Quando eu me mudei para Pinheiros, passei os primeiros dias estudando o comércio da região. E, por comércio, entenda-se banca de jornal e pizzaria. Afinal, como eu trabalho no bairro, todas as minhas outras necessidades estavam eram supridas, pois eu já era cliente do melhor hambúrguer (Oregon) e da melhor churrascaria (Bovinu’s) da região. As outras necessidades mais triviais (como farmácia ou banco) eu deixei para descobrir quando precisasse.
Com banca de jornal foi fácil: primeiro, passei a usar a banca na esquina da minha casa (na frente da padaria das Carolinas e do Bigode), que é 24 horas. Ou quase isso, já que como o velhinho que fica lá na parte da manhã não sabe usar a máquina do Visa, eu considero que ela está fechada nesse período. Mas, poucos metros adiante, há uma espécie de loja especializada em revistas, e é lá que costumo comprar meus jornais e quadrinhos.
Com pizzaria a coisa não foi tão fácil. Logo na primeira semana, experimentei uma pizzaria da Teodoro que tinha o melhor preço da América Latina. Não lembro os valores agora, mas podemos dizer que o refrigerante era mais caro que a pizza. Obviamente, o sabor não era dos melhores, lembrando, em alguns momentos, jornal velho (e não era um Estadão, estava mais para Primeira Mão). O atendimento também deixava bastante a desejar: a única vez que fui até lá, precisei repetir o que eu queria beber (Coca) três vezes, até o sujeito falar que não tinha mais Coca. Pedi, então, uma Fanta, apenas para assistir a ele entrar numa portinha e voltar com uma garrafa de Coca nas mãos, dizendo que “a Fanta acabou, pode ser Coca?”. Ô fase.
Pouco tempo depois, descobri uma pizzaria muito boa aqui na Artur de Azevedo, e virei cliente. A pizza deles é excelente, com a massa nem muito grossa nem muita fina e toneladas de recheio. Além disso, eles têm um entregador que gosta de heavy metal, o que garante uma saudável troca de informações sobre os futuros shows na cidade toda vez que desço para buscar a pizza.
Mas, como nada é perfeito, eles têm um problema: a miopia da mocinha que atende o telefone. Veja bem, o atendimento lá é ótimo, mas não quando é ela que atende o fone. O problema é que eles usam um identificador de chamadas para “adivinhar” o endereço do cliente. Isso deveria tornar o atendimento rápido e confortável, mas a coisa não funciona bem assim. Outro dia mesmo liguei lá e ela atendeu.
– Pizzaria tal, boa noite.
– Boa noite. Eu queria fazer um pedido.
– Seu telefone é 1234-56... 56.... 1234-56...
– Quer que eu fale o resto?
– Só um minuto, por favor. 1234-56... 7... 78?
– Isso.
– Seu telefone, então, é 1234-5678?
– Isso. Provavelmente, é o mesmo número que está aparecendo na tela do seu identificador de chamadas. Mas isso pode ser coincidência, claro.
– Qual seu pedido?
– Meia atum, meia calabresa. E uma Coca Zero.
– Meia atum...
– ...
– ... e meia calabresa.
– Isso.
– E para beber?
– [suspiro] Uma Coca Zero.
– Ok. O seu endereço é Rua Tal...
– Isso...
– Número... Número X...
– Não é mais fácil eu apenas falar meu endereço e você escrever?
– Só um minuto, senhor.
– Porque acho que eu posso te ajudar com isso. Eu sei onde moro.
– Só um minuto, estou puxando no sistema...
– Sem querer me gabar, acho que eu sou mais rápido que o seu sistema.
– Apartamento Y?
– Você está perguntando ou afirmando?
– É... Afirmando.
– Muito bem. Acertou. Rua Tal, Número X, apartamento Y.
– Ok, senhor. Em vinte minutos está aí.
– Ok.
Caso vocês estejam se perguntando porque eu não peço em outra pizzaria, é porque a pizza de lá é realmente boa, então vale o sacrifício. Mas confesso que no começo eu cheguei a considerar a hipótese de terceirizar o ato de pedir pizza. Por alguns dias, eu considerei a hipótese de emprestar meu celular para o porteiro e pedir para ele falar com a menina, mas desisti disso no dia em que pedi uma pizza, e, alguns minutos depois, ele interfonou para avisar que “chegou a entrega do restaurante pizzaria”. Assim, preferi me poupar do trabalho de explicar a ele que a palavra “pizzaria” não precisa estar acompanhada do termo “restaurante”.
Ou seja, a única alternativa que sobrou seria encontrar uma maneira de ensinar a Besta-fera a falar no telefone. O problema (caso eu conseguisse isso) seria no primeiro dia que eu esquecesse o talão de cheques em casa e descobriria, à noite, que, minha conta está negativa e o peso do meu cachorro foi de pouco menos de 10kg para 80kg. Assim, eu continuo pedindo as minhas pizzas por conta própria, e tentando relevar o fato de que, em algumas noites, eu demoro mais tempo para pedir a pizza do que para comê-la.
7 comentários:
Adoro Pizza! E ainda por cima fui a primeira a comentar... Não que eu ache isso importante, mas...
PRIMEIRONAAAAAAAAAAAAAAAA!
KKKKK...
Beijomeliga.
Tô louca pra ler as aventuras da festa de Ano Novo! Sim, porque, uma festa com Rob Gordon, não é uma festa comum...
Pode pedir também para o Jonas.
Embora eu ache que, como bom espírito de porco, ele possa fazer alguma sacanagem imperdoável, do tipo pedir pizza de rúcula...
O bom é que você considerou alternativa ensinar a Besta-Fera a FALAR NO TELEFONE. E, pelo menos pra mim, ficou subentendido no texto que ela/ele JÁ SABE ASSINAR CHEQUES!
Eu tenho muito, MUITO medo desse animal.
"Pedi, então, uma Fanta, apenas para assistir a ele entrar numa portinha e voltar com uma garrafa de Coca nas mãos, dizendo que “a Fanta acabou, pode ser Coca?” "
Huahauahuhaauahhahuh
Gelimão?
Em nome dos leitores míopes deste blog, peço que seja mais tolerante com a menina em 2009.
Ela não tem culpa de obrigarem-na a utilizar tanta tecnologia xD
"Em nome dos leitores míopes deste blog, peço que seja mais tolerante com a menina em 2009."
Também estou nessa lista..hahaha
Eu acho que se você pedisse somente de um sabor e coca-cola normal o atendimento seria normal, você que confunde a pobre atendente, muita informação né Rob.
Já fiz a minha parte lá no Best Blogs.
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"Sem querer me gabar, acho que eu sou mais rápido que o seu sistema"! ótimo! =)
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