26 de janeiro de 2011

O Código de Gordon

Quando eu estava na faculdade – ou no colegial, não me lembro bem – criei, junto com um amigo, a biografia de um grande nome da literatura luso-brasileira. Acho que foi na faculdade mesmo, onde eu me divertia criando textos fictícios nos moldes da seção Fórum, da revista Ele & Ela (que renderam este post aqui). Um dia, criei também a lista – com títulos e sinopses sem sentido algum – dos dez filmes mais cabeça de todos os tempos. Qualquer dia eu falo sobre isso e tento fazer algo parecido aqui.

De volta ao escritor que criamos. Fizemos isso durante a aula, para tirar sarro de todos aqueles escritores dos séculos 18 e 19, cujas vidas sempre eram marcadas pela tragédia, por casamentos incestuosos e pela morte prematura. Porque, sim, se você analisar as vidas dos escritores abordados nas aulas de literatura, verá que suas histórias são tão semelhantes entre si que parecem até mesmo seguir um manual.

Enfim, para ilustrar melhor, vou tentar criar aqui uma biografia nestes mesmos moldes. As incongruências de idade não apenas são propositais, como a grande graça da coisa.

1821 – Nasce no Rio de Janeiro.

1823 – É alfabetizado em sua própria casa, aprendendo a ler praticamente sozinho. Tem seus primeiros contos publicados em periódicos da época.

1824 – Perde dois irmãos devido à varíola. Como ficava o dia todo no quarto escrevendo, fica sabendo das mortes apenas quatro meses depois, num dia em que resolve ir até a cozinha pegar algo para comer.

1825 – Publica seu primeiro romance, que tem repercussão morna da crítica.

1826 – Afasta-se da vida pública, dedicando-se cada vez mais à literatura. Logo após seu quinto aniversário, passa a trabalhar como escriturário na capital carioca.

1827 – Casa-se com Ludmilla, sua prima, dois anos mais nova. Publica seu segundo romance. Apesar de bastante elogiada pelos escritores contemporâneos, não vende nada.

1828 – Nasce seu primeiro filho.

1829 – Publica uma antologia de contos. Começa a trabalhar em seu terceiro romance.

1830 – Internado às pressas com cólica renal, é desenganado pelos médicos. Contudo, recupera-se milagrosamente. Aos amigos mais próximos, confidencia que, por ser um escritor do século 19, recusa-se a morrer de qualquer doença que não seja tuberculose.

1831 – Publica seu terceiro romance. Ao mesmo tempo, começa a escrever críticas literárias em jornais da época. Nasce seu segundo filho.

1832 – Sofre uma crise nervosa, e, ao socar uma geladeira, fratura a mão direita, precisando ficar quase um mês engessado, sem poder escrever. Ao final do terceiro dia, já está enlouquecendo.

1833 – Aos dez anos de idade, Ludmilla falece de causas naturais. Publica seu quarto romance, massacrado pelos críticos pelo tom sombrio, com uma trama que gira em torno de morte, luto e braços engessados.

1834 – Volta a escrever contos e crônicas, mas garante seu sustento traduzindo obras estrangeiras para sua publicação no Brasil.

1835 – Passa a freqüentar a boêmia carioca. Seu quinto romance, publicado ao final do ano, e redigido em tempo recorde (três dias) dentro de um bar.

1836 – Começa a demonstrar os primeiros sintomas de tuberculose. O fato de tentar amenizar a doença com cachaça – e de varar noites escrevendo – apenas piora suas condições.

1837 – Recupera-se parcialmente, mas deixa de escrever para os jornais. Em contrapartida, escreve quatro romances em poucos meses.

1838 – Sofrendo novamente graves crises de tuberculose, passa a maior parte do tempo em casa, ao lado de Cândida, enfermeira contratada pelos seus filhos.

1839 – Casa-se com Cândida. Publica seus últimos contos.

1840 – Morre no Rio de Janeiro, aos dezenove anos, em decorrência da tuberculose, deixando seu décimo romance incompleto.


O Código de Gordon

12 comentários:

Natalia Máximo disse...

Quanto tempo você demorou pra digitar esse texto?

Rob Gordon disse...

Natália:

Algo entre 1 hora e meia, 2 horas, ontem à noite.

Rob

Gilmar Gomes disse...

eu achei que o braço engessado era seu... grandes possibilidades...

Garbo disse...

ahahahahaha podia fazer isso com pintores tb, eles sempre tinham vidas desgracadas e morriam pobres

Ana Savini disse...

Gente que quebra a mão tendo crise nervosa.
:P

Varotto disse...

É... É melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez...

Anônimo disse...

Ai, tadinho do dono do braço, mas aposto que ele tem muito mais que dezenove anos.

G7 disse...

adorei! é praticamente a biografia do Antero de Quental, que passou a vida inteira de bruços devido a uma doença rara e conseguiu se suicidar com DOIS tiros na boca. Só nao sei como ele deu o segundo tiro.

A ju estava em um azedume atômico e li seu texto para ela, que agora nao para de rir. Qual o número da conta pelo serviço prestado?

G7

Climão Tahiti disse...

Vc tende ao suicídio.

Acidental.

Tomara que case logo e a sua Lois Lane (ou seria Kara?) salve sua vida. Você não pode mais ficar sozinho.

Sua mãe concordaria comigo. Se seu irmão ler esse post vai ter chamar de bicha sentimental.

=p

Nelson disse...

Eu entendi bem? Vc socou a geladeira?

Lembrei do meu pai que chegou bêbado em casa um dia e resolveu dar um soco na parede. Conseguiu quebrar a mão inteira, ficando quase 6 meses engessado, hehe.

E parabéns pelo texto. O cara ter os primeiros contos publicados com 2 anos de idade foi genial, hahaha.

Natan Mestrinelli disse...

A geladeira está bem?

Letícia disse...

Século XIX: o melhor século da História (o resto é só adorno)