4 de março de 2009

Rárárá!

Às vezes, o mundo dá voltas de forma instantânea. Aproximadamente 36 horas após eu assistir Watchmen no Cinemark do Shopping Eldorado, entro, neste mesmo cinema, para acompanhar a pré-estréia da nova versão de O Menino da Porteira. Sai Alan Moore, entra Daniel. Não fiquei para assistir ao filme – que provavelmente não deve ser ruim– porque estava cansado, suado e queria ir para casa. Então, apenas acompanhei o evento ao lado de um fotógrafo, procurando por celebridades e pessoas da empresa que irão distribuir o filme em vídeo (sendo que estas eram quem me interessavam realmente).

Passada uma hora lá dentro, algumas salas já tinham começado suas sessões (todas foram usadas na pré-estréia) e nada ainda do Daniel ou do pessoal da distribuidora – eles acabaram não indo, como descobri depois. E eu ali no meio, procurando pelas pessoas e no celular, coordenando o trabalho de outro fotógrafo, em outra pré-estréia. Até aí, paciência. Não foi a primeira vez que fiz isso e nem será a última.

Estou no meio do cinema (que, mesmo com algumas sessões começadas, ainda tinha bastante gente no saguão) ao lado do meu fotógrafo, disputando espaço com fotógrafos de revistas de celebridades, que, de vez em quando, saíam correndo na direção de alguém, cobrindo essa pessoa de flashs, quando sinto uma mão no meu ombro. Era alguém perguntando se poderia me entrevistar. Eu disse que estava trabalhando, que era jornalista, mas, aparentemente, a pessoa não se importou, e disse que era rápido.

Antes que eu pudesse falar qualquer outra coisa, eles colocaram uma câmera na minha cara e passaram o microfone para um sujeito que entra na seleta lista dos “homens adultos menores que eu”, que contém menos de vinte nomes. Era o tal de Ivo Holanda, aquele cara das pegadinhas do SBT. Olhei para o microfone e vi que o símbolo não era do SBT, mas de outra emissora – ACHO que RedeTV, não tenho certeza. Provavelmente ele estava sendo entrevistado pelo pessoal da RedeTV, que pediu para ele fazer uma pegadinha com alguém – e claro que, entre as centenas de pessoas ali, ele escolheu o carequinha parado ali no meio. Ô fase.

Enfim, ele chamou meu fotógrafo e explicou para nós dois as regras da pergunta que ele iria fazer. Eu não entendi absolutamente nada porque a) eu não olhava para ele, procurando pelo pessoal que eu precisava encontrar; e b) ele fala com a mesma velocidade e clareza daqueles caras que escondem uma moeda em um de três potes no centro da cidade, sem dar tempo para você pensar. Me lembro só que consistia em algo como “eu vou dar duas alternativas, vocês escolham uma”, ou “eu vou dar duas alternativas, um de vocês escolhe uma”, ou “eu vou fazer uma pergunta, vocês escolhem a resposta”. Sei lá, não fazia o menor sentido. Aí, ele fez a tal pergunta:

– Namoro ou amizade?

Meu fotógrafo respondeu “amizade”. Eu ainda estava abrindo a boca para responder, quando ele começou a gritar e celebrar o fato de eu não ter dito nada. Para não arrumar confusão, tentei entrar na brincadeira e ameacei algum protesto, para ver se ele se dava por satisfeito e me esquecia, mas ele, no auge da sua generosidade, resolveu “me dar uma segunda chance”.

Abriu a carteira e me mostrou um papel com o número 23 escrito. Perguntou “o que vem depois desse”. Eu olhei para o papel e olhei para ele, não acreditando naquilo. Manja aquelas brincadeiras feitas pelo irmãozinho de oito anos do seu amigo? Era algo parecido. Mas pensei que não, não é possível, deve ter algo por trás disso. Deve existir uma piada aí, vamos ver.

– Vinte e quatro.

Ele começou a passar a mão no meu rosto e me chamar de “querido”, “querida”, algo assim. Ah. Então era só isso mesmo: um truque para eu falar o número vinte e quatro em voz alta. Minha vontade foi aproveitar que estava na frente das câmeras e fazer uma careta e soltar uma risada bem retardada, deixando claro qual, em minha opinião, era o público-alvo daquela brincadeira, mas deixei quieto. Fingi que tinha achado graça e me despedi.

Voltando para casa, fiquei pensando sobre isso. Eu não sei o que é pior. A piada em si, ou o fato desse negócio dar audiência a ponto de alguém sobreviver disso. Ou, pior ainda, andar com um papel com o número 23 na carteira para fazer pegadinha com as pessoas na rua, como se o seu talento humorístico fosse do mesmo nível do Monty Python ou dos Irmãos Marx.

Em outra pré-estréia, anos atrás (acho que do filme O Casamento de Romeu e Julieta), fui filmado pelo pessoal do Pânico, que escureceu a tela e deixou apenas o meu rosto iluminado, falando alguma coisa sobre a Luana Piovani, antigo desafeto deles, que estava sendo entrevistada a poucos metros de mim. Não sou fã do Pânico – acho que eles têm algumas tiradas boas, mas é só isso – mas eles são os reis da comédia perto de alguém como Ivo Holanda. Se bem que até mesmo um funeral é mais divertido que ver o Ivo Holanda na TV, com piadinhas que já eram velhas (e sem muita graça) décadas atrás.

Ontem, quem estava na pré-estréia também era o pessoal do CQC. Acho que eles conseguem ser muito superiores ao pessoal do Pânico, mas mais pela coragem que eles têm em entrevistar políticos e / ou pessoas que supostamente teriam algo a dizer, e não apenas ficarem fazendo perguntinhas de duplo sentido para as Carolinas Dieckmann da vida. O problema é que com Pânicos e CQCs, a fórmula se esgota rápido, e logo isso se tornará repetitivo também. Mantém-se o formato, mudando apenas os entrevistados da semana.

Voltando ao Ivo Holanda, é deprimente que uma pessoa ganhe fama com isso. Culturalmente, é pobre demais. E em termos de criatividade também. É mais ou menos como estar em 2008 e achar que você está falando com o mesmo público que ouvia os programas de rádio nos anos 50, certo de que aquelas piadinhas irão funcionar.

Se bem que, se o Ivo Holanda ainda está aí, é porque as piadas funcionam, o que deixa claro o nível do espectador médio da televisão brasileira – e, por extensão, o nível cultural do brasileiro médio. O que não é nada surpreendente, tratando-se de um país onde um programa como Zorra Total fica dez anos no ar.

Na verdade, o grande problema do brasileiro não é a falta de cultura. Isso pode acontecer a qualquer pessoa, e a qualquer povo. O grande problema do brasileiro é que alguém disse, certa vez, que ele é engraçado por natureza, e ele acreditou nisso. Achou que era verdade. Mais ou menos como deve ter acontecido com o Ivo Holanda, em algum momento de sua carreira.



Quer fazer humor? Tenha um mínimo de criatividade...



... ou de inteligência.

22 comentários:

Barbarella disse...

Ivo Holanda? que merda hein...

falando em comédia, um dos vídeos que me fez rir muito foi o "Archmed the Dead Terrorist" do (Jeff Dunham). Muito bom mesmo.

por isso, hoje em dia, não ter TV a cabo é quase um suicídio cultural...

**

Varotto disse...

Cara, sem o menor exagero, digo para você uma coisa que tem passado pela minha cabeça com mais frequência do que eu gostaria: a verdade é que a evolução tinha de ter parado na barata.

Depois disso não houve grandes melhoras. Já concluí há muito que, como você sabe muito bem, a humanidade definitivamente não deu certo.

Mas de qualquer maneira, você deve ter sido abduzido por alienígenas em algum ponto da sua vida e eles instalaram algum tipo de para-raios de malucos em você.

P.S.: Obviamente, por educação, não vou entrar em detalhes de como eles podem ter colocado o para-raios em você... ;o)

P.S.2: Achmed é o máximo! Quem ainda não assistiu, corrija isso.

Otavio Cohen disse...

Achmed é mto bom (3 votos)

e Ivo HOlanda? Será que eles ainda acham que as pessoas não reconhecem o Ivo Holanda? Até aquela mulher velhinha da Praça é Nossa (acho quie já morreu, até) consegue "disfarçar" melhor...

MaxReinert disse...

BAhhh!!!
Da próxima vez que ver alguém menor que vc... qualquer um... faça cara de pânico, grite "Fi, fi, fiiiiiiiga!" e saia correndo... imediatamente!

Varotto disse...

Eu não conheço o Ivo Holanda!

Bridget Jones disse...

Rob,

Monty Python é a coisa mais maravilhosa que deus criou, depois da Internet, como diz um amigo meu!

Tenho toda a coleção do Flying Circus e não me canso de assistir. Eu me casaria com um daqueles caras só por causa do humor deles, que é certeiro (Eric Iddle de preferencia, gracta!).

Em todo caso, hj em dia enocontramos pessoas de riso frouxo por aí e infelizmente elas são a massa que vê TV aberta.

Em todo caso, o Varotto falou que vc é pára-raio de maluco né? Por causa disso estamos pensando em registrar o nome do nosso blog pra ver se faturamos uns royalities...

Anônimo disse...

Definitivamente isso enche o saco.

Ainda não passei por essa péssima experiência, e nem saberia como reagiria (se com soco ou com chute), mas me lembro de como ajo quando os irritantes "sombras" surgem do nada e me perseguiam até que um dia usei o mal deles contra eles e quase os fiz serem atropelados... =/

É maldoso, mas mais maldoso ainda é o Brasileiro achar que escárnio e humor andam juntos.

Anônimo disse...

O pior é saber que existe um público que gosta desse tipo de humor apelativo e sem graça.

O Lerdo disse...

Salvo raras exceções, o humor por aqui é uma tragedia.

Anônimo disse...

Oi, Rob...

Entre Watchmen e Daniel, há uma lacuna e tanto, hem?

E não sei o que é pior: ver o filme do Daniel ou aguentar esse (mau) humor que o Brasil insiste em fazer. Ô fase.

Um abraço!

Anônimo disse...

HAHAHAHAH o futebol dos filósofos é muuuuuuuuuuuito bom!!!!!!

Gilmar Gomes disse...

até eu (EU) estou coemçando a enjoar das piadas do Pânico. Comecei a gostar do CQC, e acho que foi isso que atrapalhou, pois o CQC é mesmo superior.

Mas acho que vc, na verdade, ficou bravinho com Ivo Hollanda, e por isso criou este post. Ou pior... Voce não entendeu a piada na hora e está com vergonha de vermos sua cara de paisagem na TV. Ou pior... Acho que não tem pior.

Varotto disse...

Pô, aqui no trabalho não consegui saber sobre o que eram os vídeos. Só em casa vi que eram Monty Phyton.

Como acho que já deixei claro comentando em outros posts por aqui, sou fã de carteirinha embora, aqui em casa, a Sra. Varotto não suporte.

Anônimo disse...

soh me resta uma coisa...
caçar no arquivo paniqueiro sua ilustre apariçao!

lol

lady

Marcio Sarge disse...

E triste mas o humor televisivo há muito morreu.
Todas as fórmulas foram usadas à exaustão e a mente dos envolvidos embotou, o que restou são paliativos nada engraçados e apelativos como melheres seminuas e piadas do arco da velha.

Eu era muito pequeno e lembro pouco mas os progrmas como Tv Pirata arrebentavam qualquer um desses atuais, mesmo o CQC que por enquanto me diverte, mais pela inteligência das piadas que pelo humor.

Thiago Dalleck disse...

O futebol dos filósofos é sensacional!

O humor criativo e inteligente no Brasil não rende nem dá futuro: é mais trabalhoso de criar e os telespectadores de Zorra Total têm que pensar muito para entender. Por isso a indústria do humor prefere o escárnio, é mais banal e tem mais atrativo$. O que salva hoje em dia é o CQC mesmo, o mais próximo de humor inteligente.

Anônimo disse...

Pra te ajuda querido reporter, eu estive na pré estreia do filme O menina da porteira, algumas salas realmente comeaçaram a passar ao filme antes das outras mas para não ter conflitos na saída pois o Daniel estava na Sala 5 e todos os outros atores tb, a maioria dos convidados"celebridades" estavams na sala 4 e se todas as salas começassem ao mesmo tempo imagina a confusão na hora que os artistas sairam, mas ele estava sim, fiquei até o final e consegui tirar várias fotos dele e dos atores do filme que por sinal é um ótimo filme.

Anônimo disse...

EU VI! EU VI! EU VI!

Passou ontem no TV Fama. E juro que eu vi estampado na sua cara o lance do "não acredito que ele vai fazer a brincadeira do 24 comigo". Ri LICTROS!

Mas enfim... Parabéns pela coragem de ter enfrentado o Ivo Holanda. E pela paciência também! ;D

Anônimo disse...

Não é a toa que chutaram a b* dele lá no SBT.

O cara além de ridículo tem uma tiradas de péssimo gosto. Com todo respeito aos paulistas; só paulista para dar asas a alguém tão tosco quanto ele.

Laila disse...

Bem, eu também não conheço o Ivo Holanda, mas acho que não preciso de muito esforço pra imaginá-lo.
O vídeo do Buying a Bed eu ainda não tinha visto: é ótimo!
Agora, sobre os textos de baixo (dos neurônios): são perfeitos! Ri até não poder mais.

Anônimo disse...

Creio que o mau gosto não está com o público e sim com aqueles que produzem e apresentam os programas.


caçar no arquivo paniqueiro sua ilustre apariçao![2]

Lari Bohnenberger disse...

Puta merda... ô fase pra ti, mesmo, heim? Primeiro Pânico, depois Ivo Holanda?
É claro que não existe comparação entre os dois, embora eu também não veja muita graça no Pânico. E Porra Total é a maior vergonha da TV brasileira, sinceramente!
Bjs!