25 de dezembro de 2006

Jingle Bell

Você sabe que o natal está chegando quando entra numa loja de CDs e dá de cara com uma coletânea nova do Aerosmith. Já faz uns anos que a banda pratica isso com a mesma regularidade do Rei(?) Roberto Carlos, o que deve ajudar bastante aqueles pobres coitados que não sabem o que dar no amigo secreto da empresa. A única diferença é que o disco do Aerosmith tem nome (e não apenas Roberto Carlos) e a capa muda de ano para ano, sendo que a do nosso ícone(?) é sempre azul. Mas, em compensação, todas as coletâneas do Aerosmith são vendidas com uma etiqueta escrito “A Coletânea Definitiva”. Todas, sem exceção.

Então, é batata. Se tem uma coletânea nova do Aerosmith nas lojas, já começo a preparar o bolso porque o natal está chegando. O bolso e o saco, porque aí começam aquelas filas intermináveis em lojas de qualquer tipo, hordas de pessoas se arrastando como mortos-vivos nos shoppings pensando no que poderia dar para o cunhado e congestionamentos kilométricos na cidade inteira – a Rebouças e a Bandeirantes chegam a esnobar as outras avenidas nessa época: enquanto a 23 de Maio está apenas parada, a Bandeirantes sempre dá um jeito de tomar ou caminhão de frutas ou algo assim. Também, o know-how das duas no assunto é muito foda, elas estão paradas o ano inteiro, treinando para humilhar as outras no natal.

Enfim, se eu uso as coletâneas do Aerosmith para me programar para o natal, podemos tirar outra conclusão: estou ficando velho. Sim, porque quando você é criança, a coisa é diferente. Em dezembro, você parece um presidiário, no seu quarto, fazendo risquinhos na parede para ver quanto falta para a véspera de natal. No dia 1º de dezembro você já começa a pensar no assunto; no dia 15, você não se agüenta de ansiedade; e, da noite do dia 23 para o dia 24, você mal consegue dormir, de tanta expectativa. O natal tem um significado especial para as crianças. Você pode dormir tarde, ganha presentes e tem todas aquelas sobremesas maravilhosas. Claro, sempre tia aquela tia pentelha que dá roupa, mas isso passa despercebido no meio do mundo de brinquedos que você ganhava.

Conforme você vai ficando velho, as coisas mudam de figura. Afinal, a graça da sua vida pode ser medida pelos presentes de natal. Quando você é criança, são apenas brinquedos, porque você não tem nada mais para fazer da vida do que brincar. E aí, os anos vão passando. Os brinquedos transformam-se em CDs e DVDs; estes transformam-se em roupas, e chega um determinado momento que você deixa de apenas ganhar presentes para assumir outro papel: o de comprador de presentes. Lá está você, percorrendo shoppings com uma lista na mão e checando quem falta, amaldiçoando a porra do natal, fazendo contas e brigando com as pessoas nas lojas.

Além disso, conforme você vai envelhecendo você entende um pouco mais a festa de natal. Não o significado espiritual dela, que qualquer pessoa sabe – basta ligar a TV e ver uma propaganda de chester, panetone ou da Coca-Cola para entender isso – mas a festa em si, família e amigos reunidos. E você entende que aquilo nada mais é que um retrato do que você vive. Sim, porque quando você é criança, você quer apenas brincar com seus primos e competir quem ganhou o presente mais legal. Os anos passam, e sua atitude também: agora, você adora falar para os amigos que “natal é chato para caralho” porque tem que ficar com a família, e na festa, ignora os primos mais novos e fica perto dos tios e do pai, olhando eles beberem e fingindo que está ali como membro participante do grupo, e não como um penetra que quer apenas sair na foto junto com eles.

Quando você menos percebe, os anos se passam e você está realmente bebendo com seus pais e seus tios – e com seu primo mais novo, que já entrou no grupo – olhando as crianças (talvez seu filho esteja no meio disso) brincarem e as mulheres falando mal de alguém (normalmente dos filhos e/ou do marido) ou atualizando a lista dos amigos e parentes que morreram ao longo do ano (família italiana mode: on). Daí, meu amigo, a coisa muda somente quando você vira avô, e a sua maior alegria são os brinquedos que você não ganha (já que as pessoas acham que você precisa apenas de meias e lenços) e as sobremesas que não deixam você comer (“olha o colesterol, vô!”).

Por isso que já faz alguns anos que eu me dou um “brinquedo” de natal. Antes que as pessoas comecem a rir com o canto da boca, enquanto imaginam eu me dando um bonequinho do Bob Esponja, explico que normalmente trata-se de um DVD (não, minto, trata-se de um pack que provavelmente será devorado antes mesmo do reveillon.). Sim, porque mesmo sabendo que gastei os tubos para dar presentes para quem gosto (e eu GOSTO de dar presentes), acho que uma parte ainda quer manter vivo aquele espírito de moleque, de esperar ansiosamente pelo natal e de abrir um presente – mesmo sabendo o que é, já que fui eu quem comprei – e olhar com aquela cara de “que do caralho!”, e querer abrir na mesma hora.

Talvez assim eu me sinta com 8 anos de novo, vai saber. Talvez seja a maneira que eu encontrei de voltar a ficar ansioso simplesmente com a chegada do natal, e não com a chegada da fatura do cartão. Eu sei, o meu presente vai aumentar ainda mais a fatura do cartão, mas não tentem entender. É natal.

E natal não é para fazer sentido, é para ser bom.

Feliz natal a todos!


5 Frases Clássicas de Agradecimentos para Presentes e as diferentes fases da vida em que são pronunciadas (O "Ah... Não precisava" não entra)

1. “Hum... Valeu. Não, gostei, sim, de verdade.” (aos 8 anos de idade, ao ganhar uma calça)
2. “Uau! Bem Lôco!” (aos 15 anos de idade, ao ganhar o CD novo da banda preferida)
3. “Puxa, obrigado” (aos 25 anos, ao ganhar qualquer coisa)
4. “Será que serve? Eu estou meio gordo...” (aos 45 anos, ao ganhar qualquer roupa)
5. “Hum... Valeu. Não, gostei, sim, de verdade”. (aos 60 anos de idade, ao ganhar outra caixa de lenços)

Um comentário:

Anônimo disse...

Hummm, minha mãe costuma dizer que é a festa da praga planetária. Teremos sessão cinema: Parente é Serpente, Monicelli...