16 de novembro de 2006

A Escola do Rock

Jack Black – que os mais iluminados devem conhecer como Barry – fez escola. Literalmente. A faculdade Unisinos levou adiante a idéia do filme Escola do Rock e resolveu oficializar a faculdade para formação de músicos e produtores de rock. A faculdade Estácio de Sá também tem planos de fazer a mesma coisa, mas duvido que algum roqueiro queria ter um diploma de uma faculdade com nome de escola de samba. As aulas giram em torno de Direito Autoral, Desenvolvimento de Carreira Musical e Preparação de Carreira.

Será que funciona?

Duvido. A idéia é boa, já que um país que enxerga Pitty como rebelde e CPM 22 como algo revolucionário realmente precisa de um pouco mais de cultura roqueira. Mas, até aí, roqueiro é como jogador de futebol: aprende na rua. Claro, um curso aqui, outro ali, ajudam um bocado a aprimorar as habilidades e técnicas, mas rock não se aprende. Rock se sabe. Não consigo nem imaginar o Jimmy Page entrando na sala de Solos de Guitarra II, ou o Steve Harris copiando a lição de alguém no corredor, 10 minutos antes de entrar em Técnicas em Baixo I.

Isso sem falar nas provas. Quem será que analisa o desempenho dos alunos? Quem tem o poder divino de aprovar ou reprovar os estudantes? Se apenas roqueiros formados tivessem permissão de seguir carreira (depois de tirar o registro no CRR – Conselho Regional de Rock) metade das bandas boas do mundo não existiriam. O Brian Johnson, do AC/DC, por exemplo, certamente pegaria DP em todos os semestres que tivesse Técnicas em Vocal. E aí, nada de Back in Black e Thunderstruck para animar o mundo. E o TCC? Certamente, implicaria em compor, gravar e produzir um disco conceitual e toda a classe tomaria bomba – com exceção daqueles sortudos que estivessem no mesmo grupo do Roger Waters.

Não, eu não queria ser professor num lugar desses e ter que dar uma nota para um solo do David Gilmour ou para a nova música de Lennon & McCartney. Deve ser extremamente divertido você ter esse povo ali, tocando para você, mas e a coragem de pegar uma música do Deep Purple e dar oito, dizendo que “vocês precisam se esforçar um pouco mais. Faltou feeling”. Fora os problemas colaterais. Experimenta dar uma nota baixa para o Axl Rose, pra você ver o que acontece.

Mas acho que pior que lecionar numa escola dessas, seria trabalhar como bedel. Imagine a hora do intervalo. Diversas tribos espalhadas pelo pátio, com garrafas pra lá e pra cá. Uma estátua do Elvis, com o símbolo da anarquia pichado (por um punk, lógico), garrafas de cerveja, uísque e restos de substâncias não exatamente aprovadas pela diretoria estão jogados em diversos cantos. Uma rápida olhada e fica mais que claro quais são as tribos da escola e quem é quem no lugar.

O Terceiro colegial – São os mais respeitados do lugar. Quando eles entram na quadra, os alunos que estão jogando abaixam a cabeça e emprestam a bola. Beatles, Rolling Stones, The Who, Eric Clapton, Beach Boys. Andam todos juntos. São as grandes influências da escola e nem os professores sabem há quanto tempo eles estão ali, nem a idade deles. Especialmente do Keith Richards (que anda com um suprimento de drogas na mochila suficiente para abastecer o colégio inteiro por meses, mas consome tudo antes da segunda aula), que pode ter tanto 23 como 97 anos. Atrás deles estão sempre os caras do Oasis, olhando o que os Beatles fazem e tentando fazer igual.

Os Loucos – Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison. De acordo com a lenda, todos eles estão com 27 anos desde a década de 60. Assim que bate o sinal do intervalo, eles correm para o banheiro do último andar e só saem de lá na metade da quarta aula, dançando pelos corredores e com os olhos vidrados. Ninguém sabe o que fazem lá dentro. Um antigo bedel, uma vez, não agüentou de curiosidade e invadiu o banheiro com eles lá dentro. Horas depois, foi encontrado morto. A autópsia decretou que ele havia morrido devido a três doenças sexualmente transmissíveis, uma overdose e engasgado com o próprio vomito. Tudo ao mesmo tempo.

O Panelão – Oficialmente, é formado pelo povo de quatro bandas (Black Sabbath, Deep Purple, Whitesnake e Rainbow), mas ninguém sabe direito quem é quem, pois, a cada semana (ou a cada briga protagonizada pelo Richie Blackmore), os integrantes brincam de dança das cadeiras e trocam as formações – para desespero dos professores, que não sabem quais deles fez cada trabalho. Ian Gillan sai do Deep Purple e começa a cantar no Black Sabbath, substituindo Dio, que já cantou no Rainbow ao lado de Richie Blackmore, que saiu do Deep Purple pouco antes de David Coverdale também deixar a banda e montar o Whitesnake, que chegou a contar com a participação do Don Airey, que hoje toca no Deep Purple. Entendeu? Nem eles.

Os “De Preto” – Ficam sempre no mesmo canto do pátio, onde não bate Sol. Não porque faz sombra, mas porque o Sol tem medo de chegar ali. É o pessoal do Iron Maiden, do Judas Priest, do Metallica e do Megadeth. Estão sempre de preto, com camisetas com imagens de demônios, cenas de guerra, ou de demônios no meio de cenas de guerra. Passam o dia inteiro bebendo cerveja e fumando (no pátio e na aula), pichando caveiras e palavras como “hell” e “evil” nas paredes. Quando você ouvir um berro tenebroso, vagamente parecido com um “Yeah!” (ou “fuck yeah!”, ou “hell yeah!”) e que faz as paredes da escola tremerem, pode ter certeza de que veio dali. De vez em quando, quem aparece ali é o pessoal do AC/DC (trazendo mais bebida), do Motorhead (trazendo mais bebida) e o Ozzy (trazendo mais bebida).

Os Anarquistas – É o pessoal do Sex Pistols, do The Clash e dos Ramones. São os alunos mais altos da escola, por causa dos moicanos, que batem nas janelas do segundo andar. E por causa do Joey Ramone, que também bate nas janelas do segundo andar. Estão sempre sentados nos bancos em volta da quadra, planejando qual pedaço da escola irão destruir hoje. Invariavelmente, não tocam porra nenhuma. Mas nem se preocupam muito com isso: sua meta é atear fogo na diretoria e implementar a anarquia nas aulas, alegando que o “sistema de ensino atual é podre”. Qualquer pessoa que chegar perto deles será chamado de burguesinho, correndo o risco de levar uma botinada e de ter o lanche roubado impiedosamente.

Os “Fala, Bicho” – Não se misturam com os outros grupos porque nem sabem direito quem são os outros alunos, de tão chapados que estão. E lá ficam eles, o pessoal do The Mamas and the Papas, do The Carpenters e a Joan Baez, sentados no gramado na frente da escola, vestindo roupas coloridas, fumando maconha, entregando flores para as pessoas na rua e dizendo que “o mundo tem que se amar mais, bicho”. O único ponto positivo que as outras tribos vêem neles é que as mulheres mais fáceis do mundo estão ali. É só ir até lá e pegar uma. Com sorte, ela não vai nem perceber o que está acontecendo.

Os Lisérgicos – É o pessoal do progressivo. Ficam sempre juntos e não conversam com mais ninguém. Aliás, mal conversam ente si, especialmente porque não têm condições de falar. É povo do Pink Floyd, do Jehtro Tull, do King Crimson. Ficam sentados na escada, completamente chapados, olhando para o nada e compondo letras que começam com versos como “Sou um gerânio sem pétalas que vaga pela galáxia ao sabor do vento prateado” ou alguns solos de guitarra que duram um semestre inteiro.

Os Representantes de Sala – Cada série tem o seu. São os alunos politizados, que se preocupam com meio-ambiente, guerras, fome e a situação de alguns países que, normalmente, só eles ouviram falar. É o caso do U2, que faz tudo pensando no caráter humanitário da coisa e do Bob Dylan e do Bruce Springsteen, que fazem protesto em todas as músicas que escrevem. Ganham rios de dinheiro, também, mas isso não vem ao caso. O Sting tentou se enturmar com eles, depois que o Police acabou, mas desapareceu no meio da Amazônia. Quando estão de bom humor, permitem que o Morrisey ande com eles.

Os Espalhafatosos – Apesar de serem os mais chamativos da escola, são os mais difíceis de serem encontrados. O pessoal do Queen normalmente não fica no pátio, mas no telhado, fazendo um concerto em homenagem a diretoria num palco com 100 metros quadrados e capacidade para 500 mil pessoas. O Elton John, por sua vez, usa roupas tão coloridas que, quando está no pátio, ninguém sabe se é um aluno ou algum trabalho de educação artística abandonado. O camaleônico David Bowie muda o figurino (e a personalidade) a cada semana, o que torna impossível a sua identificação. Às vezes ele vai de funcionário da cantina, em outras, de alienígena. Já chegou a ir, até mesmo, de David Bowie. Uns alunos, inclusive, juram que, em algumas épocas, ele era a lousa de uma sala do terceiro andar. Por fim, o Artista-Antigamente-Conhecido-Como-Prince-E-Que-Toda-Semana-Volta-A-Assumir-O-Nome-Prince não pode ser achado porque tomou pau (de falta) em todas as matérias, já que os professores não sabiam mais pronunciar seu nome durante a chamada.

Os “Party All Night” – É o pessoal do Guns ‘n Roses, Aerosmith, Mötley Crüe e Van Halen. Ficam o dia inteiro no estacionamento da escola, sentados no capô do carro do diretor, tomando uísque e fazendo pose para fotógrafos imaginários, sempre cercado de duas ou três loiras peitudas de biquínis que ninguém sabe como entraram na escola. Toda semana, alguém desse grupo é expulso porque quebrou uma sala de aula inteira (com direito a cadeira arremessada pela janela). Não assistem nenhuma aula, mas sempre conseguem ser aprovados porque, no final de cada bimestre, organizam uma Reunion Tour e lançam um best of com uma faixa inédita.

“The Pré-Primário” – É o pessoalzinho do The Killers, The Strokes, The Whatevers. São as bandinhas que nem saíram das fraldas direito e acham que estão ali para salvar a escola, só porque já estão no pré, e não estão mais no jardim da infância. Se você pergunta a uma dessas crianças quantos discos eles já gravaram, ele fica envergonhado e responde levantando dois dedinhos. Os professores aplaudem o entusiasmo deles, mas são visivelmente ignorados por todas as outras tribos.

O Chorão – É o Kurt Cobain. É o moleque mais novo que fica sozinho no intervalo, escrevendo letras sobre o quanto a vida é uma merda e que nada vale a pena. Morre de vontade de andar com os mais velhos, mas, toda vez que se aproxima de alguma tribo, leva um tabefe na cabeça, “para largar a mão de ser babaca”. Sua popularidade caiu mais ainda quando, numa crise de raiva por não ser aceito em nenhum lugar, começou a comentar que "preferia morrer a se tornar o Pete Townshend".

Seria divertido estudar num lugar desses. Sim, admito, faltou muita gente (mas lembre-se que tem gente que, apesar do que dizem por aí, não merece nem passar na calçada dessa escola). Em todo o caso, seguem aqui 5 bandas que não foram achadas no pátio.

1. Led Zeppelin – Fecharam o último andar da escola só para eles, onde estão organizando uma orgia há meses. Dizem que três crianças já foram concebidas (e nasceram) na festa. Uma delas teve overdose com poucos minutos de vida.
2. Alice Cooper – Nunca entra na escola. Fica na calçada, em cima de um carro, cantando School’s Out e tentando convencer os outros a não entrarem na aula, assim ninguém toma falta.
3. Kiss – Estão em viagem, realizando a 19ª turnê de despedida.
4. Iggy Pop – Olhe melhor. Ele é aquela poça de sangue se contorcendo em cima de cacos de vidro bem no meio do pátio.
5. Frank Zappa – Ele não fica no pátio. Está na cantina, batendo um gato (vivo) em uma panela enquanto chuta um armário, ao lado de uma panela de pressão ligada, para ver que som rola disso tudo. Posted by Picasa

7 comentários:

Anônimo disse...

Tem a turma do "Alegria de Viver" e "Pulando na Relva", representados por Kurt Cobain, Alice In Chains e afins!!! Rock açucarado puro!!!!!

Anônimo disse...

Ah!!!! Ia me esquecendo do nosso "Poliana" do rock nacional: Renato Russo...

Anônimo disse...

pow, o nosso velho homem também já foi o Comissário Gordon, no Batman ;)

mas VOCE SABE que pra mim ele sempre vai ser o Vlad (L).

En passant: por acaso vc tem o Sid & Nancy ? Não acho... (mentira, é preguiça de procurar) e quero assistir faz uns 3 anos.

Anônimo disse...

vc ESCREVEU isso lá (sobre o Gordon)... pq eu repeti ?
=S

Anônimo disse...

Olha, não é a toa que eu fico tão feliz quando meu feed mostra post novo do seu blog! São posts como o de hj que eu venho na seca pra ler! Parabéns! Amei o post!

Anônimo disse...

Seriam os Mutantes os alunos latinos que vieram por intercâmbio?

Hally disse...

Orra... seria muita loucura poder estudar com essas feras aí. Mas, não sei bem em qual grupo eu seria aceita, talvez tivesse de formar o meu próprio. Ou faria amizade com o Kurt... hehehehe.

Brincadeiras a parte, gostei muito deste post. Parabéns!