show foi confirmado, estranhei a escolha do Morumbi, que claramente não é um lugar pra esse tipo de evento. O estádio é ótimo para shows de bandas como U2 ou artistas como Paul McCartney, mas Eric Clapton pede um espaço mais fechado, íntimo. Estranha essa escolha.

Deve ter sido um show incrível, Rob. Eu, infelizmente, perdi, mas tenho certeza que foi muito bom. =)

Karina disse...

Não entendo tanta distinção. Para mim o rock sempre foi uma espécie de irmão mais novo do blues. E o Clapton (junto com o Cream e, mais recentemente, o Blues Traveler, Dave Matthew's, e todas essas bandas de rock -jam band) o irmão do meio. Tudo da mesma família. E só insistir no chavão: Clapton is God.

Varotto disse...

É isso aí camarada. P no C do sistema!

Coincidentemente, esta semana completaram-se 21 anos do último show de Clapton a que eu assisti. Mas como foi na fase pré-From the craddle, deve ter agradado mais ao pessoal da butique.

Não fui ao show aqui do Rio porque não tenho me animado muito a ir a shows, de uns anos para cá, mas disseram que foi muto bom.

Engraçada essa coisa da falta de produção. Lembro sempre do primeiro DVD do David Gilmour. Se você diz que o Clapton estava usando as roupas que vestia em casa, o Gilmour estava usando as roupas que tinha vestido para dormir antes do show. A camiseta chegava a estar toda a amarrotada. Como pode?! (roqueirinho de butique mode: ON).

Mas tenho de confessar, me arriscando a tomar pedrada, que sempre achei Wonderful Tonight muito chatinha.

P.S.: E ligando o modo chato detalhista. Só para não deixar de comentar, quando você diz que "havia quase chorado durante o solo de Old Love, somente pelos acordes em si", na verdade, um acorde é um conjunto de 3 ou mais notas tocadas ao mesmo tempo. Então o que te fez chorar foram as notas mesmo... ;o)

Renata Schmitd disse...

eu disse que valeria a pena. :)

Fagner Franco disse...

Incrível como descreveu bem o tipo de pessoa que vai aos show para dizerem que foram. É cada dia mais frequente isso, cada diz mais gente que faz isso. Gente que nem sabe do que gosta, mas sabe do que deve gostar e não se importa em resolver "gostar" uma semana antes do show e aprendem a letra, não o que a letra diz. Sabe que é influente, mas não sabe porque e nem o que influenciaram. É um bando de gente sem personalidade. Sem querer soar "revoltadinho", mas é a verdade.

Sou do tipo que sabe de algumas pessoas importantes na música, rock, blues ou qualquer coisa, e sei, mais na teoria que na prática, que Clapton é um deus do blues. Mas não finjo amá-lo, apenas respeito. E muito. Ele é do tipo que quando escuto ou vejo tocando em algum lugar, eu paro e escuto - e não raro babo. Claramente domina a guitarra. E é do tipo de músico que, mais do que mostrar que sabe, ele quer tocar música lindas no sentido mais real da palavra. Coisa rara hoje em dia. As pessoas pensam que devem tocar mostrando que sabem, independente de estar bonito. "Olha como eu toco rápido", "olha como soa dissonante" e coisas do tipo são as maiores preocupações.

Amo "Layla", é verdade. E conheço algumas sem saber o nome e tudo que conheço, eu gosto. Cacete, estou falando demais. Ok, acho que é só - aliás, não é, mas vou parar por aqui.

Abraço, rapá.

Gaudio disse...

Fala Rob! Adorei o seu post! Eu costumo comparar o Eric Clapton para os meus amigos como um vinho que vai ficando melhor e melhor conforme o tempo vai passando. Se no início ele é ácido e forte como o rock, no decorrer do tempo ele se torna mais doce e melancólico (ou melan-alcólico, desculpe pelo trocadilho) como o blues.
O Mestre Clapton conseguiu me ensinar que o blues nada mais é que o amadurecimento do rock e só com essa noção de ideia que eu fui preparado para o show.
Eu tive a sorte de pegar um bom lugar e, bem, o som estava perfeito é verdade, mas eu sei que no show do U2, quem pegou lugares longes do palco foi prejudicado pela acústica do estádio, palavra de quem também estava lá.
O Clapton me levou a knockdown depois de três músicas... Old Love foi pesado demais pra segurar e uma música com quase 10 minutos de duração me fez lembrar porque ele é um gênio se renovando a cada solo que faz.
Gostei do respeito que ele tem com o público, pela sua pontualidade, pela sua energia de ligar uma música na outra, quase me deixando sem folêgo e com certeza por ainda amar tocar música.
Layla em sua nova roupagem bluesística ficou bacana demais! No meu entender um senhor de 66 anos não pode ter a mesma paixão com energia de rock por um amor tão distante. O jeito blues de tocar Layla pra mim foi aquela visão antiga e melancólica por uma amor que já passou há muito tempo, perfeito.
Bom ficou gigante o comentário, mas é isso! Foi o melhor show da minha vida! Esperei a vida inteira pelo mestre vir para o Brasil e a oportunidade veio!
Ah, e feliz dia das crianças pra nós! Clapton me fez sorrir como criança nos solos e acho que fez isso com você também!
Abraços Rob!
PS: Um pai levou o filho para assistir o show e estavam sentados do meu lado e logo depois do riff final de Key To The Highway, primeira música do show, ele se virou para o filho e disse:
-Tá vendo? Isso é que é tocar guitarra!
O filho sorriu e respondeu que gostou. Pra mim foi a melhor cena do show.

Natalia Máximo disse...

Pela descrição das pessoas, você se deu mal no setor em que estava, não? Lá na coberta vermelha - setor em que dei sorte de parar - todos estavam como eu: hipnotizados. Em Tell The Truth, o solo dele já queria me fazer chorar de tão emocionada que fiquei. E olha que era só a segunda música da noite. Pra mim, estar presente nesse show foi uma oportunidade de ver história sendo feita. Não sou profunda conhecedora do trabalho do Eric, muito menos de blues em geral; acho que é um estilo que "exige" uma maturidade que eu ainda não tenho. Mas a noite de ontem foi muito marcante pra mim e foi uma honra ver Deus agindo ali no Morumbi.

Natalia Máximo disse...

BTW, não senti nenhum problema no som onde estava, mas, realmente, vi muita gente reclamando mesmo.

Gabi Romeiro disse...

Eu tinha feito um BAITA comentário aqui carinhosamente comendo teu rabinho, Rob, mas o blogger apagou. HUAHUAHUA
Vou de novo só pq to bem brava.
O minha sapatilha era a mais brilhante do Morumbi e eu só não fui com minha camiseta de caveira com brilhantes porque não combinou.
A maquiagem estava impecável sim, obrigada.
E não é por eu ser perua que eu não entenda algumas coisas.
Se deixar levar pela roupa que a pessoa usa é algo muito traiçoeiro, Rob... Talvez seja uma experiência mais enriquecedora se deixar surpreender pelas pessoas.
Entendo que muitos vão a shows por modinha, pra mostrar que foram, mas não sei se nós, amantes da música, estamos tão na moda assim (pra que as pessoas queiram se passar por nós, sabecumé).
E mesmo que sejam, será que durante a versão mega bluesy de Layla (que eu achei linda, doída do jeito que um 'you got me on my knees' deve ser), essas pessoas que não são apaixonadas por música não fecharam os olhos, nem que seja por alguns segundos, e sentiram tudo aquilo?
Concordo que o show tinha um clima mais intimista, mas QUE BOM que um cara como o Eric Clapton bota tanta gente no Morumbi.
Que mundo triste se apenas o Justin Bieber o fizesse.
E como boa fã de Led Zeppelin que sou, também não vejo essa separação enorme entre Mississipi e Londres, if you know what I mean, mas isso é conversa pra mesa de bar...
Peruas também amam, Rob.

Pri disse...

Acho incrível como certas pessoas simplesmente se recusam a sair da adolescência e da superficialidade, sem conseguir sentir o que é música. Sinceramente não conheço nada do Eric Clapton, não por nada, apenas por não conhecer, mas pelo texto percebe-se quão profundas e especiais são suas músicas, deu até vontade de ouvi-lo.
Referente às roupas e tudo mais entendo o que quis dizer, mas também concordo com a Gabi, pois nem sempre as pessoas são aquilo que aparentam e, certamente, "peruas também amam"!(mesmo não sendo perua!).

Hally disse...

Eu fico bem de cara com esse tipo de coisa... Com os preços dos shows hoje em dia, só coxinha (leia-se filhinho de papai que tem tudo de bandeija) consegue fazer listinha de shows que foi. Aí a gente que é fã de verdade, mas trabalha e se fode pra escolher qual o show do ano que vamos, ficamos sem poder ir nos que interessam de verdade (vide AC/DC que eu perdi).

Aí você pergunta pro cara qual é a música preferida dele. Ele responde com a mais famosa. Aí você pede outra, e o cara não sabe o que responder...

Mas, me diga, ele não tocou Tears In Heaven? (BRINKS AMG hehehehe)

Marina disse...

Olá companheiro de roteiro! Bom, em primeiro lugar, grande honra ser citada neste texto super especial!

E eu não podia não comentá-lo, até porque, com certeza, a primeira cara de decepção com a qual você se deparou foi a minha! Rs!

Tenho alguns motivos muito pessoais para ter me decepcionado com esse show (te explicarei na reunião do roteiro do capítulo 3!), e outros não tão pessoais assim, como o som. Estive em vários shows no Morumbi, sempre na arquibancada, e o som foi diminuindo de volume ao longo dos anos. Isso é muito perceptível. Até o U2, que em 2006 quase derrubou a arquibancada, decepcionou nesta última vez.

Enfim, a questão de ontem, além do som, foi a impressão de que este show foi montado pensando apenas na pista. Até os telões estavam baixos, além de serem minúsculos!
E, por essas e outras, eu concordo e assino embaixo que o Morumbi não combina com Clapton.

Não sou entendedora de blues, embora o estilo me agrade profundamente. Não sei nome de quase nenhuma música, como você percebeu (rs!), mas sei a importância desse cara para a música mundial e não ia perder isso por quase nada no mundo! Mas eu fui ao show esperando sentir a vibração dos acordes fazendo a arquibancada tremer, fui esperando sair com o ouvido zumbindo, e fui esperando rir, chorar, me emocionar, e sair com a certeza de que fiz parte, só um pouquinho, da história da música! Mas não foi o que aconteceu. Se vou a um estádio assistir a um show, o mínimo que espero é escutar a música. Entretanto, o que ouvi foram as conversas das pessoas que estavam em volta... especialmente aqueles carinhas que estavam atrás da gente! Eles se enquadram perfeitamente no seu post, pois conversavam a música inteira, e, na hora de aplaudir, gritavam e aplaudiam como se tivesse sido a coisa mais linda que já viram. E eles não ouviram nada. Garanto.

Fiquei decepcionada porque me emocionei muito mais ao assistir a um show do Clapton na Tv, com o home theater bem alto, do que ontem! É um efeito da física (inclusive é o mecanismo da nossa audição): a música vibra, o ar vibra, as coisas vibram, você vibra, e você sente. E poxa, sentir a música é muito melhor do que racionalizar a letra. E sentir o que Clapton tem a dizer é, de fato, uma lição de vida. Mas o que senti ontem foi outra coisa, bem mais corriqueira: falta.

Kel Sodré disse...

Tem umas coisas na vida que acontecem e que são uma lástima. Ópcever (pede pro @otaviocohen ler essa palavra que ele sabe como pronunciar corretamente e sabe o significado também), o Eric Clapton conseguiu o que os músicos querem: sucesso e reconhecimento pelo seu trabalho. E, consequentemente, veio a fama. Só que aí, anos e anos depois de uma carreira sólida já formada, ele se vê impedido de fazer um show para 400 pessoas em um café, que traduziria muito mais a vibe do momento artístico que ele assumiu de uns anos pra cá. Porque ele é o ERIC CLAPTON e, se for se apresentar, tem que ser pra público de 5 dígitos. Mesmo que grande parte das pessoas que estarão nesse show não compreendam o momento, nem conheçam a fundo a obra, nem vão apreciar completamente o espetáculo por verem suas expectativas frustradas. Isn't it ironic?

.a que congemina disse...

Engraçada

Confesso que senti falta de Bell Bottom Blues, porque é das minhas favoritas. E ter ficado muito longe do palco obviamente esfria um pouco a coisa, mas não me impediu de realmente chorar em Old Love, de querer mexer em Tearing Us Apart e de sorrir hipnotizada praticamente o show todo. E quando acabou Crossroads me senti meio vazia.
Concordo que esse show pedia uma casa menor, mais intimista, mas Clapton não é deus à toa. Ele pode o que quiser. :)

Rob Gordon disse...

Richard:

É engraçado como são poucos artistas que têm esta coragem de mudar deste jeito, e ainda conseguem fazer isso com qualidade. Não gosto de Los Hermanos, mas respeito a coragem dele em tentar se reinventar totalmente como artista.

Quanto ao blues, mergulhe fundo sem medo, é muito bom. Mas vá com calma: existem músicas (especialmente as mais antigas) que são bem complicadas num primeiro momento, tanto pelo estilo (violão e voz, muitas vezes desafinada mesmo) como pela qualidade da gravação (chiados, pulos). São coisas extremamente importantes (como Robert Johnson, Blind Lemmon Jefferson, Lead Belly e Charley Patton) mas é preciso estar com o ouvido mais treinado para ouvir e e compreender.

Eu mesmo, quando descobri Robert Johnson, deixei de lado por um tempo - achei estranho demais, e tive medo de "estragar". Só depois de meses e meses ouvindo blues fui chegar perto de novo, e aí me soou não apenas natural como absurdamente genial.

Se precisar de algumas dicas e sugestões de nomes, só gritar aqui.

Abraços

Rob

Rob Gordon disse...

Camila:

Justamente. Como eu disse, muita gente estava esperando os clássicos, o que é normal; mas muita gente queria ouvir apenas Tears in Heaven e (provavelmente) Change the World.

Já os fãs mesmo - ou mesmo quem conhece Clapton mais a fundo - não esperavam nada além do que ele quisesse tocar, sabendo que seria uma aula, não de rock, mas de música.

Assim concordo com você: Clapton não é modinha - e nunca foi. O problema é que shows de grandes nomes do rock (especialmente no Morumbi) se tornaram modinha. Uma pena.

Que pena que você não foi. :(

Beijos

Rob

Varotto disse...

Na verdade, a história do Zepp é pródiga nessa coisa de tomar emprestado sem creditar, mas, na maior parte das vezes, valia a pena só pelo que eles faziam com a música.

Já falando de covers de blues do Zepp, entre os muitos, sugiro escutar "In My Time of Dying", do Physical Graffiti (canção tradicional, gravada pela primeira vez por Blind Willie Johnson, em 1927).

Rob Gordon disse...

Ok, fiz uma lambança com os comentários aqui (respondi o comentáriio de uma pessoa com o nome de outra) então este comentário do Varotto ficou meio solto aqui. Vou respondendo tudo de novo, e aviso quando o comentário for lido com mais sentido.

Sorry about the mess!

Rob

Rob Gordon disse...

Karina:

Concordo totalmente com você, quando você afirma que o rock é irmão mais novo do blues. Mas o Clapton faz um caminho contrário, ele, por ser apaixonado pelo blues de raiz, não partiu disso para tocar rock e progredir nisso - ele voltou totalmente ao blues que sempre quis tocar. Suas músicas (ao menos, algumas) ainda tem a roupagem do rock, mas se tornaram blues puros. Mas concordo que muitas vezes é difícil distinguir um gênero do outro, especialmente nas canções dos anos 50 - o grande exemplo é chuck Berry, reconhecido como roqueiro, mas que gravava pela Chess, o mais famoso selo de blues.

Beijos

Rob

Varotto disse...

Ih, ó o cara, aí...

Rob Gordon disse...

Varotto:

Antes de mais nada, valeu pelo toque sobre os acordes. Não entendo picas de teoria musical.

Mas vamos ao Clapton: acho que o show do Rio ganhou em espaço (foi numa casa de shows) mas perdeu pelo preço (pelo que vi, foi caríssimo). Mas ainda acho que é um espaço mais adequado para este tipo de som. Enfim...

Quanto ao Gilmour, ele sempre foi meio podrão, né? Bom, o apelido do cara era Dirty Dave, não tem muito o que argumentar. E tenho certeza que a camisa passada e colocada dentro da calça no Pulse foi ordem da produção.

Já falando de Wonderful Tonight, avise quando estiver em São Paulo que eu pego a pedra - escolhi uma pontuda aqui do jardim do prédio, já está guardada no armário.

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

R:

Valeu MUITO a pena. Grande favorito ao show do ano.

Beijão

Rob

Rob Gordon disse...

Fagner:

Você definiu muito bem com a frase "gente que nem sabe do que gosta, mas sabe do que deve gostar". Perfeito.

Quanto ao Clapton, você tem razão também ao dizer que ele não está preocupado em mostrar sua habilidade e não porque ele "não precisa mais disso". A maior virtude dele é usar o talento dele a favor da música, e não da carreira.

Mesmo sem ser fã, leia a autobiografia dele, que saiu aqui no Brasil. Além de ter histórias fantásticas, o livro é - sem exageros - quase incômodo de tanta humildade que ele tem a respeito de si próprio. Uma das melhores que li, vale muito a pena!

Abração

Rob

Rob Gordon disse...

Gaudio:

O seu comentário era um que eu estava esperando com ansiedade, desde a hora que eu comecei a escrever o post, assim que cheguei em casa. Realmente, o homem é como vinho, vai se tornando mais doce e suave - e sim, melancólico - com o tempo.

Mas achei interessante o que você disse, sobre o blues ser o amadurecimento do rock. O rock nasce do blues (entre outras coisas, como o country) então podemos dizer que o Clapton fecha o ciclo. O blues inspira o rock que ganha corpo e peso e se transforma novamente em blues. É algo a se pensar.

Lendo suas impressões sobre o show no seu comentário aqui me lembrei da nova versão de Layla e me arrepiei, só de lembrar da melancolia (e do quase conformismo) do tom de alguns versos. Sua leitura disso - o amor distante - foi perfeita, cara!

Feliz dia das crianças para todos nós, amantes de boa música (e genial esta cena entre pai e filho que você viu no show)!

Abraços

Rob

Varotto disse...

... maior lambança... ;o)

Rob Gordon disse...

Natália:

Na verdade, não me dei mal no setor - acho que, como em todos shows, estas pessoas estão espalhadas em todos os setores. Só dei azar de me sentar perto de alguns grupos de pessoas assim.

Quanto ao blues, realmente é preciso certa maturidade musical. Eu mesmo comecei a compreender melhor o estilo por volta dos 30 anos, mas mergulhei de cabeça mesmo faz uns dois ou três anos. Mas tem muita coisa mais acessível por aí que posso te indicar – e você certamente vai ter mais facilidade, já que é mais eclética que eu, que passei a toda adolescência praticamente “preso” dentro do heavy metal (Beatles não conta).

Quanto ao som,que setor você estava? Pelo que li e ouvi dizer, na pista e nas cadeiras inferiores o som estava ótimo.

Beijos

Rob

Rob Gordon disse...

Gabi:

Vamos por partes.

Quando eu descrevo estas pessoas (alguém no Twitter leu o post e as chamou de roqueiros de Last.fm) estou me referindo à atitude e não a gosto ou conhecimento musical. É evidente que existem pessoas como você que se vestem desta forma e entendem horrores de música (e já conversamos o suficiente no Twitter para eu poder afirmar isso).

Aliás, não é questão de entender de música, mas sim de apreciar de verdade. Como disse o Fagner, gente que não sabe ao certo do que gosta, mas sabe do que deve gostar. Conheço muita gente que se torna fã na semana do show e sai cagando regra (especialmente em Twitter, que é o habitat natural da cagação de regra). A pessoa cobre de elogios durante uma semana e esquece.

Vamos às roupas: basicamente, todas as pessoas que vejo em show assim estão vestidas desta forma - tanto homens como mulheres. Isso não significa que toda pessoa que se vista assim está lá por modismo.

Em outras palavras: nem todo mundo que usa estas roupas está lá por modinha, mas todo mundo que está lá por modinha está com estas roupas.

E claro que as pessoas têm o direito - ou melhor, o dever - de se vestir como quiserem. Apenas apontei uma "coincidência" aqui.

E talvez tenha soado generalizado demais, mesmo, desculpe por isso. Mas realmente os grandes shows no Morumbi se tornaram eventos sociais, e para muita gente é mais importante dizer que esteve do que ouvir a música (leia o comentário da Marina, abaixo, sobre as pessoas atrás de nós) e, no caso do Clapton, entender a música, pois ele é um artista com um trabalho muito mais complexo que o comum.

E, além destas pessoas atrás de nós, vi muita gente dispersa e batendo papo durante as músicas menos conhecidas, como se estivessem matando o tempo até Layla ou Cocaine. E ouvi reclamações sobre a nova versão de Layla assim que ela começou. Ou seja, a pessoa estava lá para ouvir esta música (já que conversava durante as outras), sem se preocupar com o que está sendo tocado nos outros momentos.

Por outro lado, concordo com você no “que bom que um cara como o Clapton lota o Morumbi”. Pensando em termos de apelo musical, isso é importante sim. Mas ainda acho que São Paulo deveria ter uma casa de show de tamanho médio – ou são casas pequenas, ou estádios. Não há meio termo, que seria o ideal neste caso.

Quanto ao Led Zeppelin, realmente não há grandes separações entre Londres e Mississipi. Há apenas outra roupagem. Todo o cenário inglês da segunda metade dos anos 60 bebe no blues americano, especialmente Clapton (que, hoje, talvez seja o maior porta voz do estilo no mundo), Rolling Stones e Yardbirds. John Mayall and the Bluesbreakers (onde o Clapton tocou) não conta, pois sempre foi uma banda de blues assumida.

Mas o caso mais famoso é de Led Zeppelin, que chegou a ser processado por plágio de Willie Dixon, após gravarem algumas de suas canções (como You Shook Me) sem creditá-lo. O caso foi parar nos tribunais e eles acabaram "confessando" que meteram mesmo a mão nas músicas. Mas você tem razão quando diz que isso é papo pra bar. :)

Enfim, finalizando: pelo (pouco) que conheço você, não acho que você seja perua, independente de como você se veste. Não vejo a pessoa como “perua” pela roupa que ela usa, mas pelas atitudes dela no dia a dia (e isso inclui, obviamente, os shows). Mais uma vez, desculpe pela generalização acidental, mas acho que agora ficou mais claro.

Beijos

Rob

Rob Gordon disse...

E o segundo comentário do Varotto, sobre os plágios do Led Zeppelin, faz sentido se lido depois da minha resposta para a Gabi Romeiro.

Pronto, tudo arrumado. Vamos em frente com as respostas.

Rob

Rob Gordon disse...

Pri:

Se você conhece pouco de Clapton, sugiro que vá atrás de uma coletânea muito boa, lançada junto com a biografia dele. Chama Complete Clapton, é um CD duplo e abrange todas as fases dele. Outra boa pedida é o The Cream of Clapton. Vale muito a pena!

Quanto ao assunto das roupas levantado pela Gabi, leia meu comentário anterior (a resposta a ela), ali eu explico melhor.

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Hally

Concordo com você que o preço dos ingressos ajuda nisso também. Mas o grande absurdo foi na segunda-feira. Fui com a Ana ver Deep Purple no Via Funchal - lugar pequeno. E, mesmo assim, tinha pista premium. Foi ridículo isso.

O negócio é selecionar com cuidado os shows para não falir, pensando sempre em quais são indispensáveis.

Beijão

Rob

Rob Gordon disse...

Marina:

Sem dúvida, a questão do som pegou bastante, especialmente no começo do show - nas duas primeiras músicas, como a gente conversou, o som mal chegava até onde estávamos e não estávamos longe do palco.

E concordo com você sobre a posição e tamanho dos telões mostrando que o show foi pensado na pista - ou seja, o som não estava ruim, mas sim mal distribuído. Paciência.

Quanto ao moleques que estavam atrás de nós - havia mais gente assim ao nosso redor, não sei se você reparou - é justamente o povo que mencionei no post. Depois de uma hora de show, o cara já está de saco cheio e começa a bater papo, como eu disse respondendo outro comentário, gastando o tempo até tocar Cocaine que é a única música que ele conhece.

E o que me irrita mais é que, mesmo assim, ele ainda vai sair falando que o show "foi demais". Mais uma vez, paciência.

Mas eu e a Ana ficamos muito felizes de ter assistido ao show junto com você e o Mario!

Beijos

Rob

Rob Gordon disse...

Kel

É exatamente isso. Ele tem a liberdade financeira de tocar onde quiser, mas não tem a liberdade profissional disso. Como eu disse acima, que bom que ele lota um Morumbi, mas, mesmo assim, ainda é o lugar errado para ele.

Outro dia comprei um Blu-ray do BB King, no qual ele toca em um de seus bares, para uma platéia de no máximo 100 pessoas. A banda se aperta no palco, os músicos mal conseguem se mexer - e isso (além das músicas, claro) transformou o show em dos melhores que tenho aqui.

Beijos

Rob

Rob Gordon disse...

a que congemina:

O solo de Old Love me fez (quase) chorar como quando chorei em Blackbird, no show do Paul. Eu estava tranquilo (mas já havia chorado) e assistindo ao show. Acho que estava filmando, não lembro. de repente, no meio da música, eu abaixei a câmera e comecei a chorar. Nunca entendi o motivo. Apenas chorei.

Tem certas coisas que só alguns músicos (e canções) conseguem fazer.

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Varotto:

Sobre os roubos do Led, concordo: o que eles fazem com as músicas faz valer a pena. Mas foi muita coisa. Depois de ler seu comentário, fui dar uma pesquisada aqui e achei este trecho do livro Blues - Da Lama a Fama, do Roberto Muggiati.

"Mas o Led Zeppelin foi mais longe que os outros grupos e canibalizou vários blues, assinando-os sob seu nome. Seu grande sucesso Whole Lotta Love foi claramente calcado no blues You Shook Me, de Willie Dixon. How Many More Times não disfarça nem no título: incorpora How Many More Years de Howlin' Wolf, misturado a The Hunter, de Albert King (...). O bom Wolf foi de novo tosquiado pelo Zeppelin em The Lemon Song, que toma o seu Killing Floor e enxerta nele um trecho da letra de Travelling Riverside Blues, de Robert Johnson."

Abração

Rob

Varotto disse...

É... Os caras são os canibais do blues.

Taí, isso poderia ser um bom nome para uma banda. Poderia até virar Caniblues!

Rob Gordon disse...

Varotto:

Caniblues foi demais! Ri alto aqui!

Abraços!

Rob

Anônimo disse...

Rob,

Não fui ao show e você como sempre conseguiu me emocionar com suas palavras.


É isso aí.

Beijo

Rob Gordon disse...

Li Pizzicato:

Obrigado pelo comentário. Confesso que ao reler este texto hoje (dia 16) também me emocionei ao me lembrar de alguns momentos.

Beijos

Rob

Gaudio disse...

Valeu Rob! Poxa! Gostei pacas que você estava aguardando o meu comentário! Mesmo sendo horrível na arte de comentar em blogs, esse post do Clapton era obrigatório, tinha que comentar!
Abraços!

Rob Gordon disse...

Gaudio

Pelo (ainda) pouco que conversamos no Twitter, e pelo comentário que soltou aqui sobre o show do Clapton, dizer que você é "horrível na arte de comentar em blogs" chega a ser até grosseiro, de tanta modéstia.

Apareça mais vezes, de verdade!

Abraços!

Rob

Juju disse...

Grande Rob! Estive lá na arquibancadinha azul e po, realmente o som nao chegou muito bom lá em cima nao, mas foi o suficiente pra que eu e meu querido nos sentissemos grandes privilegiados pela oportunidade! realmente, Deus esteve entre nós. Só achamos o show curto (tinham faladod e 3 horas de show em Porto Alegre) e aí eu ponderei e disse: se ele tivesse tocado só 10 minutos, teria valido a pena. Que grande gênio, que perfeição. Eu fico arrepiada novamente de lembrar.
Qto aos "roqueiros de carpete" (gente que nunca brincou na rua, rolou na terra ou coisas assim, concordo), ao meu lado, duas meninas passaram o show mandando SMS e falando em seus Iphones e só tiravam os olhos de suas telinhas quando passava o cara da cerveja, e alguem lá atrás, qdo teve o break antes do "bis" comenteou: "vou ficar muito puta se ele já tiver indo embora". alias, vc já reparou como as pessoas não veem mais os shows? é tudo pela telinha do celular ou camera digital??? morro....
mas enfim, acho que no fundo, os caras se mantem no business para dar oportunidade para quem vai pra se emocionar mesmo, faz musica pra ele e pra quem souber entender o grande privilégio!

Rob Gordon disse...

Juju:

Que bom que curtiu o show! Eu adorei também, apesar de qualidade do som - nas duas primeiras músicas, estava horrível, e dei graças a Deus quando melhorou em Hoochie Coochie Man, que eu estava louco para assistir. Assim como você, eu ainda fico arrepiado de lembrar também - dia desses estávamos vendo o vídeo que fizemos de Layla (eu estava na arquibancada especial, do outro lado do estádio) e fiquei mais impressionado ainda com a qualidade desta versão.

Quanto aos "roqueiros de carpete" (adorei o termo), você disse tudo.

Um beijo!

Rob

Fernanda disse...

Preciso confessar. Não posso deixar de te contar o que eu fiz. Não me segurei um dia desses pra trás, e a culpa foi sua.

Eu encontrei um tipinho desses aí, que vc descreveu no meio do texto, desses roqueiros de botique, na rua, no ponto do ônibus. E lógico, com a minha sorte, ela pegou o mesmo ônubis que eu. E lógico, sentou bem na minha frente, falando no celular sobre o quão rock foi o show, mas que ela não entendeu o motivo do "graaande ídolo de infância" dela ter mudado umas músicas, o jeito de dizer as palavras e tocar alguns acordes.

Nesses casos, eu ficava sempre calada, ignorava e no máximo planejava fazer um voodoo da pessoa assim que chegasse em casa. Mas dessa vez, eu tinha acabado de ler esse seu texto, e topado com essa sujeitinha. E a minha paciência estava lá no pé.

E lá fui eu puxar papo com a velhinha do meu lado, falando de musica, falando de cantores de antigamente, e ela, pra surpresa minha, adorava Eric Clapton, e por mais supresa ainda, ela adora blues, e estava indignada com a falta de respeito da garota na nossa frente.

E sim, foi aí que eu "te usei". Abri essa postagem pelo celular e lí (em voz alta, só pra incomodar a tal). Lí tudo. E nós duas, eu e a senhorinha, rimos, e comentamos. E quase te fizemos encarnar alí sentado com a gente, só pra comentar de musica, idolos e rock e blues e tanta coisa... Foi a 1 hora mais proveitosa (além de vingativa) que tive nesse ano.

Texto fantástico. Ainda pude aproveitá-lo bem depois, sem nenhuma musica, sem ônibus, sem garotinha de cabelo arrepiado e blusa preta com strass, sem nada e ninguem. Mas naquela hora, ele foi o meu grande trunfo. E depois que a velhinha desceu, no seu ponto, me dando um beijo estalado na bochecha, foi em paz e sossego pra casa.

Ah, e sim, descí do ônibus no mesmo ponto que essa garota, ela entrou no prédio de cima, e eu no debaixo. A janela do quarto dela é quase de vista para o meu. E eu reconheço uma Restart-Girl disfarçada de 'gente que entende de musica' até mesmo dentro de um ônibus cheio.

Obrigada pelo texto e por ter feito (mesmo que indiretamente) a minha volta pra casa mais feliz, tá?!


Bjos!

Rob Gordon disse...

Fê:

Morri de rir com seu comentário! E o fato de você ter lido em voz alta no ônibus foi, de longe, uma das coisas mais legais que aconteceu com alguma postagem aqui do blog. Adorei a história que você contou! :)

E o texto fazer você voltar para casa mais feliz é a maior recompensa que um escritor pode ter!

MUITO obrigado mesmo por esta mensagem! Adorei de verdade!

Beijos!

Rob