9 de agosto de 2006

Billy Wilder e Paul Verhoeven

Ontem saí para comprar livros sobre cinema. Fazia tempo que eu não lia algo sobre o assunto, e, apesar de ter uns 4 ou 5 livros na fila para terminar, me deu sede de ler algo assim. Podia ser um livro de críticas ou alguma biografia (de preferência, do nível da biografia deliciosa do John Huston que eu li uns 2 anos atrás). Atravessei a rua, entrei no templo do consumo e corri para a prateleira de arte.

E aí me lembrei do problema. Não saem livros sobre cinema bons por aqui. Saem, quando muito, uns 3 ou 4 por ano, mas a maioria deles fica restrita ao maldito idioma anglo-saxão do primeiro mundo. E, ok, eu consigo ler inglês (às vezes, como um Fiat 147 numa ladeira, que engasga, derrapa, reclama, mas acaba subindo) mas o que eu não consigo é pagar 70, 90 paus num livro, só porque ninguém quer lançá-lo aqui. A única exceção que eu abri até hoje foi do maravilhoso Down and Dirty Pictures - The Rise of Independent Film (e todo dia eu prometo pra mim mesmo que ainda essa semana eu compro no Amazon o Easy Riders and Raging Bulls - How the Sex-Drugs-Rock'n'Roll Generation Saved Hollywood, do mesmo autor)

Isso sem falar nos livros sobre cinema brasileiro que são lançados. Tem coisas boas (e a maioria delas, atualmente, sai pela Coleção Aplauso), mas, na maioria, é um pior que o outro. Coisas como A Evolução da Fotografia no Cinema de Roraima do século 20 ou A Trajetória do Mulato no Cinema Apolítico Mineiro. Porra, quem vai ler uma coisa dessas? Nem se eu fosse mulato, apolítico, mineiro e adorasse cinema, eu não leria uma bobagem dessas. E todos eles tem cheiro de serem Trabalho de Conclusão de Curso de alguma faculdade de ciências sociais, escritos por algum aluno socialista que ainda assiste a filmes em VHS.

Já os livros gringos, não. Que me desculpem os policarpos-quaresmas da vida, mas, quero ler sobre Ford, Wilder, Huston, Kubrick, Scorsese, Hawks. Ok, não gosta de cinema americano? Me dê Fellini, Bergman, Kurosawa, Leone, Scolla. E... Putz... Cada livro que dá água na boca. Ontem tinha uma biografia do John Ford que me deixou babando e, claro, os malditos livros da Taschen, que saem aqui a preço de ouro. Para quem não sabe, são edições luxuosíssimas que escolhem um ator ou um diretor e, através de 200 e poucas páginas, vai narrando a carreira do sujeito através de fotos raras, normalmente de página dupla, com pequenos textos. Eu nem olho muito para não passar mal... Eles estão sempre um ao lado do outro, expostos e começam a rir do meu holerite toda vez que eu passo, então não dou muita trela, olho sempre de canto para eles e finjo que não é comigo.

Ontem, pelo que eu me lembro, tinha Billy Wilder e... Paul Verhoeven?

Cabe aqui a pergunta: Paul Verhoeven fez RoboCop (não vou explicitar aqui que é o primeiro RoboCop, porque eu nem conto os outros), que fez minha infância; e O Vingador do Futuro, que é um filmaço de ficção científica. Mas colocar Paul Verhoeven e Billy Wilder na MESMA prateleira, ali, lado a lado, como se fosse a coisa mais normal do mundo?

Não é possível, o Verhoeven comprou o gabarito ou deu grana pro porteiro pra entrar nessa coleção. Porra, estamos colocando Showgirls e Crepúsculo dos Deuses na balança e não pende para nenhum dos lados! Sabe, ele não é de todo o mal... mas ele é SÓ o Paul Verhoeven. E o outro é "SÓ" o Billy Wilder. Não tinham que estar nem na mesma livraria, quanto mais lado a lado. É como escalar o Kahn no gol e colocar, na zaga, Henrique e Célio Silva; é como entrar num restaurante abraçado com a Jennifer Connely e a Zezé Macedo.

Enfim, se eu não gasto 100 reais com Billy Wilder, não gasto isso também com Paul Verhoeven. Deixeis os livros da Taschen rindo de mim, atravessei a rua, entrei num sebo e comprei uma biografia do Chaplin. 20 reais.

(o post saiu maior do que eu imaginava, mas é por causa da revolta. Nem tanto pelo Paul Verhoeven e mais pela biografia do John Ford que eu não comprei)


5 Melhores Filmes de Billy Wilder (e que Paul Verhoeven deveria assistir)

01. Crepúsculo dos Deuses - o filme quintessencial sobre Hollywood. Cruel, sórdido, humano, trágico. Ah sim, William Holden... Conhece?
02. Quanto Mais Quente Melhor - a melhor comédia de todos os tempos. Só a cena do tango com o Jack Lemmon é melhor que tudo o que Keanu Reeves fez na vida
03. Testemunha de Acusação - o único filme baseado em Agatha Christie que a escritora gostou. E, como o mundo é uma merda, não foi lançado em DVD.
04. Se Meu Apartamento Falasse - Jack Lemmon, como sempre iluminado. Dá vontade de sair e se apaixonar por alguém dentro de um elevador. É... também não tem em DVD.
05. A Montanha dos Sete Abutres - o filme mais ácido da história a retratar a imprensa. Ah, e ainda tem um tal de Kirk Douglas no elenco. Em DVD? Claaaaro...

3 comentários:

Anônimo disse...

Ainda espero pela biografia de um dos maiores do Brasil... Renato Aragão.

Anônimo disse...

Rob, seus dois primeiros posts foram sensacionais. Já estes últimos.... parecem mais do mesmo.

Força sempre.

Anônimo disse...

ôrra. Se é consumista demais! ololco.