Ou, mais precisamente ainda, the DARK land of Mordor. (pessoal da produção, negrito, itálico e caixa alta no 'dark', por favor)
Antes que pensem que estou morando em meio a orcs, aviso que não é isso (se bem que outro dia vi um punhado deles no Pão de Açúcar). O motivo real é que, se o mundo realmente está passando por uma crise de energia como dizem por aí, Pinheiros é certamente o local mais afetado. Se, daqui a séculos, esta suposta crise de energia for estudada nas aulas de história, Pinheiros será o ground zero de tudo isso.
A luz aqui, agora, acaba toda semana. E as chuvas que têm caído – ou melhor, desmoronado – sobre a cidade não estão ajudando muito. Pinheiros é um bairro com sérios problemas. Eu já havia reparado que se alguém cuspir na rua, a luz na minha casa pisca. E se você pegar um pedaço de giz e escrever a palavra CHUVA no asfalto da Teodoro Sampaio, a luz do bairro acaba cinco minutos depois.
Sem sacanagem, a luz acaba aqui, toda semana. E eu não fico sem luz por alguns minutos, não. É “acabar a luz” de gente grande: na última terça feira, por exemplo, eu fiquei aproximadamente seis horas sem luz. Posso estar errado, já que eu e as frações nunca fomos particularmente amigos, mas isso, até onde sei, corresponde a ¼ do dia. Curiosamente, apenas o meu prédio alcançou esta marca. Todos os outros prédios tiveram a luz restabelecida depois de quatro horas de escuridão – ninguém me contou, eu vi. Já o meu prédio e algumas casas ao lado, após seis horas.
É engraçado isso. Talvez, aquela história de que Deus disse “Faça-se a luz” não chegou a Pinheiros ainda – o que me deixa mais convencido ainda de que eu moro num lugar esquecido por Deus. Ou talvez Deus apenas tenha receio de interferir com a administração da minha síndica mafiosa. O motivo não faz diferença. O que importa é que eu olhava da rua e todas as casas e prédios iluminados e o meu ali, apagado, negro, sombrio, parecendo um enorme monolito do 2001 no meio do bairro.
Atentem para o belíssimo arco-íris da paisagem.
E nada.
Não há o que fazer. TV, PC, microondas, rádio, todos inutilizados. Fico sentado na sala igual a um idiota, olhando a escuridão. Cheguei, em umas das vezes, a acender uma vela e ficar lendo um livro na mesa da sala, mas desisti na segunda página, é rústico demais.
Aí, vou até a varanda e olhos os prédios da frente: lá, as pessoas estão iluminadas, felizes, assistindo suas televisões, checando e-mails, jogando Wii... E eu ali, na idade da Pedra. A próxima vez que um de vocês estiver passando por Pinheiros e perceber que o bairro está sem luz, olhe para os lados para ver se não avista um baixinho careca vestindo a pele de algum animal morto e colhendo frutos na rua, ou tentando quebrar um coco com uma pedra. Sou eu, tentando garantir minha subsistência.
Estou terminando este texto no trabalho e vou para casa. Mas já estou calculando a probabilidade de não ter luz na minha casa. Como se trata de Pinheiros, 20%. Como choveu hoje, este índice sobe para 45%. Como sou eu, as chances (reais) são de 98,7% - se eu tivesse um texto urgente do trabalho para fazer em casa, as chances seriam de 140%.
Então, se eu não der mais as caras por aqui hoje, vocês já sabem o que aconteceu: estarei, em algum lugar entre o térreo e o oitavo andar, tentando entender porque a vida é assim.
E eu não sei quanto a vocês, mas eu sou totalmente dependente de energia elétrica. A única coisa na minha casa que não está ligada a uma tomada é a cama. Na verdade, meu drama começa já na entrada do prédio: sem luz, eu subo de escadas. Oito andares. OITO. Ou seja, quando eu consigo entrar em casa, já é hora de sair de novo. Mas, obviamente, eu subo, porque não vou ficar batendo papo com o porteiro até a luz voltar. E aí, eu subo, abro a porta, e...
E nada.
Não há o que fazer. TV, PC, microondas, rádio, todos inutilizados. Fico sentado na sala igual a um idiota, olhando a escuridão. Cheguei, em umas das vezes, a acender uma vela e ficar lendo um livro na mesa da sala, mas desisti na segunda página, é rústico demais.
Aí, vou até a varanda e olhos os prédios da frente: lá, as pessoas estão iluminadas, felizes, assistindo suas televisões, checando e-mails, jogando Wii... E eu ali, na idade da Pedra. A próxima vez que um de vocês estiver passando por Pinheiros e perceber que o bairro está sem luz, olhe para os lados para ver se não avista um baixinho careca vestindo a pele de algum animal morto e colhendo frutos na rua, ou tentando quebrar um coco com uma pedra. Sou eu, tentando garantir minha subsistência.
Estou terminando este texto no trabalho e vou para casa. Mas já estou calculando a probabilidade de não ter luz na minha casa. Como se trata de Pinheiros, 20%. Como choveu hoje, este índice sobe para 45%. Como sou eu, as chances (reais) são de 98,7% - se eu tivesse um texto urgente do trabalho para fazer em casa, as chances seriam de 140%.
Então, se eu não der mais as caras por aqui hoje, vocês já sabem o que aconteceu: estarei, em algum lugar entre o térreo e o oitavo andar, tentando entender porque a vida é assim.
26 comentários:
Primeiro!
Aqui onde eu moro acaba a luz praticamente todo dia, e eu fico aproveitando o tédio.
Ou seja, quando eu consigo entrar em casa, já é hora de sair de novo.
HAHAHAHAHAHAHHAHAAHHAA
Terceiro :D
PS: Rob, adorei o post sobre internet =)
Então, se eu não der mais as caras por aqui hoje, vocês já sabem o que aconteceu: estarei, em algum lugar entre o térreo e o oitavo andar, tentando entender porque a vida é assim.
HAHAHAHAHAHAHHAHAHHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHHAHAHHAHAHA
ACHO QUE ENGASGUEI
Um dos melhores posts, sem brincadeira.
Eu não sei se eu dou mais risada do último parágrafo ou do flashback de uma conversa que eu tive no final do dia. Boa aorte Rob! Você é O cara.
Você pode brincar de Cavaleiro das Trevas (ou o Sombra).
Como os "super-heróis de verdade" da reportagem da Rolling Stone que acabou de chegar às bancas (com a capa do U2). Hilária...
Cara, senti o mesmo quando acabou aqui (Bexiga). Alias, choveu e o porteiro peidou ja Elvis Presley.
Pior que sempre nessa hora penso pq não tenho um abajour com pilhas ou algo do tipo.
God bless Benjamin!!!
Estive aí em Sampa ontem e, felizmente, escapei do dilúvio.
Conselho: já que a curra é inevitável, compre uma ou duas daquelas lâmpadas de emergência e deixe à mão. Cada uma vai te garantir até seis horas de luz para, pelo menos, poder ler alguma coisa.
Apesar de não morar na Terra Média, eu tenho uma aqui para emergências.
Seu prédio parece minha escola, é a mesma coisa, professor explicando a materia no projetor e do nada a escuridão assola a escola, e só a minha escola, olho pela janela e vejo todas as lojas iluminadas. Em 2 anos e 3 meses que estou nela ja acabaram a luz umas 20 vezes e pra variar hoje acabou denovo.
uma dica, Rob ja pensou em comprar um daqueles nobreak que tem horas de energia pra manter um computador ligado?
Jah pensou em fazer uma lista das 5 coisas mais desagradaveis e mais frequentes q acontecem contigo?
Abraços
"Ou talvez Deus apenas tenha receio de interferir com a administração da minha síndica mafiosa."
Ô!Bota receio nisso...
esta na hora de voce conhecer um PSP, Rob
vocês vão se dar bem, tenho certeza
^^
rir de vc é inevitável... =)
E aí? Faltou ou não luz hoje?
Essa nossa dependência elétrica é inevitável.
E, como bem disse o publicitário da Skol: "Redondo é rir da vida".
Vou estragar a surpresa, mas vou te dar um consolo: na próxima data comemorativa em que se dê presentes que houver, vou enviar pra você uma daquelas lanterninhas que funcionam se você der corda.
Custa R$1,99 nas lojas do ramo, mas preço não é nada, frente à felicidade das pessoas quando ganham algo de que precisam muito...
Menino, sabe que só agora reparei que não existe mais aquela verificação de caracteres chata pra postar um comentário?? (tom de tia fofoqueira mode:on)
Desde quando isso, hein???
Eu também não vivo sem energia elétrica. Quando acaba aqui (o que é raro) aproveito a bateria do notebook ou do celular pra me entreter um pouco.
Bom, no interior do Paraná, onde eu morei antes, era raríssimo acabar a luz, só com aqueles temporais de acabar com metade dos telhados da cidade. Mas, quando me mudei pra Curitiba, e chegamos a ficar mais de 10 horas sem luz, eu achei o fim! Pena que eu não sabia daquela história de indenização que as operadoras de energia tem de pagar se falta luz por mais de 3 horas, senão eu processava a Copel!
Ah, aliás, cheguei a conclusão que perto de ti eu tenho uma sorte danada de grande, acho que até vou apostar na mega sena...
huahuahuahuahuahuahuhauhauhauhauhuahuahuahua
Conselho de amigo: Compre um iPhone/PSP/Nintendo DS e seja feliz.
Ah, mudei dessa droga de bairro há 10 anos e não me arrependo nem um dia sequer. Morar em Pinheiros para mim só não foi pior do que morar 6 anos em Goiânia fazendo o ginásio com um bando de pirralhos racistas.
Na ZL não acaba a luz lálálálálá...
^_^
Beijo
Sil
Então sou igual a vc! Não vivo sem energia elétrica não dá!Quando falta luz aqui ja to eu lá ligando desesperada pra cia de energia pedindo se vai demorar pra voltar a luz!
Eu moro no 13o andar. E aqui costuma faltar sempre luz no verão, acho que a Light, apesar dos séculos de monopólio, não está ainda preparada para suprir a demanda no verão do Hell de Janeiro, é trabalho pra gente grande.
Agora imagine você: em um fim de tarde, indo para casa só no pensamento positivo "aqui na rua tá Saara, mas já já vou fazer Era Glacial no meu quarto, huuum", chego no condomínio já suada e vejo aquele elefante branco (18 andares) to-do a-pa-ga-do... Preciso encarar 13 andares com o pensameneto positivo "menos um". Lá pro 5o andar tiro o sapato alto e resolvo ir descalça mesmo, foi bom para entrar no clima "era das cavernas" logo. Lá pelo oitavo, a luz de emergência das escadas acaba. Tive que subir o resto usando a luz do celular. Pensei que talvez eu pudesse ter entrado sem querer em algum portal e caído em 2012. "Pronto, acabou tudo, it's the end of the world as we know it and I don't feel fine: não fiz nem 5 das 1001 coisas que vc deve fazer antes de morrer". Encarnada no espírito de Sarah Connor (de Exterminador do Futuro), consigo chegar ao meu decimozinho terceiro andar. Abro a porta, dois gatos que não estão nem aí pro calor me atropelam e me solicitam como se não houvesse amanhã. Entro no banho, gelado, e volto a acreditar que Deus não me esqueceu. Depois de me secar, por já sentir o suor querendo voltar a brotar, volto a ser herege. E passo A NOITE INTEIRA na varanda porque a luz simplesmente desistiu de mim. Sim, sim, mais de 8 horas de falta de luz. No verão. Do Hell de Janeiro.
Pela manhã, quando estou me arrumando pra ir trabalhar, 5 quilos mais magra, adivinha que margarida resolveu aparecer?
Quando chego à rua, ainda tinha um carinha da Light lá no caminhaozinho. Fui até ele e educadamente disse: "Agora não precisavam mais se incomodar, não. Bom-dia."
E você acha que você é o azarado, né? Tá certo...
P.S.: Morri de rir com isso: "E se você pegar um pedaço de giz e escrever a palavra CHUVA no asfalto da Teodoro Sampaio, a luz do bairro acaba cinco minutos depois."
Esqueci de contar o único momento engraçado disso tudo: no meio da madrugada, uma vizinha velha e louca que tenho aqui resolveu ir pra janela e falou bem alto: "Isso aí é culpa de vocês que votaram no Lulaaaa!!!"
ihihi (mas não valeu o sacrifício)
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