5 de maio de 2007

Do Pó ao Pó

Se existisse uma faculdade de arqueologia no Brasil, meu apartamento – especialmente após um feriado de quatro dias – poderia ser tema de trabalho de conclusão de curso. Basta eu ficar alguns dias em casa, sem precisar trabalhar e pronto: passo a morar num sítio arqueológico. Um pequeno passeio pela sala revela embalagens de chocolate datadas de séculos antes de Cristo, cadernos de esporte oriundos da Mesopotâmia e, claro, as tradicionais embalagens de Chocooky consumidas na Grécia Antiga. Isso, claro, sem falar no pé de meia capturado pela lendária Besta-fera, cujos restos mortais, mastigados e destroçados, encontram-se espalhados pela casa.

E isso gera dois problemas. Primeiro, eu não consigo ficar em paz com a casa suja. Me sinto, na melhor das hipóteses, alguém esquecido por Deus e pela sociedade; na pior, um estagiário do Capitão Feio. E, quando eu decido fazer algo a respeito, o segundo problema vem à tona: eu não sei varrer. Sim, eu não consigo operar uma vassoura. Quando eu era menor, via minha mãe varrendo a casa e achava aquilo a coisa mais fácil do mundo. Depois que eu vim morar sozinho, descobri que a coisa não é tão fácil assim. A última vez que tentei varrer a sala, não apenas espalhei todo o pó do apartamento como consegui perder a pá de lixo – fui achá-la só no dia seguinte, dentro do tanque. Mas tenho certeza: foi sacanagem do Jonas.

Porém, no último feriado, resolvi radicalizar. Fui nas Casas Bahia e falei com o primeiro vendedor que entrou na minha frente:

– Preciso de um aspirador de pó.

– O senhor tem preferência de marca?

– Não.

– Eu tenho Arno, Britania, Gradiente...

– Eu não me importo com a marca.

– ...Electrolux, Black & Decker. Qual o senhor prefere?

– Olhe, se tirar o pó da minha casa, pode ser até Kibon que eu não dou a mínima.

– Sim, mas a diferença é que esse Electrolux, por exemplo, tem velocidades diferentes. O que o senhor acha?

– Eu acho que gostei do azul, ali no meio. Você parcela?

Minutos depois, eu e o aspirador azul começamos a difícil missão de subir as três quadras da Teodoro Sampaio que separam a loja da minha casa. No meio do caminho já simpatizei com o aspirador quando ele bateu com tudo num casal que simplesmente ocupava a calçada inteira e não desviava para ninguém, e virei fã dele no momento que ele quase jogou na rua um maloqueiro que parou na minha frente e ficou fazendo bola de cuspe para as pessoas de um ônibus. Ou seja: 3 quadras, um casal e um mendigo depois, o aspirador já era um dos meus melhores amigos.

E mal sabia eu que a diversão ainda nem tinha começado.

Em casa, tirei o aspirador da caixa e comecei a montá-lo, no meio da sala. A Besta-fera ficou olhando de longe, meio ressabiada; já o Jonas sumiu completamente. Provavelmente, incomodado com a confusão, foi assombrar a velhinha do segundo andar, que deve ser muito menos barulhenta que eu. Claro que no começo foi difícil – com preguiça de olhar o manual, me atrapalhei em alguns momentos, agindo como os macacos de 2001 – Uma Odisséia no Espaço ao olhar o monólito.

Enfim, consegui. Tudo pronto. Bastava ligar o aspirador e começar a “reforma” da minha casa. Foi nesse momento que algo me ocorreu: os vizinhos não ficarão muito felizes se eu começar a passar aspirador em casa às 20:00 de um feriado. Mas eu não iria desistir agora. Olhei ao redor procurando por uma saída, até que tive uma idéia. Eu não iria conseguir disfarçar o som do aspirador, logo, eu precisaria encontrar uma maneira de fazer os vizinhos apreciarem o barulho.

Fui até o quarto e peguei minha mais nova aquisição: Megadeth – Live at Buenos Aires, um daqueles DVDs que até a capa é barulhenta. Coloquei no aparelho, regulei o volume para 45 e mandei bala. Na metade da primeira música, um copo em cima da televisão começou a tremer. Os vizinhos já deviam estar incomodados o suficiente.

Era a hora certa.

Liguei o aspirador e os vizinhos devem ter agradecido em silêncio (de qualquer forma, eu não ouviria mesmo), pois o som do Megadeth sumiu completamente. Quem sumiu também foi a Besta-fera, que foi se refugiar em outro aposento. Comecei aspirando a sala. Quando vi aquele maldito pó sumindo da minha frente, me senti um imperador romano olhando o mapa mundi (eu que mando nessa porra mode: on). Afastei sofás, puxei cadeiras, empurrei a mesa e soltei a fera que mora dentro de mim. Em 5 minutos, eu parecia um Jedi – até o sofá eu limpei! Em 10 minutos, a sala estava nova em folha. Chupa, pó!


Aspirador por aspirador,
sou bem mais o meu!

Desliguei o aspirador, o que proporcionou aos vizinhos a oportunidade de apreciarem um pouco do solo de In My Darkest Hour e fui para o quarto. Novamente, a ginástica: empurra cama, puxa mesa e, minutos depois, meu quarto era habitável novamente. Quando acabei, fui desligar o aparelho e descobri que o aspirador tinha um compartimento secreto, que guardava um periférico especial para limpar teclados! Putz, a coisa fica cada vez melhor!

Mandei bala no teclado também – a essa altura, eu já fazia questão de andar pela casa batendo a cinza do cigarro no chão, só para usar o aspirador e demonstrar meu novo super-poder a qualquer resquício de pó que tivesse escapado. Funcionou – ao menos com a Besta-fera, que continuava escondido e só voltou a mostrar a cara na sala meia hora depois (ver Top 5 abaixo).

Feliz da vida, decidi que era dia de comemorar e fui ao Pão de Açúcar determinado a me vingar de todas as humilhações sofridas com as malditas vassouras. Ia passar pelo corredor que elas ficam e cuspiria nelas – talvez até quebraria o cabo de uma se o segurança não estivesse olhando.

Porém, no caminho, liguei para minha mãe e contei a novidade. O que eu não imaginava é que ela iria começar a fazer as típicas perguntas-de-mãe:

– Mas qual a potência?

– Sei lá, mãe.

– Você não viu na caixa?

– Não. Eu sei que é mais potente que Megadeth.

– O quê?

– Não sei, mãe. Não vi. Mas é bom.

– Quantos sacos vêm?

– O quê?

– Ele deve ter sacos descartáveis. Você não viu dentro dele?

– Mãe, eu limpei a casa, eu não fiz uma autópsia no aspirador. Eu não estou familiarizado com a anatomia dele.

– Mas deve ter, sim. Chegando em casa...

– Chegando em casa, nada, mãe. Chegando em casa eu vou é ficar descalço, andando de um lado para o outro, aproveitando que o chão está limpo.

– Mas se você olhar rapidinho...

– Mãe! Esse é o meu momento de triunfo sobre o pó! Não estrague isso com perguntas técnicas que só mães fariam! Aposto que quando César conquistou a Bretanha, a mãe dele foi encher o saco perguntando se ele sabia qual era o alimento preferido dos bretões!

Desliguei o fone.

Sacos? Potência? Me poupe. Só mães, mesmo, se preocupariam com isso. Tudo o que eu preciso saber sobre o aspirador é: primeiro, ele limpa. Segundo – que eu aprendi depois de voltar do mercado (mas não cuspi nas vassouras, apenas as olhei com ar de superioridade): além de útil, o aspirador é enorme fonte de diversão.

Seguem os 5 passos básicos para se divertir com o aspirador de pó:

1. Ligue o aspirador na tomada e coloque-o, ainda desligado, no chão, próximo ao sofá.

2. Sente-se no sofá, com o pé posicionado justamente no botão “liga/desliga” e assista TV.

3. Observe discretamente a Besta-fera se aproximando do aparelho, para cheirá-lo.

4. Rapidamente, ligue o aspirador com o pé.

5. 15 minutos depois (o tempo que a Besta-fera demora para sair de baixo da mesa), repita o procedimento a partir do passo 2.

20 comentários:

Anônimo disse...

Que maldade com a Besta-fera... :-D

Eu fui usar o aspirador aqui em casa e acabei detonando o mesmo...
Bem, era da dona do apartamento...
Bem, acho que ela precisa saber disso...

;-)

Anônimo disse...

hauhauahuahauha
axo q preciso de um aspirador de pó na minha kitnet universitaria tb...
boa dica! ;)
rs

Unknown disse...

Pow cara bom blog vou adicionar à minha lista de blogs do Bem-bolado.blogspot.com

Gostei mais do post Aumente as Visitas do Seu Blog em 15 Passos. T+

Unknown disse...

sou fã dpo teu blog, sabia, vc escreve com diversão, me diverte de verdade ler isso aqui...
Valeu...

Anônimo disse...

kkkk

O aspirador não tem nome?kkk

Mateus Souza disse...

Curti seu blog, cara, muito bom... vc escreve bem e a leitura é facil. Vou te adicionar a minha lista de links

e pode deixar que vou começcara a seguir à risca os 15 passos q vc propos para angariar mais visitas e comentarios, hehehehe...

Anônimo disse...

Em relação ao comentário que vc deixou la no meu blog.

O meu wordpress e o wordpress do Davis é diferente,não é o mesmo!

Experimente o wordpress do Davis que não precisa gastar nada é só entrar aqui e se cadastrar www.wordpress.com o meu wordpress é www.wordpress.org que foi o que eu falei no meu post !

Abraço!

Anônimo disse...

Aqui em casa sou eu quem passa o aspirador.... Não sabia que podia ser tão divertido!!!

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

(www.pollyok2.zip.net)

Anônimo disse...

eu odeio aspirador de pó, principalmente quando ele começa a funcionar enquanto eu acompanho as melhores cenas do filme na tela. e no sábado de manhã: aquele sono do inferno e ele lá, tocando o terror... mas isso é coisa de quem não mora sozinho e não tem uma besta-fera pra se divertir :o)

Um cara disse...

KKKKKKK bom texto cara...

Diego Moretto disse...

HAUHAUHAAUH, adorei a historia. Ainda não moro sozinho, mas lendo isso aqui, ja sei o q me aguarda... ri muito no post, massa!

Pow cara, vlw pelo comentario lá no blog. Gostei mais ainda de vc ter sido sincero. Aquela foi minha opinião do filme, achei realmente tudo aquilo. Mas cada um com a sua. Adorei ter postado sua opinião contrária, muitos não fazem isso, infelizmente- pois adoro contraversões. Volte sempre lá. Grande abraço e se divirta com seu aspirador.hehehe.t+!

Anônimo disse...

HAHAHAHA! boa! aliás, história muito boa! adorei!

Rafael disse...

Eu fico imaginando como você não consegue dominar uma vassoura, haha! Vejo minha minha mãe fazendo, parece tão fácil.

Bárbara Lemos disse...

Fui ali commprar um aspirador de pó e já volto. ;)

Professor disse...

concordo que falta um nome para o aspirador de pó...

e sinceranmente eu gosto dos tops 5...

Eduardo Vilar disse...

tadinha da Besta-Fera... :D

Anônimo disse...

Eu imagino a sua cara de satisfação ao ver a sala livre do pó.! :D

Como eu também sou péssima com vassouras, e não entendo bem como funcionam, acho que está na hora de comprar um aspirador.
Poxa, periférico para limpar teclados?
Oferta muito tentadora, mesmo!

Beijos!

Rodrigo Rigotti disse...

Tá explicado pq o Jonas sumiu:

http://img.search.com/thumb/f/f2/Ghostbusters.jpg/300px-Ghostbusters.jpg

[]'s

Rob Gordon disse...

Gislaine, tive um problema com a página e fui obrigado a apagar seu comentário.

Assim, o reproduzirei aqui abaixo:

"Oi Rob

Estava sozinha no metro,e pra passar o tempo fiquei fuçando no celular e por acaso encontrei o seu blog,e imagina vc, eu olhando o celular e rindo que nem uma loca, nem quero imaginar o que as pessoas pensaram de mim, estou completementre vidrada, e sempre que sobra um tempo venho ler mais um pouco.
Adimiro muito pessoas criativas como vc, queria ter esse dom maravilhoso de fazer rir as pessoas.
Continue assim, e sempre que eu estiver triste, virei te visitar pois tenho certeza que isso alegrara o meu dia.
So não comprei o livro ainda pois, creio eu, ainda não tem na França, e se eu tiver enganada por favor me avise.
Bjos "

Obrigado pela visita e desculpe o transtorno.

Fabi disse...

Aspirador de pó é uma coisa MÁGICA. Algo que CHUPA a sujeira dos cantos mais remotos (e imundos) não é um eletrodoméstico: é uma benção vinda pra economizar horas da minha vida.