Hoje assisti a Os Inflitrados, novo filme de Martin Scorsese. Gostei muito. Claro, não se compara a Taxi Driver e O Touro Indomável (aliás, não chega a ser nem um novo Os Bons Companheiros), mas está milhas à frente de O Aviador. Scorsese voltou às ruas (desta vez em Boston, não na habitual Nova York) e entregou um filme tenso, com história inteligente e personagens sólidos. E, de quebra, envolvendo o crime organizado, algo que ele conhece como poucos.
Mas o que chama a atenção no filme – e que, antes mesmo de assistir, eu já imaginei que aconteceria – é a enorme quantidade de Barcelona X Ponte Pretas que desfilam na tela. Afinal, nós temos Jack Nicholson X Leonardo di Caprio, Jack Nicholson X Mark Wahlberg, e, principalmente, Jack Nicholson X Matt Damon. Se você quiser entender o conceito Barcelona X Ponte Preta, Os Infiltrados é um bom exemplo.
Barcelona X Ponte Preta consiste na seguinte equação: trace uma linha reta e coloque, nos dois extremos, os algarismos 0 e 10. Escolha qualquer assunto que desejar (por exemplo, cinema) e pense em dois nomes que se encaixem tanto no 0 (Matt Damon) como no 10 (Jack Nicholson). Pronto: você já tem o seu Barcelona X Ponte Preta montado. Scorsese apenas fez o favor de marcar a data e fazer os times entrarem em campo.
Claro que isso não necessariamente se aplica somente a cinema. O assunto fica ao gosto do freguês, e assuntos para isso não faltam, como mostram os exemplos abaixo.
Música: Eric Clapton X Chimbinha; Frank Sinatra X Zeca Pagodinho
Inteligência: Stephen Hawkins X Sérgio Mallandro; Winston Churchill X Tiririca
Beleza: Jennifer Connely X Zezé Macedo; Brad Pitt X Pedro de Lara (para as leitoras)
Claro que isso são exemplos-macro. Podemos focar em apenas um universo e descobrir quem é o Barcelona e quem é a Ponte Preta de qualquer lugar. Por exemplo:
Filmes Recentes de Super-Heróis: Homem-Aranha 2 X O Justiceiro
Vencedores do Oscar de Melhor Filme: Menina de Ouro X Shakespeare Apaixonado
Lojas para Comprar CD: Fnac X Americanas
E por aí vai. Mas, claro que os exemplos têm que, necessariamente, pertencerem a uma realidade plausível. Comparar Beethoven (apresentando, pela primeira, a Nona Sinfonia) com Gugu Liberato (cantando “meu pintinho amarelinho / cabe aqui na minha mão”) já é algo que rompe os limites da sanidade, e apenas faria Beethoven agradecer aos céus por ser surdo. Não serve como estudo antropológico.
Por isso que o cinema é o campo ideal para testes de Barcelona X Ponte Preta. Se Deus, em Sua sabedoria, impediu que Beethoven e Gugu Liberato co-existissem na mesma época, não é culpa nossa (ou Dele) se Matt Damon decidiu encarar Jack Nicholson em Os Infiltrados, ou se Val Kilmer insiste em se enfiar entre Al Pacino e Robert de Niro em Fogo Contra Fogo. Azar o deles.
E, basta uma rápida pesquisa na internet para descobrir quem são os imbatíveis Barcelonas e os Ponte Pretas de todos os tempos. Os Barcelonas são fáceis, mesmo se pegarmos apenas os atuais: Al Pacino, Robert De Niro, Meryl Streep, Judi Dench, Jack Nicholson e por aí vai... Já identificar os Ponte Pretas é um pouco mais trabalhoso (mas muito mais divertido). Vale citar aqui que atores cuja carreira resume-se a filmes do Supercine ou Domingo Maior, que normalmente envolvem a) mulheres que casam com serial-killers; b) policiais enfrentando a máfia chinesa; e c) alienígenas ou enxames, manadas e alcatéias que atacam pequenas cidades não entram na estatística. Estão muito mais para Moto Clube ou CRB que para Ponte Preta (sim, Lorenzo Lamas, Dolph Lundgren e Michael Dudikoff, estou falando com vocês). Eles não jogam contra os grandes, pois sabem o seu lugar. Então, temos, como alguns exemplos ponte-pretianos: Julia Roberts, a mulher mais Ponte Preta de todos os tempos, (o supracitado) Matt Damon, Ben Affleck, Rob Schneider, etc.
Mas três exemplos precisam ser destacados. O primeiro deles é Val Kilmer, um dos maiores mistérios da natureza. Kilmer tem seu histórico de engolidas: em A Sombra e a Escuridão, apesar dos dois leões que dão título ao filme, foi devorado pelo Michael Douglas; e desapareceu totalmente sob os escombros de Fogo contra Fogo, por exemplo. Mas dá um show em The Doors, engole todo mundo em Tombstone (não que seja difícil engolir Kurt Russell) e é a única coisa que presta em Alexandre (o que também não é grande coisa). Ou seja, Val Kilmer é rebaixado a cada dois ou três anos, e, quando volta para a série A, fica entre os quatro primeiros. Ele é uma incógnita, não dá para prever como será seu desempenho. Val Kilmer é o Grêmio do cinema.
Já Keanu Reeves é um exemplo clássico de Ponte Preta. Os únicos filmes em que ele não é engolido são os que ele contracena com a Sandra Bullock (porque aí seria demais, até mesmo para ele). Porém, Keanu Reeves tem um fator que o distingue dos outros Ponte Pretas: ele é o protagonista dos placares mais dilatados da história do cinema. Reeves foi destroçado por Anthony Hopkins e Gary Oldman em Drácula (a Wynona também enfiou uns gols nele, mas ó placar não foi tão humilhante como contra os outros dois); se arrebentou na mão de Jack Nicholson e Diane Keaton em Alguém tem que Ceder. E, finalmente, foi, literalmente, humilhado por Al Pacino em O Advogado do Diabo, que permanece, até hoje, como a maior goleada da história – e que deu origem à tese Barcelona X Ponte Preta.
4 comentários:
até hoje, eu nunca consegui entender como o 'grande' Keanu Reeves, com toda sua expressão shakesperiana e sua grande eloquência, voi escolhido pro papel de um advogado que 'never lost a case...'.
deus! deveria se chamar 'um advogado dos diabos!'
o aotr mais 'barcelona X ponte preta' de todos ? caraca... difícil. to pensando aqui...
Rob, estou lembrando da primeira vez que vi O Advogado do Diabo, naquele cineminha tosco do Shopping Ibirapuera.
"cineminha tosco"? Who are you carrying all those bricks for? God? IS THAT IT? GOD?
Free will, it is a bitch.
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