2 de maio de 2011

Eu

Eu já me apaixonei. Já me apaixonei por pessoas, mas também por filmes, músicas e livros. Já me apaixonei até mesmo por histórias que eu contei (ou ouvi) em mesas de bar. Já me apaixonei por textos meus. Mas também já seduzi, já conquistei, já amei e desapaixonei. Já me apaixonei até por mim mesmo, algumas vezes. Já me apaixonei pela pessoa que eu era ao lado de outra pessoa. Ja me apaixonei para sempre, já me apaixonei por dez minutos. Já me apaixonei de sofrer, já me apaixonei de viver, já me apaixonei de morrer. E, como toda pessoa que se apaixona, eu já chorei.

Eu já chorei. Já chorei por causa de filmes, já chorei sentado no chão da sala achando que não tinha solução. Já chorei em conversas no computador, já chorei escrevendo, já chorei sozinho e na frente de outras pessoas. Já chorei engasgado, já chorei de soluçar, já chorei em silêncio, baixinho, para ninguém ouvir. Já chorei de dor, já chorei de perda, já chorei por quem merecia ou não. Já chorei de felicidade. Já chorei de deixar lágrimas caírem, já chorei de não molhar o rosto. Já chorei de raiva, já chorei de amor. E, como toda pessoa que chora, eu já sorri.

Eu já sorri. Já sorri muito, a ponto de dizerem que quando eu era criança eu sorria o dia inteiro. Já sorri de orgulho, já sorri de paz e conforto. Já sorri por ver meu destino traçado e achar que ele seria doce, mas já sorri amargo por ver a estrada mudar de rumo de novo. Já sorri sabendo que era para sempre, já sorri apenas de ver a pessoa, já sorri até mesmo chorando. Já sorri de vingança, sorri de orgulho, já sorri de amor e de excitação. Já sorri na cama, já sorri na vida, já sorri no mundo. E, como toda pessoa que sorri, eu já brinquei.

Eu já brinquei. Eu já brinquei em casa e brinquei na rua. Já brinquei de contar histórias, já brinquei de inventar universos e personagens. Já brinquei de inventar diálogos, já brinquei de fazer os outros rirem. Já brinquei de ser amante, de ser menino. Já brinquei de ser adulto e de ser sozinho. Já brinquei sozinho, já brinquei acompanhado. Já brinquei com meu cachorro, já brinquei de salvar meu amor e ser carregado feito herói. Já brinquei de ser vilão. Já brinquei em outros mundos, outros tempos. Já brinquei de “se atravessar a rua antes daquele carro ela vai ser minha para sempre”. Eu já brinquei de sexo, já brinquei de amor, já brinquei de raiva, já brinquei de transformar minhas brincadeiras em texto. E, como toda pessoa que brinca, eu já sonhei.

Eu já sonhei. Já sonhei com monstros e princesas e já sonhei em ser o herói. Já sonhei com textos, filmes, músicas. Já sonhei acordado. Já sonhei acordado olhando nos olhos de alguém. Já sonhei em público, já sonhei sozinho e junto. Já sonhei no trabalho. Já sonhei até mesmo dormindo. Já sonhei com meus medos, já sonhei com meus sonhos, já sonhei em estar em paz. Já sonhei com quem ficou para trás, já sonhei com gente que ainda não encontrei. Já sonhei em ter para sempre, já sonhei com o que ficou, já sonhei que era diferente, já sonhei com o que virá. E, como toda pessoa que sonha, eu já lutei.

Eu já lutei. Já lutei o dia inteiro pelo que achava certo. Já lutei com a esperança de não ter que lutar nunca mais. Já lutei jogando sujo, já lutei de forma honrada. Já lutei com todas as minhas forças, já lutei com descaso. Já lutei para perdoar, já lutei para me perdoar. Já lutei para entender, já lutei para entender as outras pessoas, já lutei para entender a mim mesmo. Já lutei por lutar, já lutei por princípios, já lutei por ciúmes, já lutei por amor. Já lutei por pessoas. Já lutei pelo que quero. E, como toda pessoa que luta, eu já perdi.

Eu já perdi. Já perdi amigos e amores. Já perdi memórias que deveriam ser doces para sempre, já perdi paixões, noites que definiriam minha vida, já perdi preciosidades e já perdi coisas das quais apenas eu via valor. Já perdi noites de sono, já perdi minha paz, já perdi textos e fotos. Já perdi cães, já perdi vidas, já perdi palavras que escaparam com o vento. Já perdi títulos e jogos, já perdi na vida, já perdi empregos. Já perdi sonhos e rotinas, já perdi na bola e no tapetão, já perdi a vergonha. Já perdi o medo e já perdi a raiva. Já perdi até o que eu sou. E, como toda pessoa que perde, eu já ganhei.

Eu já ganhei. Já ganhei amigos em lugares que não imaginava. Já ganhei amores e memórias secretas que moram dentro de mim. Já ganhei sonhos e presentes, já ganhei abraços e beijos e orgasmos que explicam a vida inteira. Já ganhei cheiro de outra pessoa nas minhas roupas, ganhei cabelos diferentes nos meus travesseiros. Já ganhei declarações e poemas, já ganhei livros, músicas e filmes. Já ganhei pessoas, já ganhei mulheres, já ganhei inimigos. Já ganhei surpresas, já ganhei verdades e socos na cara, mas já ganhei mentiras e facadas nas costas. Já ganhei admiração, mas já ganhei broncas. Já ganhei brinquedos, já ganhei noites, já ganhei o dia. E, como toda pessoa que ganha, eu já tentei.

Eu já tentei. Já tentei dormir com minha consciência tranqüila. Já tentei acertar sempre, mesmo quando tudo parece errado. Eu já tentei perdoar sabendo que não iria esquecer, tentei me perdoar sabendo que não iria entender. Eu já tentei melhorar a cada dia, tentei fazer meus pais sentirem orgulho de mim, tentei fazer quem eu amo saber que estaria sempre ao lado. Eu já tentei fazer os outros rirem, tentei fazer os outros chorarem de alívio. Já tentei escrever, tentei cozinhar, tentei viver. Eu já tentei ser adulto quase o tempo inteiro, tento ser criança para sempre. E, como toda pessoa que tenta, eu já explodi.

Eu já explodi. Já explodi em casa e na rua. Já explodi querendo matar, já explodi gemendo o nome de alguém. Já explodi sozinho, já explodi acompanhado. Já explodi em textos, já explodi em gritos. Já explodi na cama, já explodi de raiva, já explodi na sala, já explodi de raiva. Já explodi de frustração, de não conseguir arrumar erros que não eram meus, já explodi de satisfação, ao fazer as pessoas entenderem. Já explodi por sonhos e decepções, já explodi de saudade, já explodi de cansaço, de tristeza. Mas já explodi em cores, amores e sabores. Já explodi de orgulho, já explodi de ansiedade, já explodi de amor. E, como toda pessoa que explode, eu já senti.

Eu já senti. Já senti amor maior que a vida, eu já senti paixões amedrontadoras. Já senti medo de perder, já senti ódio por perder. Já senti orgulho de mim, já senti orgulho de quem amo, já senti vontade de cuidar para sempre. Já senti raiva de mim mesmo, já senti amor pelas pessoas certas, já senti tesão por amor e por quem não deveria. Já senti pontadas no peito, já senti dor de cabeça, já senti que ia morrer de tristeza. Já senti felicidade daquelas de fotografia, já senti vontade de sair dançando na rua e de conversar com estranhos. Já senti saudade de gente que nunca conheci. Já senti que ia dar certo, já senti que deu errado. Já senti culpa, já senti traição, já senti que estavam mentido, já senti que era eterno. Já senti dor, já senti amor. E, como toda pessoa que sente, eu já amei.

Eu já amei. Já amei textos que fiz, já amei pessoas inteiras. Já amei detalhes como um olhar ou um sorriso. Eu já amei fragmentos de memórias, gemidos abafados ou o jeito que alguém prendia o cabelo. Já amei desesperadamente, já amei pacificamente, já amei para sempre porque não conheço outro jeito de amar. Já amei meus bichos, já amei o que faço, já amei o que sou. Já amei elogios, já amei dias e noites, já amei a ideia de ter alguém para amar. Já amei ficar alegre, já amei cada lágrima que derramei por amor, já amei cada bilhete que recebi. Já amei alma, já amei corpo, já amei o todo. E, como toda pessoa que ama, eu sou.

Eu sou.

Eu sou. Eu sou porque me apaixono, choro, sorrio, sonho, luto. Perco e ganho. Tento. Explodo, sinto. Amo. Talvez por isso que tenho a sorte de fazer vocês rirem ou chorarem com meus textos. Mas, antes de tudo, tenho a sorte de fazer vocês sentirem. Porque eu sempre fui assim. E torço para que eu seja assim para sempre. Porque o tal do Rob Gordon é assim, desde antes de existir. Ele é assim. Ele se apaixona, chora, sorri, sonha, luta. Perde e ganha. Tenta. Explode, sente. Ama. Da mesma forma que eu.

Porque Rob Gordon é apenas um nome. Poderia ser qualquer outro.

Por outro lado, eu sou Rob Gordon, sim, porque é cada um dos meus textos – independente do nome que está assinando o post – que explica o que sou. Eu vivo, penso e sinto (para o bem ou para o mal) todos os textos antes de redigi-los.

Eu não sou o que escrevo, eu escrevo o que sou. E existe uma grande diferença nisso.

Por isso que quem me lê de verdade, me conhece muito. E por isso que quem me conhece de verdade me vê nos meus textos. Poucas coisas me dão mais orgulho que isso. Não como escritor. Como pessoa, mesmo.

Obrigado pela visita.

25 comentários:

Renata Santos disse...

Eu só consigo te ver assim, aquele que escreve genialmente. Acho que passou da hora de vc se ver assim: como o gênio que escreve!
bjs e boa sorte

Unknown disse...

Cara, acho que se eu te conhecesse pessoalmente, iria pegar você pra mim. Literalmente. Ia ficar dias, semanas, meses ouvindo você falar. Bom, eu não te conheço pessoalmente, mas posso mesmo ficar dias semanas e meses lendo seus textos. Você é demais.

littlemarininha disse...

"Mas, antes de tudo, tenho a sorte de fazer vocês sentirem. Porque eu sempre fui assim. E torço para que eu seja assim para sempre. Porque o tal do Rob Gordon é assim, desde antes de existir. Ele é assim. Ele se apaixona, chora, sorri, sonha, luta. Perde e ganha. Tenta. Explode, sente. Ama. Da mesma forma que eu."

Põe sorte nisso... Sorte a nossa!
Era só o que eu queria te dizer.
=)

Camila disse...

Poxa, Rob, não é a primeira vez que eu me vejo nos seus textos. Você tem a capacidade incrível de descrever muitas pessoas descrevendo a si próprio. Acho isso bacana demais. =)

Concordo com a Littlemarininha... sorte a nossa! ;)

.a que congemina disse...

Acho interessantíssimas essas relações que a gente constrói por blog. A gente se mostra dum jeito brutal, mesmo que em textos cheios de metáforas e fala de si com tanta franqueza, que quase funciona melhor que terapia.

Vou só fazer coro: sorte a nossa que você se escreve tanto! ^^

Anônimo disse...

E esta é a parte que mais gosto em você! #prontofalei
Aqui se não comento no impulso, não comento nunca.

E quanto a visita não precisa agradecer pois para quem o visita há três anos, já se sente em casa.

Anônimo disse...

"Eu não sou o que escrevo, eu escrevo o que sou."

Deveria ser copiado e meditado por muita gente que está entrando agora e pensando que não existe mais quem escreva com a alma.

Ana Savini disse...

É... Sorte a nossa.
;-)

Fernanda disse...

Acho fantástico qdo vc coloca esses textos que não contam nada em particular seu, ou nenhuma história. Mas que na verdade, contam mais do que uma históriazinha, contam a sua vida, a sua alma, lá o mais importante.

Obrigada por nunca esquecer do blog e escrever por aqui. Isso alegra nossos dias e faz a gente pensar um pouco sobre a nossa vida do lado de cá dessa tela.

Bob Mussini disse...

gostei muito e mesmo não sendo vc, me identifiquei.

sabe quando a gete escuta uma musica e curte tanto que gostaria de chegar pro compositor/cantor e dizer obrigado?
foi exatamente assim.

por isso: Obrigado Rob

Nelson disse...

Esse texto mostra o como somos únicos... e iguais, ao mesmo tempo.
Duvido que exista alguém no mundo que não se identifique com esse texto, mesmo ele passando uma individualidade absurda.
Arte é assim: serve pra todos, mas cada um acha o próprio sentido.

E Rob, não precisa agradecer. Ninguém vem aqui por obrigação, e sim porque gosta de ler o que você escreve, sente e vive. Desde os pesadelos até as piadas, quem lê o Champ gosta de você, e ponto final.

E espero ansiosamente pelo próximo livro, porque seus textos no papel tem um charme a mais :D

abração!

Tyler Bazz disse...

Puta orgulho de poder ler seus textos.
E puta orgulho de te conhecer.

De verdade, sempre.

MaxReinert disse...

Esta é a sina do escritor: demonstrar, mesmo que não queira, sua "essência" em sua obra.

O problema é quando a essência, e por consequencia a obra, não tem nenhum conteúdo....

Ficamos, assim, à mercê de nosso "público". Escondidos e revelados ao mesmo tempo... nús!

Reencontro2006 disse...

É por isso que ainda gosto dos humanos!

@leandrodelucas disse...

Escrevo este comentário porque o autor pediu para comentar. De verdade mesmo, estou sem palavras, a admirar a genialidade, a habilidade de alguém que não conheço pessoalmente, que só recentemente comecei a ler.
Não agradeça a visita. Não é favor nenhum que fazemos, muito pelo contrário (como já dito anteriormente), nó que lhe agradecemos Rob Gordon.

A.L.G.G.M. disse...

A 'humanidade' no geral pode não ter dado certo, mas algumas pessoas deram. Você, por exemplo! Te acho um gênio, querido, e uma pessoa chocante!!! ;) Bjs

Marina disse...

Curiosa essa sensação de conhecer uma pessoa só pelo que ela escreve. Sinto que conheço você. Talvez nem conheça, mas a sensação de familiaridade que sinto ao entrar aqui no Champ é indescritível. É como aquele bar que você vai tomar cerveja com os amigos toda semana e que te faz sentir em casa. Obrigada por escrever, Rob. Obrigada por me receber aqui.

Beijos.

Claudia Iarossi disse...

Repito a primeira frase do Tyler :"Puta orgulho de poder ler seus textos."
E sinto uma PUTA inveja da segunda frase dele...rs.

Valeu Rob!

Pedro Lucas Rocha Cabral de Vasconcellos disse...

Puta orgulho de poder ler seus textos [3]. E Que sorte temos nós...

Renata disse...

Não precisa agradecer!
Você que nos faz um favor ao descrever tão bem as nossas vidas, as nossas histórias, ainda que na maioria das vezes assumindo o papel de protagonista (acho que isso se aplica muito mais ao Chronicles que ao Champ).

Gabi Bianco disse...

Eu e a Gabi também já fizemos isso tudo aí. Ou um pouco menos. E no fim do dia estávamos as duas aqui em casa de pijama pra dormir juntas.

Porque na verdade ela é só um pouquinho mais alta que eu.

bjs

Alessandra Costa disse...

Nunca sei o que comentar nesses textos, porque ao mesmo tempo que eles falam de você, eles falam de mim, e garanto que de muitos outros aqui...
Puta orgulho de poder ler seus textos [4]

Fagner Franco disse...

O vômito mais sensível que já vi. Lindão, o texto, Rob. Às 3h14 da manhã, depois de andar com minha cadela pelo bairro, pensando na vida e em algumas decisões, um texto desse dá uma baita engasgada.

Michele disse...

cara, eu preciso te conhecer de verdade. pq, eu sinto como se já te conhecesse por dentro, só de ler teus textos.

parabéns =D

Petterson Farias disse...

Continue sendo, Rob. Nossa paixão pela tua escrita agradece.


;D