19 de agosto de 2010

Somewhere Back in Time

Foram semanas de espera e está aqui na minha frente.

Eu olho de soslaio, enquanto trabalho, e finjo que não está ali. Fico apenas saboreando a idéia de que é meu, que será sempre meu. Posso usar o dia inteiro, posso usar a hora que quiser.

E, me desafio a cada instante a deixar ali, quieto, à minha frente. Intocável.

E, enquanto escrevo, sei que estou sendo olhado. Finjo que não está ali, mas sei que ele está me observando. Implorando. Provocando. Brilhando. E eu, sádico – e masoquista – banco o difícil, não me entrego. Brinco comigo mesmo.

Porque eu sei que quando abrir, meu dia vai mudar. Vai explodir. Emocionalmente. Afinal, não é apenas ele, é tudo o que ele traz.

São memórias de quando eu era menino e sabia menos do que achava que sabia, mas me divertia. São lembranças de quando eu já era mais adulto – mas ainda sabia menos do que achava que sabia – e aprendia. E são reminiscências mais recentes, da semana passada, quando eu já não estava mais preocupado em medir o quanto eu sabia. E ele ainda estava lá.

Lembro-me de quando conheci. Lembro exatamente como foi, onde eu estava e qual foi minha reação. E do que senti. Tenho guardado em mim cada vez que encontrei pessoalmente: foram três, sendo que na última, em determinado momento, explodi em lágrimas, quando ouvi novamente as mesmas frases que ouvi no dia que conheci, e que me jogaram de volta aos catorze anos.

São vinte anos de relacionamento. Foram fases boas e ruins, mas acho que um relacionamento, qualquer que seja ele, é feito disso: de fases boas e ruins. Eu mudei, mas meu amor não mudou. Eu mudei, mas o significado disso nunca mudou. Aliás, mudou. Cresceu. Afinal, é difícil não crescer quando se percebe que algo acompanhou você durante a maior parte da sua vida.

E é difícil não pensar nisso tudo e não se emocionar quando é hora de reencontrar.

E logo vou reencontrar. Assim que eu terminar este texto.

Porque toda vez que eu compro um CD novo do Iron Maiden, eu faço isso: compro no primeiro momento que eu encontro na loja e deixo na minha mesa, ao meu lado, durante alguns momentos, saboreando a idéia de que eu tenho um CD novo deles, e que existem músicas deles que nunca ouvi, e que eu vou escutar pela primeira vez em alguns instantes.

Quem me conhece, sabe que eu tenho fases musicais. Às vezes mergulho no blues, em Chico Buarque, Beethoven, Beatles. Mas eu sempre volto ao heavy metal, especialmente às bandas dos anos 70 e 80. É onde me sinto em casa, musicalmente falando. Passo por Metallica, Black Sabbath, Judas Priest, Megadeth, Slayer.

E termino em Iron Maiden. Dentro da minha casa, Iron Maiden é o meu quarto. E, daqui a minutos, vou voltar aos meus catorze anos e me trancar dentro deste quarto para ouvir o disco novo.

E é por isso que eu reluto em ouvir – acabei de descobrir. É para evitar a sensação de que daqui a pouco mais de uma hora, eu estarei de volta ao “não existe nada do Iron Maiden que eu não tenha escutado”. Por isso eu adio, pelo tempo que consigo, colocar o CD para tocar.

Eu quero prolongar ao máximo aquela sensação que acontece a cada dois ou três anos, de “tem um disco inteiro – INTEIRO! – do Iron que eu nunca ouvi”.

Porque sentir isso me leva diretamente aos catorze anos, ao dia em que simplesmente enlouqueci assistindo ao clipe de Wasted Years no saudoso Clip Trip, da Rede Gazeta. Menos de uma hora depois, estava no Shopping Ibirapuera comprando o vinil de No Prayer for the Dying (peguei dinheiro escondido da carteira da minha mãe), que até hoje tem um significado especial demais para mim. Não é nem de longe o melhor disco deles (ainda é Powerslave), pelo contrário, é um dos mais fracos. Mas ainda é o MEU disco do Iron Maiden.

E, a partir daí, mergulhei – numa era pré-internet – na tarefa de descobrir mais sobre a banda, os discos, os integrantes, e, principalmente, as letras das músicas. Sim, eu já era “letras” nessa época, mesmo sem saber disso.

Hoje, eu tenho um disco novo para descobrir.

Hoje, eu tenho catorze anos e uma vida inteira pela frente.

Hoje, eu quis compartilhar esse momento, que acontece entre eu comprar um disco do Iron e colocá-lo para ouvir, com vocês.


12 comentários:

Perci Carvalho disse...

uau...outro disco do iron que eu nunca ouvirei todo...

nhá comentando só pra constar que ainda to viva e que ainda leio o blog...

Natalia Máximo disse...

Sempre terei medo do Eddie. E é por causa desse trauma que eu não ouço Iron Maiden. Ah, pode agradecer meu irmão, beijos

Varotto disse...

UP THE IRONS!

Climão Tahiti disse...

UP THE IRONS! [2]

Fabi disse...

Cara, eu devo estar ovulando, porque na metade do texto já 'tava marejando.

Ana Savini disse...

UP THE IRONS! [3]

Alessandra Costa disse...

Putz, não acredito que saiu o novo CD do Iron \õ/
Eu preciso, eu necessito comprar, haha
quando tu ouvir tem que fazer um post sobre o que achou do CD :)

Pedro Lucas Rocha Cabral de Vasconcellos disse...

UP THE IRONS![4]

Luis Filipe disse...

UP THE IRONS!!!

ótimo cd o the final frontier, muito melhor que o a matter.

Interessante como todo mundo tem uma história legal de como decobriu o iron e o heavy metal

Tyler Bazz disse...

UP YOURS!!!

(errei :/)

Ana Savini disse...

"Tyler Bazz disse...
UP YOURS!!!

(errei :/)"

Fiquei meia hora rindo disso.
Tyler doente.

Alessandra Costa disse...

"...E termino em Iron Maiden. Dentro da minha casa, Iron Maiden é o meu quarto. "
Sim, estou comentando de novo, mas é porque eu percebi que essa frase é minha também.
UP THE IRONS!