20 de outubro de 2010

Sonhos de Kurosawa Gordon VIII

Eu estava numa sala de aula da minha faculdade. E havia chegado atrasado, entrei na classe quando a aula já havia começado. Era cedo, eu sentia sono. A sala estava um pouco escura, pois o professor – seja ele quem for – estava exibindo um filme, com uma TV à frente dos alunos.

Sentei-me no fundo da sala, ao lado de um amigo que estudou na faculdade comigo.

Olhei para a TV. O corpo de uma mulher vagava pelo fundo do oceano.
Subitamente, eu não estava mais na sala de aula, mas sim dentro da televisão, nadando pelo oceano ao lado do corpo e vendo tudo de perto.

Era meio cadáver, na verdade. O corpo estava cortado na altura do abdômen, com os órgãos escapando para fora. Um dos intestinos saía do corpo como uma corda, e era puxado por tubarões que tentavam devorar o cadáver, fazendo com que ele dançasse de um lado para o outro no oceano. A cada vez que os tubarões puxavam o corpo, ele flutuava rapidamente por metros, chegando até mesmo a sumir da minha vista, para depois reaparecer. Um dos tubarões estava morto, deitado sobre uma rocha no fundo do mar.

E tudo aquilo parecia familiar demais.

– Como você resolveu isso?

Quando meu amigo fez esta pergunta, eu voltei para a sala de aula. Estava novamente fora da TV e compreendi o senso de familiaridade das imagens. Eu era estudante, mas havia ajudado na investigação deste crime, aparentemente de alguma forma que havia sido decisiva para a solução do crime. Quase como uma consultoria. E foi aí que eu percebi que eu era famoso por causa disso.

Duas pessoas entraram na sala de aula. Eram policiais, com roupas de investigador e, da porta, acenaram para que eu fosse até eles. Outro crime havia sido cometido. Precisavam da minha ajuda.

Levantei-me e virei para o meu amigo:

– Anote tudo o que falarem na aula para mim, depois eu pego com você. Eu preciso ir, não sei que horas volto.

Tentando não fazer alarde, passei pelas cadeiras, tomando cuidado para não pisar nas malas e bolsas ao chão, e fui em direção à porta, onde os inspetores me aguardavam.

Estava em Moema, numa rua próxima à casa da minha mãe, com dois amigos que cresceram comigo no bairro. Estávamos procurando uma casa – eu estava investigando um novo crime, e eles estavam me ajudando. Paramos em frente a uma casa velha, com um muro baixinho e portão de madeira. Uma mulher de meia-idade estava parada na calçada segurando uma vassoura (esta imagem é bastante recorrente nos meus sonhos).

Perguntamos a ela pela casa que desejávamos encontrar e ela respondeu, de forma brusca:

– Vocês vieram trepar?

Respondemos que não. Não falamos nada da investigação, apenas que estávamos procurando por aquela casa. Talvez tenhamos dado uma desculpa, não lembro. Mas ela continuou:

– Essa casa que vocês querem encontrar é um puteiro. Vocês estão indo lá para trepar!, ela gritou

Não me dei ao trabalho de negar. Mesmo porque esse álibi, “ir lá para trepar” seria ótimo para mim, pois, além de me dar um motivo para entrar na casa, me daria oportunidade de circular livremente lá dentro.

A casa ficava logo ao lado, e entramos nela, após cruzar um jardim mal cuidado, e ainda sob os gritos da mulher, que alertava as pessoas da casa:

– Esses meninos estão entrando aí atrás de mulher.

Não me recordo ao certo da sala, mas era pequena. Mas a escada era a mesma da casa de um amigo meu – cuja construção é idêntica à casa da minha mãe – e eu comecei a subir, sozinho. Meus amigos desapareceram. Definitivamente, era a casa dele. Fiz a curva na escada e fui subindo os degraus devagar.

Novamente como na casa da minha mãe, a escada terminava em corredor. Eu poderia virar à esquerda ou à direita. No meio da escada, ouvi gritos, vindos da direita. Era a voz da irmã do meu amigo:

– Não venha aqui, porque eu estou tomando banho de porta aberta.

E eu respondi, sem parar de subir:

– Eu não tenho interesse em olhar aí. Eu quero ir para o quarto do seu irmão.

– Não interessa! Não venha para cá! – ela devolveu.

Eu estava quase no topo da escada, faltavam apenas uns três degraus.

– Fulana – eu disse, chamando-a pelo nome – eu venho aqui todos os dias e sempre viro à esquerda, para o quarto do seu irmão. Sempre. E não é hoje que eu vou virar à direita. Eu estou investigando um crime, e e que eu procuro está no quarto da frente.

Ela não respondeu.

Terminei de subir a escada e, já no andar superior, dobrei à esquerda.

Tudo o que eu precisava fazer era cruzar o corredor e alcançar o último quarto.

Acordei.


14 comentários:

Mauro disse...

mas e o puteiro? onde foi parar??

historia louca, parece ate sonho...

Climão Tahiti disse...

Onde estão as dorgas?

Bem sonho mesmo... E como sempre, sem fim.

Sil disse...

Porque a gente sempre acorda antes de saber o final?

Acho que os sonhos fazem isso de propósito, para nos deixar curiosos e nos fazer dormir novamente esperando que o sonho continue de onde parou como um episódio de duas partes de um seriado.
;P

Varotto disse...

É... por isso você faz terapia.

P.S.: Mulher com vassoura? Não sei não...

Pedro Lucas Rocha Cabral de Vasconcellos disse...

Bem sonhesco, os meus são nesse nível, mas eu nunca consigo lembrar tempo suficiente pra escrever...

Filipe Ribeiro disse...

Rob, Rob... Você está vendo CSI demais... haha

Otavio Oliveira disse...

e eu que outro dia, no sonho, não era ninguem do csi, era o proprio cobb, do inception. e caminhava de um nível de sonho pro outro. bizarro.

como disse o pedro, bem sonhesco.

Natan disse...

Ah, Rob. Você me envergonha. ¬¬"
VOCÊ TINHA QUE IR PRA DIREITA!!!
O crime ainda ia acontecer, e não era um assassinato, entendeu? Por isso que o sonho acabou, vc foi pro lado errado e deu GAME OVER.

Patrícia Lerbarch disse...

Humm... acho q vou começar a escrever meus sonhos tb, se bem q eles são incontáveis, incompreensíveis e outros ins que qser...

Caio Ranieri disse...

Sil disse...
Porque a gente sempre acorda antes de saber o final?

Acho que os sonhos fazem isso de propósito, para nos deixar curiosos e nos fazer dormir novamente esperando que o sonho continue de onde parou como um episódio de duas partes de um seriado.
;P
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Eu já tive sonhos divididos em capítulos, que duravam mais de uma semana, e tinham fim. Juro que é verdade.

Só que eu ainda era moleque, me lembro muito vagamente. Hoje meus sonho são mais sem-sentido dos que eu já ouvi de outras pessoas.

Kel Sodré disse...

Tá vendo quê que dá ficar vendo esse monte de filme e ficar jogando esse monte de videogame, menino?

Unknown disse...

Nossa,parece aqueles filmes que passam na madrugada no TC Cult.Sonho movido a cogumelos azuis?
Como diria minha professora de Liguística:"Essa costura de retalhos nem sempre faz sentido pra quem ouve,só pra quem fala".
Abraço.

littlemarininha disse...

É impressionante como a gente sempre acorda e estraga tudo! ¬¬

Letícia disse...

Os sonhos de Rob Gordon... seus sonhos deveriam se encaixar na lei Rouanet para serem filmados. Ou quem sabe, entrar nas licitações de Paulinia a Hollywood brasileira (shame....), vulga minha cidade.

Abraços!