20 de março de 2011

Post Manchado de Sangue

É um vício. Só pode ser.

Porque machuca, dói... Dói muito. E eu continuo insistindo. Aliás, não apenas continuo insistindo, como ignoro o conselho de todos ao meu redor. Todos. Todos dizem que vai doer bastante, que eu vou me machucar. E eu sei que eles têm razão. Eles não falam isso, mas aposto que vai deixar marcas também. Mas, caso eles falassem, provavelmente eu ignoraria. Mesmo sabendo que eles estão cobertos de razão.

Na verdade, eu não ignoraria ninguém. Porque eu escuto o que eles dizem. “Rob, não faz isso, não vai acabar bem.”. Eles querem meu bem, acho. Alguns tentam até entender meus motivos. “Rob, por que você faz isso? Por que você insiste?”. Eu não sei o motivo. Sei apenas que insisto. Sei que vou me machucar como sempre me machuquei, que não existem motivos para ser diferente agora. Mas eu faço assim mesmo.

Às vezes, acredito que eu simplesmente não sei viver de outra forma. Não sei ou não quero. Ou não quero tentar. Por outro lado, um psicólogo talvez afirmasse que eu poderia estar me punindo, por algum motivo guardado dentro do meu inconsciente. Não sei... Juro que já pensei sobre isso... Já pensei muito. Racionalmente, não há motivos para eu continuar agindo dessa forma, insistindo em cometer os mesmos erros.

Mas, emocionalmente, tudo muda de figura. Normalmente é quando estou quieto, tranqüilo. Quando estou em paz, distraído com outras coisas. Parece que eu sinto falta da dor e começo a mexer com aquilo de novo. E eu me engano. Eu acho que as coisas, desta vez, vão ser mais fáceis. Que não vão doer tanto. Não sei... Talvez eu pense isso, ou acredite que, por já estar acostumado com a dor, eu não vou me machucar tanto. Sou calejado. Porque faço isso há tanto tempo que nem sei mais quando comecei.

Mas não existe calo para certas dores. Sou calejado, mas ainda dói.

E, quando começo tudo de novo, sempre tem alguém do meu lado aconselhando, pedindo para que eu pare, às vezes implorando para eu simplesmente seguir minha vida. Curioso. Não dói nas outras pessoas como dói em mim, mas mesmo assim eles se importam com a minha dor. Talvez isso seja o amor.

E eu ignoro o amor. Ignoro o amor, ignoro os avisos e tento. Porque eu acho que vai dar certo. Ou porque é gostoso ter a esperança de que desta vez vai dar certo, que eu não me ferir, que ninguém vai se ferir. E eu sempre erro. Minha esperança sempre erra. No final das contas, estou sentado no sofá, em silêncio, com os olhos cheios de lágrimas, e pensando, tentando entender porque sou assim, porque insisto.

E esta é a pior parte, porque eu não consigo entender o motivo de eu tentar de novo. Porque eu vou tentar de novo, é questão de tempo. E eu sei que vou me machucar mais uma vez. Eu sei que vou me machucar de novo. Eu sei e todos sabem que eu vou me machucar sempre.

Mas não adianta. Machucando. Ardendo. Ralando. Sangrando. Eu não vou mudar. Eu não vou parar, e provavelmente vou morrer fazendo isso. Vou passar o resto da minha vida sentindo arder até a alma, tendo vontade de gritar, de morrer, de sumir. E, dias depois – às vezes, horas depois – começando tudo de novo. Faço isso há anos e nunca parei. Sempre odiando fazer isso. Mesmo odiando ser assim. Só pode ser um vício. Só isso explica o que me tornei, a minha imbecilidade, a minha teimosia em tentar de novo.

Mas gostaria de voltar no tempo, descobrir quando e onde eu me tornei assim e tentar impedir. Tentar fazer, anos atrás, com que eu virasse outra pessoa... Uma pessoa que gostasse mais de si mesma, que não fosse viciada em se machucar, se punir. Uma pessoa que não fosse viciada pela ideia de sentir o gosto do próprio sangue, uma pessoa que não encontrasse conforto ao rasgar a própria carne.

Maldita hora em que eu descobri o quanto é gostoso – e o quanto é ardido e dolorido – puxar a pelinha dos lábios com os dentes.


13 comentários:

Pedro Lucas Rocha Cabral de Vasconcellos disse...

É engraçado quando você começa a conhecer o estilo de um autor... O final to texto estava praticamente desenhado na minha cabeça antes mesmo de terminar o primeiro parágrafo. Estava entre pelinha do lábio ou pelinha do canto da unha.

Alessandra Costa disse...

Continuar tentando, a única forma de tentar acertar.

Milla disse...

Meu vício masoquista. Desisti de largar. Não me reconheço mais sem tirar pelinha dos lábios, assim sou eu ;p

Muito bom o texto, tempo que não passava por aqui e é sempre boa surpresa.

Beijo

littlemarininha disse...

Impressionante como você consegue escrever bem sobre ABSOLUTAMENTE qualquer coisa, huahuaha.
Até o final achei que vc tinha postado um texto à la Chronicles no Champ.
Mto bom!

Anônimo disse...

É.
Eu tenho o mesmo problema que você. :)
E levo bronca o tempo todo.

Leandro de disse...

Me sinto assim as vezes. E eu poderia ser o personagem dessa autoflagelação, desde que eu mudasse o final para "apertar espinhas".

Leandro de disse...

Me sinto assim as vezes. E eu poderia ser o personagem dessa autoflagelação, desde que eu mudasse o final para "apertar espinhas".

Anônimo disse...

O pior é que eu já tou tão calejada com os seus textos que vou direto pro final pra ver qual foi a merda que você fez agora, rs.

Esse troço de parecer sentimental antes já não cola mais. Não comigo. :P

Circus disse...

No meio do texto eu já desconfiava que seria isso mesmo, porque sofro do mesmo mal. Por increça que parível. Minha mãe pensa na possibilidade de me internar em uma clínica, coitada, achando que me colocarão em uma camisa de força. Achei que eu era uma dos únicos com essa mania chata hahaha

Pri disse...

O meu é a pelinha da unha! rsrsrsr
Muito bom Rob...
Tks

Mari Hauer disse...

Eu pensei que vc ia falar que roía unha e tirava a pelinha do dedo. Já ia dizer pra vc molhar com pimenta!
Mas a pelinha da boca, ahh, essa eu tbm faço! Sou imbecil e dói, arde, fica feio... mas me dá dois segundos e eu to mordendo a boca, e as vezes eu ainda tiro o restinho da pelinha com a unha! Ai que dor! Ai que delícia!

Daya... disse...

Pensei que eu fosse uma das poucas que fizesse isso, mas pelo que li nos comentários, muita gente sofre disso. E comigo, quanto mais o povo grita pra que eu tire a mão da boca (eu puxo a pele com a mão), mais me dá vontade de puxar! Muito bom!

Nathi disse...

Todos masoquistas aqui. Minha boca está sangrando nesse exato momento, vítima do meu último atentado enquanto lia o Champ...