Eu nasci numa quarta-feira, às oito da manhã.
Na época não existia internet. Mas existiam livros e eu passei boa parte da minha infância cercado por eles.
Não, essa não é uma história triste de um garoto que cresceu sem amigos ou preso numa cama e tinha apenas livros como companhia. Eu jogava bola, aprontava o máximo que podia, andava para cima e para baixo no bairro... Eu fazia tudo o que um moleque que cresceu nos anos 80 faria, mas sempre com um livro, uma HQ ou um filme embaixo do braço.
Talvez tenha sido com essas histórias que eu carregava comigo que aprendi a contar histórias. Quando fiquei mais velho, percebi que sempre tinha uma história no bolso para contar na mesa de bar. E foi em algum momento desses que eu descobri que gostava tanto de contar histórias quanto de ler. Talvez até mais.
O tempo passou. Me formei em publicidade e trabalhei como jornalista durante mais de dez anos, escrevendo o dia inteiro. Mas a paixão por contar histórias nunca diminuiu. Comecei a arriscar algumas crônicas – escrevendo ali no trabalho mesmo – até que criei o blog Championship Vinyl. Era uma segunda-feira e foi pouco antes do almoço.
E acho que nasci de novo.
Provavelmente, hoje, eu acharia os textos dessa época horríveis, mas não me importo. Acho que nunca tinha feito algo que me desse tanto prazer.
O blog foi criado em 2006 e, de lá para cá, muita coisa aconteceu. Saí do jornalismo, mudei de casa, me casei... Mas nunca parei de escrever. Voltei para a publicidade, mas continuo apaixonado por contar histórias, sejam elas a meu respeito, transformando meu dia a dia em crônicas, ou com personagens de ficção – há quem diga que essas histórias também são sobre mim.
Hoje eu continuo escrevendo. Publicidade, jornalismo, roteiros... E histórias. Crônicas. Contos. Histórias em quadrinhos. Poemas. Na verdade, eu crio histórias o tempo inteiro dentro da minha cabeça – sim, eu sei que é desagradável conversar com alguém e perceber que essa pessoa está enxergando uma história acontecendo na mesa ao lado, mas não consigo evitar.
Criando histórias eu aprendi a entender melhor o mundo e entender a mim mesmo. Inventando histórias eu aprendi uma ou outra técnica de escrita, mas também aprendi a rir de mim mesmo e a me colocar no lugar dos outros – duas coisas que estão entre as mais importantes do mundo.
E aprendi que a vida pode ser encantadora, desde que, como qualquer história, ela seja bem contada (e claro que ter a sorte de fazer aquilo que você gosta durante o dia inteiro ajuda muito).
Lembram quando eu disse que nasci de novo quando criei o blog? Bem, isso é verdade, mas não é a história inteira. Eu nasci de novo quando criei o blog, mas minha vida recomeça novamente sempre que imagino uma história que vale a pena ser contada – muitas vezes isso acontece mais de uma vez por dia.
Pois aí é como se nada mais existisse, apenas aquela história.
E se as histórias me deram todas essas vidas, o mínimo que eu posso fazer é garantir que elas sejam contadas.