19 de abril de 2011

Rob Gordon X Gringa das Frutas

Vamos tentar tirar a poeira do teclado e começar a escrever um pouco, pois para mim, é a melhor maneira de fazer a vida voltar aos trilhos.

Além disso, eu estava com esta história “engasgada” já há alguns dias. Na verdade, quase duas semanas. Eu estava indo para o metrô Vila Madalena, me encontrar com uma pessoa a respeito de um projeto envolvendo uns textos (é uma coisa diferente, mas qualquer hora eu falo mais disso por aqui).

Enfim... Apesar de morar em Pinheiros, eu não sei chegar ao metrô Vila Madalena. Isso porque eu fui criado em Moema, que é um bairro projetado por crianças de cinco anos de idade que, um dia descobriram que tinham um lápis e uma régua, e decidiram criar um bairro no meio de São Paulo. Tudo em Moema é reto.

Em Pinheiros, não. Aqui, o bairro é formado por curvas, jardins e praças. Você contorna uma praça durante dez minutos até chegar ao mesmo lugar onde estava sem encontrar sequer uma rua para escapar daquele looping. Às vezes, você atravessa uma rua e descobre que chegou do outro lado do bairro, mas em outro dia.

Ou seja, o bairro foi projetado pela mesma pessoa que desenhou o Shopping Paulista. Além disso, quando eu coloco o pé na Vila Madalena, começo a me perder no meio daquelas ruas com nomes que fazem com que eu me sinta num episódio do Meu Querido Pônei. Rua Alegria, Avenida Sorriso, Rua Amizade, Alameda Cafuné, Travessa do Carinho. Sério, é deprimente.

Bom, tudo o que eu sabia é que precisava sair do meu prédio e virar à direita. Andando nesta direção, uma hora eu chegaria à estação Vila Madalena.

Quer dizer, em “uma hora” não. Como logo percebi, seria mais exato dizer “algum mês”. Porque eu andei, andei, andei. Passei por praças, subi montanhas, passei pelo planeta gelado de Hoth, nadei através de lagos, cruzei todo o território de Mordor (encontrei dois hobbits e, como sou do mesmo tamanho que eles e estou desempregado, me ofereci para levar o anel para eles como frila, mas eles não se interessaram).

E nada do metrô aparecer.

Ou seja, eu estava perdido. Ou melhor, eu estava perdido dentro do meu próprio bairro (porque, tecnicamente, Pinheiros e Vila Madalena são o mesmo lugar).

Continuei andando. Todos os meus instintos me avisarem para qual lado o metrô estava (além de gritarem o tempo todo que o metrô estava próximo), mas, no momento em que contornei uma praça e dei de cara com um prédio pelo qual eu já tinha passado, meus instintos desistiram de tudo e começaram a ver preços de bússolas no Mercado Livre.

Eu estava sozinho, perdido naquela terra estranha.

Só me restava apenas encontrar alguém na rua e perguntar onde ficava o metrô. Olhei ao redor e lá estava ela, vindo na minha direção: uma loira, aparentemente da minha idade, carregando um saco repleto de frutas. Ninguém, ao menos em sã consciência, vai comprar frutas do outro lado da cidade. O saco de frutas era um atestado (com firma reconhecida em cartório) de que a mulher morava ali perto. E, se ela morava ali perto, sabia onde era o metrô. Conan Doyle ficaria orgulhoso de mim.

Me aproximei e pedi licença.

– Pôs nán?, ela respondeu.

“Pôs nán.” Certo.

Milhões de pessoas em são Paulo, e eu escolho justamente uma gringa para pedir informações. Típico. Bem bastava driblar o sotaque dela e apenas descobrir para qual lado ficava o metrô. Depois de anos conversando com assessores de imprensa, isso não seria tão difícil.

– O metrô fica para lá?, perguntei, apontando com o dedo para a direção da qual ela vinha.

– No. No. No métro.

– Não? Para que lado fica, então?

– No métro. Nooooo métro.

– Oi?

– No métro. Ânibus.

– Oi?

– Ânibus. No métro.

– Não, o metrô, sabe? A estação Vila Madalena? Ela fica para esse lado?

– Harmonia.

Pensei em responder para ela que tudo o que não estava acontecendo nesta conversa era justamente isso: Harmonia. Mas mudei de ideia. Eu precisava apenas saber onde estava o metrô e não começar uma DR com a gringa das frutas sobre nossa incapacidade de se comunicar. Porém, antes que eu pudesse falar algo, ela emendou.

– Harmonia. Rua dos báncos. Rua dos báres.

– Ah. A Rua Harmonia?

– Si. Qual ânibus? Harmonia?

– Olhe, podemos focar no meu metrô primeiro?

– No precsisa de métro. Precsisa de ânibus. Rua dos báncos. Harmonia.

– Eu chamei você na rua porque preciso saber se o metrô...

– Harmonia. Báncos. Báres. Qual ânibus?

Suspirei. Era um caso perdido, a mulher das frutas. Apontei para o lado do qual estava vindo.

– A Rua Harmonia fica para esse lado.

– Grat! Grat!

– Então, mas o meu metrô...

– Grat!

E foi embora, levando suas frutas. Conan Doyle teria gargalhado com isso.
Assim, descobri minha nova vocação. Eu farejo pessoas perdidas na rua e paro com o objetivo de fornecer informações.

Só falta agora ser remunerado por isso.

16 comentários:

Bia Nascimento disse...

Eu teria subido a Teodoro de ônibus, descido nas Clinicas e ido até a V Madalena assim de metrô mesmo... É impossível não se perder ali! rs

Hydrachan disse...

Rob... Acho que você perdeu o bilhete premiado da Loteria... =/
Porque, vamos lá... Quais são as chances de acontecer algo assim?
Acho que são as mesmas chances de ganhar na Loteria... E coisas assim só acontecem uma vez na vida!

Uma pena... =/

Espero que você consiga alguma coisa que te faça ser um sujeito bem sucedido, porque ganhar na Loteria você não vai. XD

Eric Franco disse...

Como eu sempre digo, você faz isso de propósito: é só entrar na João Moura, o começo dela é exatamente no metrô Vila Madalena. :P

Graveheart disse...

Uma coisa que eu descobri quando mudei pra São Paulo é que o Google Maps é seu melhor amigo: jogue onde você está, pra onde você vai, trajeto a pé, imprimir.

Na dúvida, se tiver um celular com GPS, use-o. Algumas vezes, nem com o mapa na sua mão é possível se encontrar.

Varotto disse...

Cara, essa história me lembrou uma tirinha do Calvin, em que alguém liga para a casa dele e ele atende falando algo como:

- Oi, aqui é o Calvin, eu quero fazer o pedido de uma pizza grande de muzzarela.

E aí a pessoa não entende nada e começa a gaguejar alguma coisa, e ele:

- Desculpe, foi engano.

E depois de desligar:

- Eu gosto de tornar o dia das pessoas um pouco mais surreal.

Enfim, acho que o roteiro da sua vida deve estar sendo escrito pelo Bill Watterson...

Varotto disse...

Acabei de me lembrar de mais uma coisa: nessas situações, você poderia usar aquele aplicativo de simulador de infestação de zumbis do seu celular para ficar mais incentivado a achar o mêtro antes de ter seu cérebro comido.

Otavio Oliveira disse...

entendi errado ou vc deu informação pra gringa enquanto estava pedindo? haha

(até eu, que moro em pinheiros há 3 meses, já sei chegar ao metro sem precisar passar na rua dos pôneis haha)

Gilmar Gomes disse...

como assim desempregado???

.a que congemina disse...

Minha mãe sempre me disse: peça informação em bancas de jornal e lojas. Evite a gringa das frutas!

Benito Bondoso disse...

Ela era gostosa?
Gringas com frutas geralmente são.
Ou eu estou vendo filmes errados.

Lari Bohnenberger disse...

Ai, ai... eu ando meio relapsa e preguiçosa, sem tempo de ler os blogs das pessoas. Fazia tempo que não passava por aqui. Por isso fazia tempo que eu não chorava de tanto rir. já tinha até esquecido como era. Obrigada por me lembrar!

Bjs!

Nelson disse...

Eu consegui pedir informação pra um cara que não falava português nem inglês: um chinês perdido no centro de Osasco. Me diga, como que um chinês vai aparecer ali?

Realmente, andar em Pinheiros ou na Madalena é um inferno. Toda vez que eu tenho que achar um endereço por alí é um martírio.

E o cara que decidiu os nomes das ruas da Vila Madalena não podia ter mais de 6 anos de idade. Mas nada é tão ridículo quanto à Rua Purpurina.

abraço Rob!

Daya... disse...

Como já foi comentado, sempre peça informação em banca de jornal, o povinho bom pra dá informação!! rsrsrs

Juliane disse...

"Ou seja, o bairro foi projetado pela mesma pessoa que desenhou o Shopping Paulista."

É exatamente assim que eu me sinto! hahaha morei quase dez anos de um lado de Perdizes e agora faz um mês que mudei pro outro lado (mais perto de Pinheiros) e realmente, não existem quarteirões quadrados. É tudo morro e curvas infinitas. Nunca se arrisque em Pinheiros/Perdizes, você vai parar em Osasco num piscar de olhos!

Kel Sodre disse...

Te mandar a real? Você tem instintos primitivos. Em plena era do GPS e seus instintos ainda estão procurando bússola no Mercado Livre? Tem que ver issaê.

Agora, curiosidade: sério que existe uma rua chamada Purpurina aí pra esses lados de vocês?? E quem mora lá é purpurinado? BAD JOKE ALLERT BAD JOKE ALLERT BAD JOKE ALLERT BAD JOKE ALLERT BAD JOKE ALLERT

Anônimo disse...

Da proxima vez que se perder pega um taxi kkkkkk