Como eu faço toda segunda-feira, fui até a Fnac depois do almoço. Não, mentira. Eu faço isso todos os dias, mas escancarar isso, aqui, daria a impressão de que sou um louco consumista (eu sou, mas isso não vem ao caso), enquanto falar com que eu vou toda segunda-feira passa a idéia de que sou, ao menos, um pouco regrado nos meus hábitos.
Enfim, hoje é segunda-feira e fui até lá, em busca de um livro, de um CD ou de um DVD que possa tornar os meus próximos 4 dias um pouco menos áridos. E, como faço toda vez que vou colocar os pés lá dentro, fumo um cigarro na porta, para relaxar, e fico jurando para mim mesmo que vou me controlar na loja. Isso porque normalmente a facada lá é grande (alguns funcionários da loja me chamam pelo nome, para você ter uma idéia da porcentagem da minha fatura do cartão de crédito destinada ao salário deles).
No meio do cigarro e ainda pensando se iria primeiro para a parte de livros ou de CDs, percebi imediatamente que seria uma longa semana. O movimento na porta da loja era maior que o normal, mas só reparei nisso quando já estava lá, encostado na vitrine. Umas dez ou doze pessoas com coletes iguais circulavam pelo local, com panfletos na mão, falando com os pedestres. Uma dessas pessoas virou e eu pude ler, claramente, nas suas costas: Greenpeace.
Greenpeace.
Em Pinheiros.
Ok, ou a Fnac estava promovendo um debate entre uma foca e um leão marinho no auditório cultural, ou esse povo precisa melhorar um pouco mais o seu foco. Eu sou totalmente a favor da ecologia, e acho que temos, sim, que preservar os animais e plantas e tal, mas... Na boa, será que alguém que esteja na Pedroso de Morais as 2 da tarde de uma segunda-feira chuvosa se importa com isso?
Meus pensamentos foram interrompidos devido a uma gordinha do Greenpeace, que, quando me viu fumando ali, olhou nos meus olhos como se eu estivesse andando pela Floresta Amazônica com uma serra elétrica e com um colar enfeitado com a cabeça de um mico-leão. Pela cara que ela fez, eu e meu Marlboro deveríamos estar quebrando umas 19 leis ambientais e, pelo jeito, isso só podia ser punido com a morte. A minha, não a do Marlboro, que, num julgamento formal, seria colocado apenas como cúmplice inocente.
Os olhos da gordinha se encaixaram nos meus e o tempo parou.
Era eu, a gordinha, o barulho do vento e mais nada. Me senti como num daqueles westerns estrelados pelo Clint Eastwood. Só que o Clint Eastwood era a gordinha; eu era, no máximo, um daqueles mexicanos que com 5 minutos de filme, morrem com 4 tiros no peito na frente de uma estação de trem, numa cidade decadente e sem lei.
Aliás, eu coloquei o "inha" no "gordinha" apenas para criar simpatia pela personagem. A mulher era grande. Em todos os sentidos. E não parecia ter muitos amigos, também. Se eu fosse uma foca e ela viesse me salvar, eu pularia direto nos braços dos caçadores e pediria pra me levarem dali de qualquer jeito.
Meu instinto de sobrevivência falou mais alto. Desencostei da vitrine e, sem tirar os olhos dos olhos da gordinha (dá que ela resolve atacar pelas costas?), caminhei lentamente até a porta da loja, onde tem um cinzeiro. Fugi? Fugi. Mas não perdi de zero, não. Ainda dei uma tragada de mais ou menos meio cigarro, e, com olhar de satisfação, deixei o cigarro aceso no cinzeiro. Os olhos dela brilharam de ódio frio.
Eu, na dúvida, fui me esconder lá no final da seção de revistas, por alguns minutos. Só por segurança.
Vai ser uma longa semana.
Aproveitando, os 5 Melhores Filmes de Clint Eastwood
1. Três Homens em Conflito – o ápice da parceria Sergio Leone X Clint Eastwood. Filme de macho mesmo, sujo e empoeirado. Obrigatório.
2. Os Imperdoáveis – o filme que deu um funeral decente ao western americano. Obra-prima.
3. Perseguidor Implacável – Dirty Harry, o primeirão da série. Se São Paulo tivesse 10 policiais assim, o PCC ia implorar para ficar dentro da cadeia.
4. Menina de Ouro – Filmaço. Mas é recente, todo mundo viu. Dispensa apresentações.
5. As Pontes de Madison – Apesar de não ter tanto barulho em cima dele, figura entre os grandes romances do cinema, no mesmo grupinho de Casablanca e Desencanto.
7 comentários:
Lindo o texto! São poucos que conseguem ser tão cínicos, e tão reais sobre a vida. Suas observações sobre o lugar comum sempre me fazem rir (e olha que sou difícil)e me deixam com gostinho de quero mais...
Gargalhadas, Rob...
Um sarcarmo acentuado unindo-se a uma bela "pitada" de bom-humor.
Muito bom, mesmo.
PS.: Meu cachorro acaba de me olhar com uma cara de quem acredita que estou enlouquecendo, pelo súbito ataque de riso.
tb já fui fuzilada por fumar, hoje eu fuzilo tb. Boa sorte pra parar. não é fácil, mas é um grande passo. não sei pq ela te condenou. ela tb deve ter o vício de comer, já que era gorda. ambos fazendo um mal não ao meio ambiente, mas a si mesmos. é o livre-arbítrio de cada um, temos que respeitar, né?
Nós fumantes temos que ter muita coragem...me dá calafrios acender um cigarro em ambiente desconhecido, já fico esperando o apedrejamento..rsrsrs
Olha só! Fuçando o blog no meio de uma aula (!) na faculdade, descobri um texto da época em que o Champ recebi só 4 comentários em um post! Wow!
*recebiA
Quem me dera morar em uma cidade, que ao menos tivesse uma Fnac.
E a gordinha ainda te pega.
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