Antes de tudo, agradeço aos comentários do post anterior, que me mostraram bastante a respeito de como vocês enxergam o blog – e conhecer seus leitores é algo de grande importância para quem escreve – além de caracterizar a via de mão dupla que eu sempre quis que fosse uma das marcas aqui no Champ.
Enfim, como algumas pessoas pediram, posto a entrevista na íntegra. Quem não sabe do que estou falando, trata-se de uma entrevista que fui convidado a responder por uma estudante que escolheu blogs como tema de sua tese de mestrado.
Chamou minha atenção o fato de que, mais que perguntar sobre textos e forma de escrever, ela abordou basicamente o meu relacionamento com o blog – e, consequentemente, com os leitores –, que considero um assunto muito mais interessante.
Sendo assim, se você é um blogueiro iniciante e está atrás de dica para manter um blog (ou para fazê-lo crescer), como é de costume em outras entrevistas com blogueiros, não encontrará isso aqui. Mas, para você não perder a viagem, o conselho que dou é: apaixone-se pelo seu blog. Se isso não acontecer, não vai funcionar.
Já os demais, espero que gostem da entrevista tanto quando eu gostei de respondê-la.
Como surgiu a idéia de criar um blog?
Eu sempre gostei de escrever e, pouco antes de criar o blog, participei do site de alguns conhecidos com crônicas. Mas o site acabou não indo para frente, e resolvi criar o blog, para ter simplesmente onde postar o que eu escrevia. A coisa acabou crescendo, e, com o tempo, se inverteu: ao invés de eu ter o post para publicar o que escrevia, eu comecei a escrever para publicar no blog.
O que te levava a querer escrever e publicar na internet?
Como eu disse acima, meu blog começou como um lugar onde eu pudesse postar o que escrevo. Mas, aos poucos, descobri que é fácil você ser lido se o seu texto está na internet. E todo mundo que escreve gosta de ser lido.
Revela a sua intimidade no blog? Há assuntos sobre os quais não escreveria ali?
Revelo, mas em doses moderadas. Mas existem muitos assuntos sobre os quais não escreveria, sejam eles coisas extremamente pessoais ou simplesmente assuntos sobre os quais não tenho nada a dizer.
Por que pensou em escrever sobre sua própria vida ou ponto de vista (seja sua rotina, reflexões sobre o mundo ou sobre os mais diversos assuntos)?
Toda vez que eu contava aos amigos algo que havia acontecido comigo, as pessoas diziam que eu “sabia contar histórias”. Aos poucos, descobri que sei fazer isso também escrevendo. Nada é mais recompensador do que as pessoas comentarem sobre algo que aconteceu com você, dizendo que gargalharam ao ler o texto.
Escreve sobre o que acontece em sua vida real ou mistura ficção (inventa situações)?
No Championship Vinyl, sempre sobre fatos que aconteceram. Ficção, deixo para o Chronicles. Mas nem tudo o que está no Chronicles é ficção – às vezes, coloco coisas verdadeiras ali, que aconteceram comigo, coisas que senti, mas que eu quis mascarar como ficção.
Como você se enxerga sendo lido no blog: os leitores se deparam com você de verdade ou com um personagem? (quem lê o blog sabe quem você é ou cria na mente outra pessoa?)
Boa pergunta. Obviamente, meus amigos (ou colegas blogueiros que estão no meu Messenger) devem me colocar no centro das histórias. Já os demais leitores, não faço idéia de como eles me enxergam. Aliás, esta é uma boa pergunta para eu levantar no blog.
Como acha que os leitores o vêem: pensam que os posts são seu retrato fiel ou que os textos postados reproduzem um personagem inventado?
Difícil responder isso. Quando escrevo no blog, reconheço que sou eu, a pessoa real, falando. Mas, como assino com um pseudônimo – e todos os meus leitores se referem a mim por ele – eu não sei mais onde eu termino e onde começa o Rob Gordon. Acho que podemos dizer que é um retrato fiel meu, mas apenas com outro nome.
Vê alguma semelhança entre seu blog e aqueles antigos diários de papel? Em que sentido acha que podem ser parecidos (blog e diário) e em que sentido acha que são diferentes?
Vejo semelhança entre muitos blogs e os antigos diários de papel, mas não vejo isso no meu, por um motivo: o diário de papel era algo secreto, a pessoa usava para desabafar sozinha. No meu caso, eu escrevo pensando não apenas em conteúdo, mas também em forma e estilo, porque sei que alguém irá ler. Ou seja, por mais que eu escreva “para mim” (no sentido de escrevo “o que quiser sobre o que eu quiser”), eu tenho uma responsabilidade com quem irá ler. Então, tenho preocupação com qualidade de texto e, claro, com algumas opiniões que dou ali. Diferente do que acontecia com os diários de papel, eu preciso ter responsabilidade sobre o texto, porque, a partir do momento que eu coloco ele no blog, ele deixa de ser exclusividade minha, e passa a ser dos leitores também.
O que te levava a querer escrever e publicar na internet quando começou a pensar em criar o blog é o mesmo que te leva a continuar escrevendo hoje em dia?
Não. No começo, eu escrevia para mim. Talvez até para me testar (“será que eu consigo escrever sobre isso?”). Hoje, eu escrevo para os leitores.
O que escreve no blog interfere de alguma forma na sua vida? (por exemplo, pára para pensar sobre determinados assuntos na hora em que está escrevendo ou se entende melhor porque escreve)
Das opções que você deu, experimento as duas. Às vezes, penso muito sobre um assunto antes de postar. Em outras, só consigo entender melhor como eu vejo aquele tema quando escrevo no blog – já cheguei a perceber que eu havia mudado de opinião sobre determinado assunto no meio do texto.
Alguma vez na vida já fez algo (falou algo, foi a algum lugar, tomou uma decisão) porque achou que seria interessante publicar no blog depois?
Sem dúvida alguma. Já cheguei a desviar meu caminho na rua para ver de perto uma briga, uma discussão, ou qualquer outro fato inusitado, pensando “isso pode render material para o blog”.
Os blogs podem ser vistos como sendo as novas “editoras” (ou seja, um meio simples e acessível a todos de publicação)? O seu é visto assim por você?
Talvez seja uma editora independente. Essa acessibilidade é excelente, mas é uma faca de dois gumes. Ela é boa, pois qualquer um pode publicar algo; mas ela é ruim pelo mesmo motivo. Assim, como acontece em qualquer boom, acaba ficando muito difícil separar o joio do trigo, pois a facilidade de publicação faz com que muita coisa sem qualidade circule por aí. Meu blog? Meu blog, para mim, é apenas um hobby.
No ranking de importância na sua vida, o blog aparece apenas como um passatempo ou como algo que pode vir a ser (ou já é) mais sério? Por quê?
Começou como passatempo, mas hoje é algo mais sério. Começou a ficar mais sério quando comecei a receber comentários de leitores dizendo que eu deveria escrever um livro. Como sou jornalista e trabalho escrevendo, óbvio que a idéia é apetitosa para mim. Mas ele é sério para mim no sentido de que, às vezes, altero um pouco da minha rotina para conseguir encaixar a produção de um texto do meu blog ao longo do dia. Não tenho planos de ganhar dinheiro com o blog. Mas, se alguém quiser me oferecer algo... Quem sabe? Nunca diga “desta água não beberei”, mesmo porque adoraria poder viver do blog. Mas desde que eu mantenha controle total sobre o conteúdo. Disso eu não abro mão. Por isso, por enquanto, gosto dele assim, livre. Ou, em outras palavras, totalmente meu.
O blog, de alguma forma, é importante para sua vida social (para manter velhos amigos, criar novos amigos, comunicar-se com outras pessoas)?
Bastante. Hoje em dia tenho amigos que conheci pelo blog.
Ter um blog ajuda a materializar (tornar mais claro e palpável para os outros) quem você é?
Nunca pensei sobre isso. Talvez sim. Mas, se isso for verdade, acontece de forma sutil, já que eu sempre sou coadjuvante dos meus textos. O personagem principal é sempre uma determinada situação, e não eu.
De alguma forma você se tornou mais conhecido por ter um blog? Caso sim, isto foi uma surpresa ou já era esperado? Criou o blog, entre outros motivos, para se tornar mais conhecido?
Não, criei o blog apenas para escrever. Mas sei que me tornei, ao menos, um pouco conhecido. Ou, ao menos, o Rob Gordon se tornou. Recebo alguns comentários de leitores dizendo que sou um dos melhores blogueiros que eles conhecem, e que falam do meu blog para os amigos etc. Adoro isso, mas não consigo me ver assim. Sei que tem gente que conhece o Rob Gordon, ou que ouviu falar de mim (muitas buscas do Google que levam ao blog são com meu nome, tipo “blog do Rob Gordon”), mas não me vejo como um destaque da Blogosfera. Tanto em termos de quantidade (existem muitos blogs mais conhecidos que o meu), como em termos de qualidade (existem muitos blogs que eu considero melhores que o meu, em todos os sentidos). O que eu vejo nos comentários que recebo é que sou uma espécie de blog cult – pouca gente conhece, mas quem conhece gosta bastante. Isso tem seu lado positivo: se existe algo em que o meu blog se destaca, com certeza, são os leitores. Leio muitos comentários em outros blogs, e acho difícil encontrar leitores do mesmo nível que os meus, que, muitas vezes, falam coisas mais interessantes que o próprio post, que debatem sobre o assunto que eu escrevi... Isso é algo que me orgulho demais. O dia em que eu perceber que estou escrevendo para pessoas que não têm nada a dizer, eu fecho o blog.
13 comentários:
Comecei a acompanhá-lo a pouco tempo, e já o admiro muito. Poder ler um pouco a respeito de seu processo de interação com o seu próprio blog é muito interessante e, ao mesmo tempo, inspirador.
Obrigada por postar!
Também sou novo por aqui. Acho que em boa parte da entrevista fala pelos blogueiros no geral, esse lance de gostar, de dedicar um tempo para escrever para um blog e tal. Desde os tempos de Multiply até agora, que tenho um blog só blog mesmo, me identifico com vários aspectos aqui. Bem legal. Não comentei no post anterior, mas gostaria de dizer que é sempre bom te ler e você passa a impressão que boa parte do que escreve é você mesmo, com um pouco mais de acidez e cinismo. Aquele lance de colocar aqui algumas (eu disse algumas) coisas que não falaria a outras pessoas fisicamente. Sou meio assim, então, posso estar me refletindo por aqui e estar falando merda. O que importa é que é legal te ler. Grande abraço.
Legal saber como você enxerga o blog, e como pensa para escrever aqui. Essa "via de mão dupla" é muito difícil de ser encontrada em blogs pessoais, e acho que justamente isso que destaca seu blog dos outros em geral.
Agora, escrever livro que é bom, nada né? haha
Eu conheci seu blog fazendo uma pesquisa no Google (eu nunca direi as palavras-chave, mesmo pq já apareceu num daqueles posts que vc faz: "Diga-me o que procuras e te direi quem és", beijos!).
Desde então eu sempre venho aqui. A Bridget.
Eu gosto do seu processo de criação, pois é muito parecido com o meu. Eu sou a Bridget, só que com outro nome. Tudo o que escrevo lá, sou eu. O pseudônimo é por questões óbvias no meu caso e por questões literartísticas no seu. Acho super digno, inclusive.
Qdo vc diz que é preciso gostar do blog, se apaixonar por ele, eu digo mais: É preciso se compromenter com o blog. De forma que inclusive nos dias em que não há o que ser dito, as coisas fluam. Isso não acontece comigo, mas definitivamente acontece com vc.
E eu te admiro muito por causa disso. Além da técnica, além da estrutura montada do texto em si, é preciso ter alma de escritor.
Talvz este meu comentário coubesse melhor no post anterior, mas enfim... That's it.
BRID
Legal saber como você enxerga o blog e como pensa para escrever aqui.
Adoro o blog, os textos são ótimos, parabens.
Adorei a possibilidade do livro^^
Isso me lembra uma coisa que meio que adotei como filosofia, e até já comentamos no MSN: mais importante do que ler, é quem lê.
Quantidade consigo com qualquer merda, mas leitores do que gosto de escrever só sendo muito bom.
E você o é, só não pode deixar os 15 minutos de fama se tornarem canibalizadores. Ego mata, eu mesmo já cometi "egocídio" anos atrás.
Se quiser, te explico por msn depois. =p
Seu blog é um caso raro. É o conceito inicial de blog, aquele do diário pessoal, em que a pessoa conta coisas de seu dia-a-dia, feito de uma forma que passa anos-luz longe de toda a chatice e mesmic(ss)e que os 'blogs de diário' são.
Bom, deu pra perceber que modéstia é uma de suas qualidades... Pra mim és o melhor blogueiro sim. Até porque, não tenho paciência para vasculhar toda a blogosfera atrás de coisas interessantes.
Acompanho seu blog desde dezembro de 2007, indicado por um amigo que é meio que viciado em blogs. Desde lá eu indico para todas as pessoas interessantes que conheço, e 9 entre 10 casos, me agradecem, e perguntam: "De onde ele tira estas histórias?"
E, se escreveres um livro, terei um exemplar com orgulho, pois, apesar de estar em constante bloqueio de criatividade, aprendi a amar meu blog, assim como tu amas o seu. Até sinto vontade de conversar com ele, mas tenho certeza que ele não é tão culto como o Championship, então não responderá.
No mais, continue nos presenteando com sagas e posts engraçadíssimos, capazes até de animar um velório (tá, tá, foi exagero de minha parte, mas exagero é meu sobrenome).
"existem muitos blogs que eu considero melhores que o meu, em todos os sentidos"
é bom ser lembrado...
"O dia em que eu perceber que estou escrevendo para pessoas que não têm nada a dizer, eu fecho o blog."
Ô gente, POR FAVOR, hein? Vamo produzir nessa janelinha aqui, rápido, rápido, rápido!
=D
(Tem muito tempo que não comento, mas não passo um dia sem conferir se tem post novo)
Uau!!Achei espontâneo!
Sabe que eu fiquei pensando que não sei como foi que encontrei o teu blog!? Mas lembro que achei cheio de credibilidade, gostei do que li e póin!
Você acabou falando uma coisa muito verdadeira na última resposta: seu blog não é um dos mais conhecidos da blogosfera, mas é conhecido. Esse meio-termo é o segredo, o que faz um blog ter qualidade. Ser conhecido demais faz com que blogueiros de todo tipo venham comentar qualquer coisa só para aparecerem no "mural de comentários" ou para, talvez, conseguir falar com a "celebridade". No seu caso, você tem excelentes comentários e comentaristas. Você tem amigos. Isso, juntamente com os textos de qualidade, é o que faz um blog valer a pena.
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