Faz algumas semanas que eu sonhei com um texto.
Na verdade, não era um texto. Era um texto que eu precisava
fazer. Não lembro o motivo, não lembro o prazo, não lembro nada direito. Lembro
apenas que o texto não era para mim, então eu presumo que seja algum freela.
(O que me leva a pensar que, como o sonho era meu, ao menos espero
que o freela fosse render uma grana
preta).
Enfim, eu lembro que o texto era sobre um garoto oriental.
Na verdade, eu precisava contar a vida dele. Ou melhor, imaginar sua vida,
porque ele não existia. Sim, era um freela para escrever ficção.
Lembro que eu fiquei preocupado porque não fazia ideia de
que história eu iria contar. Tudo o que eu sabia era que precisava sair do zero
inventar toda a vida desse garoto, sem fazer ideia do que ele queria ou de onde
essa história chegaria.
No meu sonho, eu andava pela rua – acho que era pela rua – pensando
o que eu poderia fazer, porque a pior coisa do mundo para quem escreve é ter
que escrever uma história que você não conhece.
Aí comecei a roubar e pensei na namorada dele. Eu faço isso
muito isso. Quando eu preciso escrever um texto e não encontro o texto em lugr
algum, eu escrevo algo relacionado ao texto. É uma maneira de olhar o texto sem
deixar o texto perceber isso. Lembra quando você era adolescente e olhava para
a garota por quem era apaixonado, torcendo para ela não virar a cabeça e
perceber que você estava olhando para ela como um psicopata que tem uma foto
dela num altar repleto de velas escondido no porão escuro da sua casa? Bem, eu
faço isso o tempo todo com textos que não consigo escrever.
E foi o que fiz com o texto do garoto oriental. Como eu não
conseguia imaginar o garoto, disfarcei minha incompetência pensando na namorada
dele. Afinal, eu queria que meu garoto oriental tivesse uma namorada. E eu
sabia que ela não podia apenas ser sua namorada, mas sim um personagem que
tivesse vida própria e quisesse... Quisesse...
Não. Não deu certo.
Pensar na namorada do garoto não me ajudou em nada, porque
eu também não sabia o que ela queria. Aliás, isso apenas piorou a situação.
Antes eu tinha que lidar com o fato de que não sabia nada com o garoto, mas agora
eu também precisava fazer o mesmo a respeito da imbecil da sua namorada.
Basicamente, eu não sabia qual era a meta e resolvi dobrar a meta por causa
disso.
Mas de repente uma roda de tear apareceu na minha cabeça.
Sabe? Roda de tear? Ou roda de fiar, dependendo de onde você
nasceu? Aquele negócio que as pessoas usam para transformar tecidos em fios? Bem,
a imagem disso surgiu na minha cabeça sem nenhum aviso. Ela estava funcionando
e sua roda girava, com o tecido sendo trabalhado ali.
E de repente eu percebi que aquela era a roda de tear do avô
do garoto, que havia imigrado para o Brasil décadas atrás. E até hoje ele havia
se sustentado trabalhando com isso,
sempre fiando, de manhã até à noite, durante anos. Foi assim que ele conseguiu
comprar uma casinha de dois quartos num bairro afastado, foi assim que ele
conseguiu sustentar a esposa e o filho, foi assim que ele superou a dor da
morte da esposa, e é assim que ele sustentou o neto, que foi criado por ele
após seu filho e a nora partirem para outro país para tentar uma vida melhor
antes de buscar o menino, coisa que nunca aconteceu.
Eu não vi uma roda de tear. Eu vi o texto inteiro. Ou
melhor, eu vi a vida inteira do menino. Toda a forma que ele foi criado pelo
seu avô, a forma que ele começou a entender o tamanho do esforço que o avô
fazia para que ele tivesse uma boa educação e fosse feliz, e como ele passou a
vida inteira sonhando em casar e criar uma família para ensinar ao seu filho
tudo o que havia aprendido com o avô.
E, claro, para ser feliz. Não apenas porque todo mundo quer
ser feliz, mas sim porque ele saberia que nada deixaria seu avô mais feliz que
sua própria felicidade.
Lembra quando você era adolescente e olhava para a garota
por quem era apaixonado, torcendo para ela não virar a cabeça? Bem, nesse caso,
a garota olhou para mim e sorriu. E eu me senti a melhor pessoa do mundo,
porque tive uma sensação que não experimentava há anos: o prazer de ver um
texto se escrever sozinho na minha frente, como por um passe de mágica.
Desde o minuto que acordei, desde o dia em que tive esse
sonho, essa sensação me persegue. Talvez seja a maneira que minha mente
encontrou de me mostrar o quanto essa sensação é boa. Ou, melhor ainda, talvez
seja a forma que ela encontrou de me mostrar que eu não preciso sonhar para
isso acontecer.
Sim. É isso.
Mensagem recebida.
Hora de voltar a escrever (também) para mim.
Sim. Acho que voltei.
13 comentários:
Bom texto, como sempre. E ainda me deu uma dica de como imaginar histórias. Abraço!
Bom demais ver o seu retorno!
Cara, estou olhando para você há meses (anos?) E agora que você virou para mim e riu, não vá se esconder de novo.
P.S.: mas bem que eu preferia que, nessa imagem, você fosse uma garota linda em vez de um baixinho careca. 😏
O bom filho a casa torna, bem vindo de volta Rob! Sentimos falta!
Bem-vindo de volta, Rob. Abençoada seja essa roda de tear.
Chewie... We're home.
Bem-vindo de volta, queridão!
Que bom que voltou, Rob. Gosto muito dos seus textos e de alguma forma eles me emocionam em níveis diferentes, esse por exemplo, me deixou com os olhos marejados, acho que entendo um pouco.
Abração!
Bem vindo de volta, Rob
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Estou maratonando "gente que escreve" (acabei de ouvir o episódio 16). Seu trabalho é inspirador.
Abraços.
Olá, de novo... ótimos texto, sabe eu também escrevo algumas coisinhas e as vezes tento escrever coisonas. Acabo no meio da página sem ideias, ou melhor, com tudo no papel e mais nada na cabeça. Aí quebro a cuca e passa muito tempo até eu arranjar novas ideias, normalmente desisto do texto. Acho que essa dica vai me ajudar bastante. Obrigado.
Que legal, com certeza é uma história que eu leria.É muito bonito mesmo o nascimento de uma história.
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