31 de agosto de 2010

Zumbilândia

Ninguém sabe como começou.

Num primeiro momento, eram apenas rumores esparsos. Numa pequena cidade da Inglaterra, uma idosa levantou-se de seu caixão durante o velório, causando pânico no local. Em Bangcoc, um médico legista afirmou que um dos cadáveres no qual fazia autópsia havia tentado morder seu braço.


Logo ficou claro estes incidentes não eram boatos ou textos sensacionalistas. E tampouco se tratavam de casos isolados. Logo, a notícias ganharam os principais portais e telejornais do planeta: os mortos haviam voltado à vida e estavam atacando as pessoas.


Poucas horas depois, o caos havia se instalado nas grandes cidades. Imagens de pessoas ainda vivas sendo devoradas por zumbis no meio da rua correram o mundo, entrando em todos os lares e causando pânico na população. Cemitérios estavam povoados de cadáveres reanimados que, aos poucos, ganhavam as ruas, fazendo novas vítimas. Os hospitais, com salas e corredores abarrotados de feridos, tornaram-se verdadeiras fábricas de zumbis.


As grandes metrópoles foram as primeiras a cair. Os sobreviventes tentaram desesperadamente fugir com suas famílias para locais mais desolados, o que acarretou em engarrafamentos e desastres, que tornavam as pessoas presas fáceis para as criaturas. Saques em supermercados e lojas de conveniência pioraram ainda mais a situação.


Diversas nações enviaram o exército para combater as criaturas, mas o número de zumbis aumentava rapidamente. Logo a munição se tornou insuficiente. Pouco depois, o número de soldados se tornou insuficiente.


Era impossível conter a infestação.


Em apenas alguns dias, o número de zumbis se tornou maior que o de pessoas vivas. Cidades que antes pulsavam vida agora serviam como morada para milhões de criaturas putrefatas que se arrastavam de forma trôpega pelas ruas e calçadas, em busca de alimento. Os meios de comunicação deixaram de existir. Primeiro, a internet. Logo depois, os canais de televisão começaram a sair do ar.


Poucas semanas depois, a humanidade havia sido arremessada de volta à pré-história. Não existia mais luz, água ou energia. Os poucos sobreviventes abrigavam-se em acampamentos afastados das grandes cidades, onde o número de zumbis era menor – e o odor era mais suportável. O homem precisou reaprender a caçar, ao mesmo tempo em descobriu que, antes de tudo, ele era uma presa em potencial da nova espécie dominante do planeta.


Como eu prometi alguns dias atrás, é hora de falar do outro aplicativo do meu celular.

Eu sempre fui encantado por filmes e histórias de mortos vivos. Sempre, desde moleque. Porque eu acho que eles têm um diferencial a respeito dos filmes e livros com outros monstros, como vampiros e lobisomens. Ao invés de colocar uma ou duas pessoas como vítimas, ele coloca toda a espécie humana em risco. A grande graça dos filmes de mortos vivos é que os mortos vivos não são os vilões, mas sim o cenário. Os vilões propriamente ditos são os humanos, e, principalmente, a forma como eles agem em momentos de desespero.

Estão aí todos os filmes do Romero; Extermínio e sua sequência; e a série de quadrinhos Walking Dead, que não me deixam mentir.

E é justamente por isso que, assim que comecei a procurar jogos para o meu novo celular, uma das primeiras buscas que eu fiz foi com a palavra “zombie”. E foi assim que eu encontrei o jogo chamado Zombie, Run!, que usa o GPS do aparelho para colocar você na pele de um sobrevivente em meio a uma infestação morta viva.

Ele funciona da seguinte forma. Primeiro, ele captura sua localização; logo em seguida, você precisa colocar seu destino. Feito isso, você seleciona suas opções e pronto: você está no meio de uma infestação de mortos vivos.

Testei a primeira vez num dia em que fui para a casa da minha mãe. Assim que coloquei os pés em Moema, saquei o celular do bolso. Ele imediatamente me localizou ali e eu regulei meu destino, que ficava a umas cinco quadras de distância. Feito isso, hora de começar a trabalhar os zumbis.

A primeira escolha a fazer é o nível de infestação. As opções são: “Epidemia controlada”, “Epidemia local no início”, “Epidemia local avançada” e “Pandemônio”.

Fui de “Epidemia local avançada”.

Aí, é o momento de escolher a velocidade dos zumbis, com as opções: “A Noite dos Mortos Vivos – 2 mi/h”, “Resident Evil – 5 mi/h” e “Extermínio – 8 mi/h”.

Como eu sou purista (quem gosta de filmes de mortos vivos sabe que a trilogia do Romero é a Bíblia da coisa), escolhi A Noite dos Mortos Vivos. Além disso, eu fumo. Jamais seria páreo para aquelas criaturas de Extermínio, e seria vergonhoso eu perder o fôlego antes de uma pessoa que já morreu.

E dei o ok.

Imediatamente, surgiu o mapa de onde eu estava na tela. Era a mesma Moema que eu cresci, com as ruas pelas quais andei a maior parte da minha vida. Infestadas de mortos vivos. Grupos de zumbis se arrastavam pelas alamedas em busca de alimento. E o único alimento disponível era eu.

Comecei a andar em direção à casa da minha mãe, e logo o celular vibrou na minha mão. Alguns zumbis a cerca de 50 metros à minha esquerda haviam percebido minha presença (eles deixaram de ser verdes, no mapa, e se tornaram vermelhos) e começaram a caminhar na minha direção.

Respirei fundo e mantive minha velocidade. Eu estava andando apressado, mas quem me conhece sabe que eu sempre ando apressado. O fato de ser um domingo, logo antes do almoço, fazia com que as ruas estivessem quase vazias. O celular continuou vibrando na minha mão. Olhei para o visor e uns quatro ou cinco zumbis, na porta do Shopping Ibirapuera, também haviam me farejado.

Olhei ao redor procurando qualquer coisa que eu pudesse usar como arma. Nada.

– É só um jogo, resmunguei baixinho e continuei andando.

E consegui andar por meio quarteirão, antes de sentir o celular vibrando novamente. O mapa não deixava dúvidas: uns cem metros na minha frente, alguns zumbis – já vermelhos no mapa – planejavam o jantar, com meu nome no cardápio. Olhei as ruas laterais. Infestadas. Não havia alternativa.

Fui me aproximando e olhando o mapa. Estava olhando quando o celular piscou, mostrando outro grupo de zumbis, na rua que eu estava prestes a atravessar (e estava já a uns cinqüenta metros do grupo à minha frente). E estes novos estavam a coisa de dez, quinze metros de mim.

Ou seja, não havia tempo para pensar.

Ou seja, fudeu.

Olhei no celular novamente e encontrei uma alternativa. Os zumbis à minha frente estavam caminhando na minha direção, mas pela outra calçada. Eles ainda precisariam atravessar a rua para me cercar. O grupo novo, porém, se aproximava rapidamente, na mesma calçada em que eu estava.

Segurei o celular com força na mão e corri.

Corri como se não houvesse amanhã. Mesmo porque se eu ficasse parado, não haveria amanhã.

Senti o celular vibrando feito um desesperado na minha mão, mas ignorei. Se eu parasse para consultar o mapa, seria devorado. Corri por duas quadras, sem parar. Passei pelo manobrista de um estacionamento e por um casal que passeava de mãos dadas – felizmente, todos estavam vivos.

Quando cheguei à esquina da casa da minha mãe, parei e arrisquei uma rápida olhada no mapa. Senti o suor escorrendo pelas minhas costas, o coração acelerado. Os zumbis continuavam atrás de mim. Pobre manobrista, pobre casal. Não deram nem para o cheiro.

Mas, mesmo ainda me perseguindo, os zumbis haviam ficado para trás. Eu estava a uma distância segura.

Assim, fui caminhando em direção à casa da minha mãe e recuperando o fôlego. Contudo, antes de eu tocar a campainha, meu celular vibrou novamente. Gelei. No mínimo, as pessoas na casa da minha mãe tinham se tornado zumbis também.

Peguei o celular torcendo secretamente para o zumbi ser o meu irmão, o que me daria motivos para finalmente dar com uma pá na cabeça dele ou coisa parecida, mas a notícia era tão boa quanto isso. Piscando na tela estava a palavra “sobrevivente”.

Respirei aliviado e toquei a campainha. Minha mãe atendeu.

– Você veio correndo?

– Vim.

– Mas aconteceu algo?

– Como assim, aconteceu algo? O mundo inteiro infestado de zumbis, e você me pergunta se aconteceu algo? Eu quase morri ali perto da padaria!
– Oi?

– Nada. Deixa. O que tem de almoço?

15 comentários:

Otavio Oliveira disse...

Rob of the dead. só falta escolher o cemitério, o shopping ou a base paramilitar.

vc é doente.

Alexandre Greghi disse...

Filhodap@$#... e eu sem celular!
Que do caraco! Deu pra imaginar vc como no "Shawn of de dead"... um casal indo tranquilamente no mercado e o cara desesperado passando correndo.
Sensacional!

Ana disse...

Só existe 1 coisa no mundo mais legal q Zumbis, q é: cachorrinhos.
Mas na verdade acho q não podemos colocá-los na mesma categoria, então na categoria awesome dead creatures, zumbis está em 1o lugar, com certeza.

Rafiki Papio disse...

Você daria um zumbi interessante!

Pedro Lucas Rocha Cabral de Vasconcellos disse...

Rob como um dos últimos sobreviventes da raça humana...

CORRE MOÇADA!!!

Sil disse...

Eu adorei o aplicativo.

Mas queria mesmo era ter visto você correndo por Moema em pleno domingo :D

Charlie disse...

Preciso de um desses...

Ricardo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo disse...

Rob a Sil está certa.

Da proxima vez saia filmando o mundo ao seu redor enquanto os zumbis te perseguem'uma parada meio REC sabe?

Otávio e esta historia de shoping é muito complicada, os Shoping tem muitas entradas e geralmente partes de vidro muito facil de ser invadida por uma horda maluca de Zumbis assassinos berrrandos "Braaaaiiinnnn" a parada para sobreviver é passar em uma delegacia para ter munição depois ir para um Supermercado que tem muito mais comida não perecivel além de roupas, televisão e em alguns casos até bicicletas

Jullia A. disse...

hehehe.
Rob, quando voce nao tiver nada pra fazer, procura um jogo que se chama Plants vs. Zombies. 'E muuuito legal.
Ainda to na febre, e quando voce passa pro segundo round, voce ganha um jardim zen.
'e o maximo.

Varotto disse...

Fala, doente!

Que bom que você escapou.

Desta vez...

Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain! Brain!

Nelson disse...

Procure o jogo "The Last Stand 2", no Armor Games tem. É simplesmente o melhor jogo de zombie survivor que eu já vi (em flash, não sei se tem pra celular). Bem no estilão do Romero, sobrevivência total.

Agora, quero ver vc sobreviver a um Pandemônio na Av. Paulista, na hora do rush, haha. E não vale pegar metrô.

abraço Rob!

MarianaMSDias disse...

É... um aplicativo que simula uma infestação de mortos vivos, um gordinho careca de 1,50m correndo pelo bairro de Moema e o pior de tudo, um homem às margens de completar de 35 anos que torna isso PÚBLICO.

Que bom, Rob, que vc voltou ao normal!

Climão Tahiti disse...

No meu plano de dados não dura 5 minutos a invasão e a Claro corta por falta de créditos. =p

Irmão do Rob disse...

Rob
Fica tranquilo, os zumbis jamais comeriam algo nojento como você hahaha

E mesmo eu como zumbi e vc com uma pá ainda te arrebento. Por sinal é o que vou fazer esse feriado qdo vc e a sra gordon vierem visitar o meu filho!