25 de janeiro de 2008

Dois Neurônios

O pior momento do final de um namoro não é o término em si. É acordar no dia seguinte. Por alguns segundos, seu cérebro acha que tudo continua absolutamente normal, até que a sua consciência resolve dar um basta naquilo e acende um néon vermelho com a inscrição “ACABOU” num lugar bem alto, à vista de todos os neurônios.

Em poucos segundos, a notícia começa a se espalhar – primeiro pelo cérebro, depois pelo resto do corpo. Os primeiros a ficarem sabendo, claro, são os neurônios, que não conseguem nem trabalhar direito por causa da luz do néon e começam a discutir o assunto no trem, indo para o trabalho.

– Acabou mesmo, é?

– Parece que sim. Ou não teriam acendido aquele troço lá em cima.

– Eu ouvi alguns rumores ontem, enquanto ia para casa, mas não sabia do que se tratava.

– É. O término oficial foi ontem à noite. Parece que o pessoal da área de tristeza teve que varar a noite no escritório.

– Coitados. Eles sempre se ferram nessas ocasiões. Por isso que eu digo: quer ser feliz, vá trabalhar na seção de memória. Lá não acontece nada, nunca. Você só tem que arquivar tudo e, às vezes, mandar uma ou outra coisa para o pessoal dos sonhos. Só isso.

– Sim, mas nessa crise, você vai ser um dos mais prejudicados. Todas as músicas que lembram o namoro, os filmes que eles assistiram juntos... Você vai ter que ficar enviando esse material sem parar pelos próximos dias. Duvido que você consiga sair antes das 20:00.

– Putz, é mesmo! Que merda!

– Dá para vocês falarem mais baixo? Estou tentando ler o jornal aqui atrás.

– Desculpe.

Aos poucos, o resto do corpo começa a sofrer os efeitos da notícia, como se um novo pacote econômico tivesse sido oficializado no organismo. O estômago não consegue funcionar direito; os intestinos ameaçam se rebelar e pegar em armas a qualquer momento; os olhos insistem em passar o dia marejados; e os pulmões convocam jornada dupla entre os funcionários, porque sabem que o sujeito vai fumar o dobro. No fígado, é acionado o alerta amarelo e começam os procedimentos de emergência, porque o consumo de uísque deve aumentar consideravelmente – especialmente no primeiro fim-de-semana – para tentar aplacar o vazio de sua vida.

– O que eu ouvi no rádio hoje pela manhã é que os analistas temem que agora ele caia de vez na gandaia.

– Ah, ele sempre faz isso. Vou até dizer o que vai acontecer. Ele vai começar a procurar desesperadamente algo para substituir o que ele perdeu. E, eventualmente, vai encontrar e se apaixonar novamente. E isso, por sua vez, eventualmente, vai terminar também. E aí voltaremos à estaca zero.

– Tem razão! É sempre assim! Sempre!

– Eu estou tentando ler aqui atrás!

– Desculpe.

Permaneceram em silêncio por alguns minutos, chacoalhando no trem. Ambos sabiam, em seus íntimos, que as próximas horas seriam caóticas. Um deles ainda sussurrou de forma que o neurônio mal-humorado não os ouvisse.

– Mas o primeiro dia é sempre o pior. Sobreviva ao primeiro dia e as coisas começam a voltar ao normal.

– Sim, o problema é sobreviver a ele.

– Nem fale. Por isso que eu gostaria de ser neurônio de um padre. Eles jamais passam por esse tipo de coisa.

– O papa! Eu queria ser neurônio do papa!

– Porra, eu estou tentando ler!

Eles ficaram olhando enquanto o neurônio se levantava xingando e saía do trem, mudando de vagão.

– Viu só? Todo mundo já está estressado. Estou falando, o dia hoje não vai ser fácil.

Os dois continuaram sentados, esperando o trem chegar à estação em que desciam. Lá, subiram as escadas da plataforma, e, na calçada, se despediram, cada um desejando boa sorte para o outro.

“O dia hoje não vai ser nada fácil”, pensou um deles. “Como será que eu consigo um emprego no cérebro do papa?”, pensou o outro.


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Se você já está preparando um comentário me desejando sorte nesta nova fase da minha vida, esqueça. Eu não terminei namoro nenhum. Na verdade, terminei, mas não um namoro convencional.

Ontem eu assisti aos dois últimos episódios de Seinfeld em DVD, encerrando um relacionamento de quase três anos com os DVDs da série. E os dois episódios – ou quatro, porque cada um deles é duplo – são um deleite para os fãs da série, repleto de referências aos nove anos do seriado. E pegam pesado, especialmente o penúltimo, que contam com erros de gravação e cenas de bastidores. Quando o último episódio acabou, fiquei olhando os créditos tentando cair na real. “Agora sou um Rob Gordon sem Seinfeld”, fiquei pensando.

E, hoje pela manhã, acordei como se tivesse perdido algo na vida, o que inspirou essa pequena crônica – os dois neurônios conversando acima são Jerry Seinfeld e George Costanza. Ou, ao menos, eu os imaginei assim. Obviamente, Costanza é aquele que grita e termina o post desejando ser neurônio do Papa.

Obviamente, vou substituir Seinfeld por alguma outra série de comédia, mesmo que Seinfeld seja insubstituível. E que me desculpem os fãs de Friends, mas George Costanza sozinho come o elenco da série da Warner com farinha, e o episódio The Soup Nazi é melhor que qualquer temporada inteira da série de Rachel e Ross. Não é à toa que o TV Guide americano elegeu Seinfeld como a melhor série de todos os tempos.

Claro, ainda tenho metade da terceira temporada de House, a primeira temporada de Shark e inúmeros packs de Star Trek que me ajudarão a superar essa crise.

O problema é que eu não tenho mais Seinfeld.

E, para encerrar, deixo como Top 5 personagens principais de Seinfeld pela minha ordem de preferência:

1. George Costanza – já me compararam a ele de duas maneiras: física e psicologicamente. Não sei qual é pior. É, de longe, o melhor personagem: mentiroso, neurótico, desonesto e fracasso.

2. Jerry Seinfeld – apesar de normalmente funcionar como elo entre os outros personagens, seu sarcasmo chega a ser brilhante na maioria das vezes.

3. Cosmo Kramer – Usa muito o humor físico, o que, normalmente, o destoa da série, cujos pontos fortes são seus diálogos. Mas, especialmente quando está sozinho em cena, dá um show.

4. Elaine Benes – Ao contrário de Kramer, funciona melhor quando está cercada pelos outros personagens. Mas, sozinha, consegue arrancar gargalhadas também.

5. Newman – O inimigo mortal de Seinfeld, o carteiro Newman é exagerado e megalomaníaco. Cresce demais nas duas últimas temporadas, tornando-se inesquecível.

27 comentários:

Karla Hack dos Santos disse...

Primeiro... o Texto!
Nossa .. amei.. divertido e inteligente.
Qto a Seinfeld: sem comentários!
vc disse td..
Não teria como ser diferente a escolha do TV Guide americano!
Ela é genial... hilária!!

;D

bjus

Bernardo Lima disse...

hahaha...
vi poucas vzs, mas a ironia de Seinfeld é genial msm...
acho que a poria em primeiro...
o texto ficou divertido msm...
vlw, cara

Unknown disse...

Dessa vez meu comentario vai ser pequeno:

Viva Friends! haha

Desculpa, mas sou viciado em Friends, e até parei um pouco de ver os DVDs porque morro de medo de um dia acontecer o que aconteceu contigo.

Anônimo disse...

Hahahahah maravilhosa essa crônica, mas mesmo que ela seja bem humorada, ao mesmo tempo pode ser um pouco triste para os recém solteiros rs.
Quando comecei a ler não achei que o dono do blog tivesse algum vínculo com a crônica, ou seja, que ele tivesse terminando um relacionamento, muito menos um relacionamento com Dvds. Mas eu entendo, quase morri quando acabou Anos Incríveis =/

Passe no meu blog se puder!!

Abraços.

Talita disse...

Maravilhoso, tudo fez sentido quando eu reli imaginando os dois como o Jerry e o George.

João Victor Lima disse...

Não acho que possa comentar sobre Seinfeld, assisti-o poucas vezes. Quanto a House, ESPERO que ainda tenhamos um bom punhado de temporadas. :)

E o texto, MUITO bom. Diversão inteligente o/

Fer-Nando Cabral disse...

Putz... eu quero ser um neurônio do papa, também...

Bixo... que massa... tu é bom, visse... é o primeiro blog que eu leio hoje que encontro um conto... O povo só escreve poesia. Escrever conto é cruel - hahahahaha

Espero que você já tenha encontrado algo prá substituir o vício de Seinfeld, mas, sem dúvida, nada como a melhor série sobre nada!

O rapaz dos quadrinhos disse...

sab q sou fano do q vc escreve mesmo,
espero que tudo de ceerto agora q nao esta mais namorado.
sausuahsauhas
brincadeira viu
=]

andei pensando em aplicar o robo champ em um de meus quadrinhos, algum problema com isso?

www.meusquadrinhos.blogspot.com
quadrinhos viris e obstinados

Anônimo disse...

\o/
achei seu blog através do orkut e... nossa! foda!
cara, esse texto seu... é cabível para tudo que acaba: namoro, seriado, litro de amarula e harry potter.
;DD
beijos!

Ícaro Vinícius disse...

Olá!!!!!! Acabo de deixar OUTRO prêmio para você...
Passa lá no meu blog para pegar!

Parabéns!
Abraços!

Didixy disse...

oi, td bem ?
Sou iti, gostaria de saber se esta afim de fazer uma parceria com meu blog, link ou banner -
http://itimartins.blogspot.com/
abrs

Tyler Bazz disse...

Nossa, cara.. fica assim não.. quer um abraço? aUHAuhaUHAUhauh

Pior que não dá nem pra dizer "ela volta". Ainda se fosse uma banda...


o/

Anônimo disse...

Primeiro, parabéns pelo belíssimo texto.

Por último, meus pêsames por sua perda, mas você vai conseguir superar...

Otavio Cohen disse...

éééé, seu georg... oops, seu rob.

fim de relacionamento nunca é difícil. ainda bem q vc n foi idiota de substituir Seinfeld por Friends (tipo o cara q termina com a namorada e epga a primeira menina q dá mole logo depois)

mas otimo texto (oh, redundância... vc sabe né). se encaixaria até no Chronicles!!

MaxReinert disse...

Porra!!!
Palhaçada!!!
Já tava até pensando no que iria escrever sobre relacionamentos...etc, etc, etc.....

mas... como vc mesmo disse, com o tempo, o vazio é preenchido... hehehehehhe

O Antagonista disse...

Pois é, não deixa de ser um relacionamento longo que chegou ao fim... e os neurônios devem estar comentando o assunto na volta do trabalho do mesmo jeito! hahaha...

Valeu.

Anônimo disse...

uhahuahuahuahuahuahahuahuahuah...!
bom demais..
mas no começo achei que vc tinha largado sua namorada..

bacana..
gostei.
um beijo rob

Anônimo disse...

Seu Viado! O Blog evoluiu pacas desde a última vez que apareci por aqui... parabéns!
Bom, estou aqui em terras hollywoodianas e iniciei um blog pra contar essa jornada maluca. Dá uma passada lá e vê se manda um email, os contatos continuam os mesmos!
Te cuida e até o retorno!!!!
http://judao.com.br/blogs/hollywood

Ah... vou fazer um set visit de Jornada.. aí te digo se vão ser duas porradas nesse ano mesmo.. hehe

Abs,
Barreto

An@Lu disse...

poxa, por momentos achei que a Sra. Rob Gordon tivesse ido embora! Que susto!!!

Compreendo perfeitamente essa sensação de vazio. Ataca com frequencia os meus neuronios quando eu termino de ler um livro.

rera disse...

seus textos são animais! *-*
me ensina a escreve igual vc? XD

ah, aproveitando, te "dei" dois selos =P
http://patraosaiu.blogspot.com


=)

ღ mey ♥¨`*•.¸¸.•*´¨♥ღ disse...

nossa, mt bom o texto, tomara que meus neuronios nao passem por iso!!! espero q visite meu blog tbm =** bejaum

Unknown disse...

Embora HOUSE seja outro estilo, é uma ótima companhia.

Entendo bem o que está sentindo.
Até hoje assisto reprises, isso mesmo, reprises de Sex and the City e Beverly Hills 90210. A 2ª série é ainda pior,pq assisti no começo da adolescência e sempre que dá assisto de novo. E desde que soube que C.S.I. poderia acabar, tenho momentos de nostalgia. Enfim... fazer o que né?

Sugestão de série: Mad About You.
Não é um Seinfeld, mas dá pro gasto.

Bjs.!

PS: Aceita uma troca de links?

Unknown disse...

Demais sua crônica, adorei o jeito como vc escreve, prende a pessoa na leitura. Falar o quê? Parabéns, vc merece o Oscar de melhor roteiro. Bjsss.

Maps disse...

Frase do dia: Is this the Twilight Zone???

Daqui a pouco vão te sugerir compensar no Big Brother - quem sabe você troca o Constanza pelo Bambam? Estilo Domingo no Parque, a luz vermelha acende dentro da cabine e você responde: NO SOUP FOR YOU, Bambam!

A Lyra definiu bem a perda sentida ao terminar o Amarula, mas no meu caso é quando acaba meu licor Mozart meio-amargo. Sério, é amedrontador.

Tomara que seus neurônios se recuperem em breve, Rob. Fico na torcida pra aparecer alguma tão boa quanto o Seinfeld, se é que isso é possível... mas depois que o Waters tocou com o Gilmour no Live 8, eu não duvido de mais nada.

Beijocas!

Gustavo Timm de Oliveira disse...

Lamento tua perda, Rob. Mas que resultou em um diálogo excelente, a isso resultou :D

Me lembrou da última parte de um filme do Woody Allen, "Tudo que você queria saber sobre sexo, mas teve medo de perguntar" (Acho que o nome é este. Tenho minhas dúvidas...)

Os espermatozóides conversando são hilários!

Muito bom! Grande abraço e boa semana!

Gustavo Timm - D Bituca (dbituca.blogspot.com)

Sil disse...

Ok, Meu comentário não foi postado e, portanto ficou perdido no buraco negro dessa janelinha maledeta de comentários, sabe-se Deus aonde foi parar.

De qualquer maneira, reitero meu (não postado) comentário, amei o texto, ri muito e, obviamente quase mandei um e-mail bomba para a Sra. Gordon antes de descobrir o verdadeiro responsável pelo fim do namoro ^^

Beijos

Sil

Thiago da Hora disse...

sou fã de séries americanas, principalmente "friends" e "seinfeld". e sei bem como você se sente. passei por isso quando assisti ao último episódio no antigo canal 21 (atual playtv). vontade de chorar não faltou. "seinfeld" é com certeza o melhor de todos os tempos. e continuará único para sempre. amém!