– Como você faz para escrever?
Quando ela me fez a pergunta, estávamos sentados na sala de
uma casa de campo. E eu respondi animado, porque gosto de falar sobre como
escrevo. Não é uma questão de ego, mas de necessidade. Sempre que eu falo sobre
como escrevo, eu pareço entender mais sobre esse assunto, e isso me faz bem.
Como pessoa e como escritor.
– Eu uso barras de ferro, foi tudo o que eu respondi.
– Como assim?
Precisei parar e pensar antes de continuar, por que... Bem,
eu não tenho certeza se já havia pensado isso antes. Mas eu certamente nunca
havia falado isso para ninguém.
– Eu tenho milhares de barras de ferro presas no alto do meu
cérebro.
E, no momento que eu disse isso, olhei para cima e vi as
barras ali. Eram incontáveis, todas redondas, de grossuras e texturas
diferentes. Mas todas do mesmo comprimento. Estavam penduradas e balançavam,
uma se chocando com a outra e a outra se chocando com uma terceira, que batia
na seguinte. Mas isso não fazia som. Estava ali, mudas e eu peguei uma delas para
mostrar como eu escrevo.
– Sempre que eu preciso fazer um texto, eu venho aqui e
procuro a barra de ferro que melhor vai se encaixar com a ideia. Aí eu pego a
barra e vejo qual o tamanho do texto.
– Porque as barras têm o mesmo tamanho...
– Sim. Aí eu apenas pego a barra e, se eu preciso que ela
seja desse tamanho, eu faço ela se encurtar. Se for maior, eu alongo a barra.
Para mostrar melhor, eu fiz exatamente o que estava falando.
Segurei a barra de ferro pelos cantos e apertei, fazendo com que ela ficasse
com a metade do tamanho. Em seguida, segurei-a novamente pelas pontas e abri os
braços, fazendo a barra crescer até ter quase o dobro do tamanho original.
Ela me olhou encantada e eu continuei.
– Eu mexo apenas no tamanho, mas é a mesma barra. A mesma
textura, a mesma largura.
– Então, você já tem todos os textos prontos dentro da sua
cabeça?
– Sim. Basicamente sim. Por isso eu escrevo tão rápido, eu
respondi, pendurando a barra de ferro no local original.
Enquanto eu arrumava a barra junto com as outras, ela me fez
uma pergunta importante.
– Você não tem medo que as barras de ferro acabem?
Eu estava sonhando com uma tia da Esposa, já falecida. E eu
queria ter acordado nessa hora. Não acordei, mas cortei o sonho e parti para
outro lugar – na mesma casa – com outras pessoas, outras histórias, outros
sentimentos. Como não acordei, foi o modo que encontrei de não responder à
pergunta com sinceridade. Pois minha resposta seria:
– Eu morro de medo disso.
2 comentários:
Ainda bem que as barras não acabam, pq uma ideia no papel chama outras pra conversar, que chama outras e mais outras...
Abraços!!
Se seus textos já não existissem (armazenados em ferro) tinham de ser inventados...
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