17 de abril de 2009

Show do Milhão

Então, é oficial: Ashton Kutcher é a primeira pessoa a ter um milhão de seguidores no Twitter. Como a maioria das pessoas está sabendo, o Sr. Demi Moore desafiou a CNN a ser o primeiro atingir esta meta e ultrapassou a rede de notícias, tornando-se “o número 1 do Twitter”, como alguns portais vêm se referindo ao ator.

Ele comemorou o fato postando um vídeo, na internet, no qual aparece estourando um champanhe ao lado da esposa e de alguns amigos. Não vi o vídeo, mas li uma declaração dele, apontando que isto “significa que uma só pessoa pode ter uma voz tão poderosa como a de um meio de comunicação”.

Não discuto isso. Realmente, uma pessoa ter mais seguidores que a CNN é um feito, mas discuto o fato de Ashton Kutcher de ser “uma só pessoa”. O sujeito come a Demi Moore, tem um programa de televisão e já estrelou diversos filmes de sucesso (se são bons ou não, é outra história). Ou seja, ele é praticamente uma CNN, mas ao invés de ter CNPJ, tem CPF.

Ou alguém vai tentar me convencer aqui que todos os followers do cara decidiram segui-lo porque ele posta coisas interessantes / divertidas / inteligentes? Pode até ser que ele faça isso, – sinceramente, não me interesso muito pelo o que o Ashton Kutcher tem a dizer –, mas aposto (e ganho) que boa parte dos seus seguidores (e quando digo boa parte, é boa parte mesmo) estão ali apenas para poder dizer “eu sigo o Ashton Kutcher”.

Então, Ashton, sua iniciativa é legal e tal, mas não me convence. Se você não fosse uma celebridade, isso sim iria mostrar que “uma só pessoa pode ter uma voz tão poderosa como a de um meio de comunicação”. No seu caso, não vale: você é café-com-leite.

Enquanto Ashton Kutcher arregimentava followers no Twitter graças aos seus “talentos literários”, outra discussão crescia no Twitter: a importância do número de seguidores. Aparentemente, seguidores do Twitter se tornaram uma espécie de cartão de crédito internacional: se você possui, você é feliz, realizado e bem-sucedido. Se você não possui, você é um merda, um Zé-Ruela que não deveria nem sair de casa, seu pulha.

Eu uso o Twitter (meu perfil está aqui), e confesso que estou viciado no negócio. Alguns blogueiros mais próximos sabem que, no início, eu resistia a usá-lo, com medo de esvaziar o Champ. Meu medo era totalmente explicável, já que muitos dos meus posts nascem a partir de uma frase ou de uma piada – eu apenas a faço ganhar corpo, dou um começo e um fim a ela (mas, se um dia vierem me perguntar, eu nunca disse isso a vocês). Entretanto, com o tempo, vi que eu estava errado: o Twitter e o meu blog se completam.

Estou, sim, viciado no Twitter. O que é diferente de estar viciado em “ter cada vez mais followers”. Gosto de ler o que meus amigos escrevem, gosto de pegar opinião dos leitores do blog, mas não acordo todos os dias e vou correndo para o computador ver se o meu número de followers aumentou. Enquanto escrevo isso, tenho 103 followers e não pretendo usar scripts ou fazer um marketing agressivo para colecionar mais e mais followers no meu perfil.

Claro que deve fazer bem para o ego ter milhares de seguidores, mas algumas pessoas parecem acreditar que apenas isso, hoje em dia, define se você é interessante ou não. De repente, começou a corrida para ver quem tem mais pessoas lendo o que você escreve. É a mesma coisa que acontecia com os blogs – e que sempre reclamei aqui – do marketing barato feito pelas pessoas que querem se tornar o novo Kibe Loco, e que estão mais preocupados com números que com qualidade.

Hoje em dia, followers no Twitter são a moeda corrente da net. Agora, o talento de uma pessoa pode ser medido por isso?

Até onde sei, Jesus Cristo tinha followers. No início, deveriam ser 12; mas tenho certeza de que quando o número se seguidores começou a aumentar, Judas Iscariotes, sabendo que ninguém iria reparar, deu um unfollow Nele. Mas, até aí, o Charles Manson também tinha (e ainda tem) seguidores, da mesma forma que Hitler.

Então, fico com a opinião de que não importa o número de followers (ou leitores, no caso de blogueiros) que você tem, mas sim o que você faz a respeito disso. E, se você tem toneladas de followers e a única coisa que faz a respeito é tentar conseguir ainda mais seguidores , bem, é sinal de que você tem toneladas de seguidores e não faz absolutamente nada de útil a respeito disso.

A questão do script, que gerou enormes debates ultimamente, é mais estranha ainda: a pessoa praticamente “rouba” os followers de outras. Ou seja, virou uma espécie de punheta. O sujeito tem 19 mil followers e se sente o máximo por causa disso, mas, quando abre os olhos, sabe que ele tem mesmo uns 300 followers e que aqueles 19 mil eram uma fantasiazinha na mente simplista dele. Que vidinha besta.

E, assim, a coisa vai de vento em popa, com duas correntes divididas: pessoas que usam o Twitter e pessoas que gostam de mostrar que usam o Twitter. Exatamente da mesma forma que acontece com os blogs já há alguns anos. Ou seja, o que poderia ser um negócio extremamente legal (trocar mensagens com dezenas de pessoas ao mesmo tempo), vira uma vitrine para os virgens de plantão conquistarem um simulacro de glória em suas vidas.

E, aí, as pessoas resolvem crucificar o Marcelo Tas porque ele, aproveitando que tem enorme número de seguidores (conquistados nos mesmos moldes do Ashton Kutcher – ou seja, em outras mídias) resolve ganhar dinheiro com isso. Hipocrisia? Talvez. Inveja? Provavelmente. Eu, no lugar dele, faria a mesma coisa, já que obviamente isso não fere a integridade profissional do cara e poderia pagar uma pizza com a Sra. Gordon no final do mês.

É como eu digo: a humanidade não deu certo, e a internet é a prova cabal disso. Em outras palavras, muda-se a merda, mas as moscas, ou melhor, as @moscas, são as mesmas.

21 comentários:

Sir Lucas disse...

Boa, rob.

Particulamente, acho quer o twitter está sendo supervalorizado por todos, e até pelas midias tradicionais, tão resistentes à internet.

Tá na cara que muita gente que clica no "follow" só clicou para depois ganhar mais um seguidor.

Resta saber quando o pessoal que ESCREVE mesmo, sairá do twitter, como sairam do orkut há um tempo.

Flavita disse...

Aplausos!!!

Gilmar Gomes disse...

cara... sinceramente, eu não sei pq caixas dágua eu não consegui me adaptar a essa @porra de twitter...
não dá... não entendo a graça, não entendo a vantagem... e eu tenho um perfil lá... mas não entro fazem uns 50 dias (fiz o mesmo há uns 52 dias)...
acho que vou dar uma olhada lá hoje...

Renan Becker disse...

A comparação com Jesus foi sensacional! uahsuhaush Eu sei que esta falando sério, mais não resisti nessa parte.

Eu não tenho Twitter, sou um nada por isso?

Layla Barlavento disse...

Rob, hoje você merece aplausos de pé. Mais uma vez a supervalorização do ter em detrimento do ser. Isso me enoja.

Layla Barlavento disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Chantinon disse...

Todo dia vejo na TV tudo que é baseado em crescimento. Quem não cresce morre!
Quem não tem um índice maior que isso ou aquilo, morre!
BBB, Orkut, Twitter, blog... Tudo isso tem sua métrica de sucesso baseado em popularidade. Quando iremos falar de qualidade?
E sim, quando iremos falar: "Vamos parar de crescer"
Que tal fabricarmos metade dos carros que são fabricados?
Que tal tomarmos menos coca-cola?
É muito mais fácil seguir a manada.
E ai sim... A Internet é a continuidade da humanidade que não deu certo, mas só que ela propaga os erros com a velocidade da luz.

Arthurius Maximus disse...

Sem contar a tal oferta de todos os jogos da EA. Te garanto que isso pesou muito mais do que qualquer coisa que ele tenha feito.

Redd disse...

eu ainda resisto bravamente ao monstro-Twitter. nada contra quem tá lah, nem contra o próprio twitter. mas e o medão de viciar naquilo e gastar meu tempo de trabalho e coisas mais uteis e importantes? haahha

Thiago da Hora disse...

Se tem algo que eu quero passar longe, esse algo é o Twitter. Não me dou bem com modinhas.

Leandro disse...

sei la'... acho que deve ter umas 10 pessoas que conhecem o meu blog e mais uns 20 que me seguem no Twitter. A questão, bem colocada no seu texto, esta' relacionada a importancia / relevânica dessas pessoas. Particularmente eu prefiro ter 10 (ou menos) pessoas lendo o meu blog o me seguindo no Twitter, mas que essas pessoas estejam realmente interessadas no que eu tenho a escrever.

Vamos esperar o futuro e ver se estamos certos ou errados :-)

Varotto disse...

Rapaiiz... Ainda não entendi direito qual é a desse trem (twitter). Um dia desses junto interesse suficiente para entender melhor.

P.S. : "Efeito borboleta" com o Sr. Demi Moore é um puta filmão, embora o final da cópia americana seja muito melhor e mais sombrio que o que saiu por aqui (estranhamente, ele não consta nem mesmo entre os finais alternativos que saíram nos extras da versão brasileira do DVD).

Unknown disse...

Oi Rob, meu nome é Gabriel. Leio teu blog há muito tempo e gosto muito dos teus textos, especialmente as sagas (a do arroz foi muito inspiradora hehehe). Bem, sendo bem sincero, estou escrevendo porque vou para São Paulo no próximo fim de semana e ficarei num hotel no bairro em que você mora, só que não conheço nada da cidade. Então, se não for um incômodo muito grande, tu poderia entrar em contato comigo (já que não achei um email ou msn teu) apenas pra me dar umas informações? Eu agradeceria muito. Acredito que meu email fiquei no nick, mas de qualquer jeito é gabriel.user@gmail.com. Obrigado Rob! =)

@_xbacon disse...

twitter nada mais é q um orkut compactado, em aproximadamente 2 anos vai estar cheio de virus como e coisas inuteis como o orkut, não q orkut seja totalmente inutil mas a grande maioria das merdas q se ve la é bom isso meu comentario tb é inutil pode ignorar rs

Fábio Buchecha disse...

Eu particularmente na minha própria opinião pessoal íntima acho que está se dando muita importância a esse negócio do script e do Ashton Kutcher.

Não dei follow pra ninguém que me segue via script, não usei o script e não sigo o Ashton Kutcher porque duvido muito que ele tenha algo relevante a dizer. Nenhuma dessas coisas me incomoda. Ponto final.

Vamos deixar isso de lado e twittar com quem a gente verdadeiramente interage e pronto. Simples.

Anônimo disse...

Haahha, lendo o post fiquei curiosa e fui checar meu twitter. Apesar de ter criado o dito cujo há um tempão e ter postado uma só vez, tenho 34 followers. Imagina, sem falar nada, sou esse sucesso, já pensou se eu começar a escrever?

Anônimo disse...

Eu já estava no twitter muito antes dessa coisa explodir. Com outra conta, mas estava.
É a mesma coisa que o boom dos blogs e do Orkut: a bolha vai estourar e só quem vale a pena fica.
Quanto a mim, tenho poucos followers e sigo mais ou menos o mesmo número. Só sigo quem acho que vale a pena, assim acho que me livro dos idiotas que seguem o hype e engordam aquilo ali. Se algum deles quiser me seguir, que o faça; nem vou perceber a existência dele nem vou fazer nada a respeito disso.
Acho que o problema é que as pessoas estão tão vazias que ficam dando importância a balelas como essa questão que vc levantou. Em vez de simplesmente usar a ferramenta, fazem dela um reflexo das suas personalidades fúteis (uh, fui fundo agora, rs).
Enfim. Belo texto. A humanidade não deu mesmo certo e está cada vez mais medíocre.

Otavio Cohen disse...

pra mim, o grande problema do twitter é ele estar se tornando "popular" demais. não que eu ache ruim de todo mundo se divertir do jeito que eu me divirto. longe de mim querer ser um dos poucos privilegiados, nunca tive essa sindrome de one-fan-band. mas quanto mais pessoas entrarem no negócio só pra seguir o ashton kutcher, mais próxima chega a hora que o twitter será bloqueado no meu trabalho... aí será o fim.

Bridget Jones disse...

Eu sigo a Oprah no Twitter.

Prontofalei!

O Lerdo disse...

Na verdade, na verdade, eu acho esse tal de twitter uma coisa muito besta.
Mas tudo bem, em 2004 eu achava a mesma coisa do orkut e olha no que deu ^^'
E pensando bem, o problema não é a ferramenta, mas como as pessoas as subutilizam. Se for pra ter um twitter com um milhão de seguidores que vão saber em primeira mão que eu acabei de dar uma topada com minha unha encravada, é melhor continuar fora da rede hehehe

Sil disse...

Eu segui o AK só de sacanagem, ele não tem nada de útil para acrescentar...nem a Demi, diga-se de passagem, sou muito mais o Rob Gordon, conhece? ;P
E claro, ainda não sei usar esse treco direito...mas uma hora eu aprendo ^_^