Spock!
Eu não lembro a primeira vez que assisti Jornada nas
Estrelas. Mas, por outro lado, eu não consigo imaginar a minha vida sem Jornada
nas Estrelas. Quando eu era criança, meus heróis eram outros. Quando eu era
criança, eu queria ser Luke Skywalker. Queria ser Han Solo. Queria ser Indiana
Jones. Mas Jornada nas Estrelas já estava na minha vida desde essa época.
A paixão pela série é uma herança dos meus pais, que
adoravam. Herança do meu irmão, cuja paixão pela ciência – hoje ele é físico –
nasceu junto com as aventuras de uma espaçonave que explorava a galáxia, audaciosamente
indo onde nenhum homem jamais esteve. De lá para cá, muitas outras espaçonaves
surgiram na minha vida. Mas a Enterprise continua sendo meu lar.
Não sofra, Almirante.
Nunca deixei de admirar meus heróis de infância, e até ganhei
heróis novos. Mas, conforme eu cresci, parei de sonhar em me transformar nos meus
heróis. Comecei a perceber que eles viveram suas aventuras da mesma forma que eu
estava vivendo a minha. A minha vida, como a de todos nós – e até mesmo a dos
meus heróis – era uma enorme aventura. Talvez tudo o que a gente precise fazer,
em alguns momentos, é imaginar que um garoto está assistindo nossa vida. Com
isso, nossa aventura ganha cores. Com isso, sabemos que é preciso fazer o
possível para nos tornarmos o herói desse garoto.
Entretanto eu não deixei de querer ser um herói por me
tornar adulto, mas sim por me transformar em outro tipo de garoto. Mais crescido,
mais responsável, mais maduro, mas ainda assim um garoto. Com algumas
cicatrizes aqui e outras ali, com erros que fazem o que sou e – mais importante
de tudo – sabendo qual o meu lugar no universo.
Eu nunca havia feito
o teste do Kobayashi Maru até agora.
Quando eu era criança, eu queria me transformar em meus
heróis. Adulto, eu não quero mais ser um herói do cinema ou da televisão. Mas,
muitas vezes, assistindo a um episódio de Jornada nas Estrelas, eu pensava “isso
é o que eu preciso ser”, ao ver o Capitão Kirk. É outro tipo de heroísmo, que vai além de murros
no queixo. É um heroísmo que envolve tomar decisões imediatamente, saber quando
é melhor arriscar e quando optar pelo caminho mais seguro – e, mais importante,
colocando o bem estar dos outros acima do seu. As necessidades da maioria (normalmente)
têm mais peso que as da minoria. Ou que as necessidades de um.
Kirk não é herói pela sua coragem ou ousadia; Kirk é herói por
carregar não fugir da responsabilidade de ter centenas de outras vidas dependendo
de cada passo seu. “Quanto mais eu dou, mais ela toma; quanto mais eu dou, mais
ela toma”, Kirk lamentou quase enlouquecido em um episódio da série. Ele estava
falando da sua responsabilidade com a Enterprise. Quem nunca sentiu o mesmo sobre
a vida?
O que você achou da
minha solução?
Mas Kirk sempre prevaleceu. Sim, isso se deve a sua coragem,
inteligência e ousadia. Pela capacidade de quebrar regras para um bem maior.
Mas Kirk sempre prevaleceu por ter as pessoas certas ao seu lado. Especialmente
o seu oficial de ciências meio vulcano, cujo intelecto e capacidade de raciocínio
lógico eram menores apenas que sua lealdade ao capitão. Ao amigo. Uma lealdade
que ele mesmo classificaria como lógica, mas que não era. Muito menos extraterrestre.
Era uma lealdade humana. Afinal, como Kirk disse no funeral de Spock... “De
todas as almas que encontrei em minhas viagens, a dele era a mais humana”. Era
verdade. Nós não víamos isso quando víamos a série na TV entre e aula e a lição
de casa, mas entendemos isso anos depois, mais adultos.
Eu não quis ser Kirk desde que nasci. Mas passei a vida
inteira procurando ter Spocks ao meu lado. E passei a vida inteira procurando
ser o Spock de todos os meus amigos. Provavelmente não consegui fazer isso
sempre. Afinal, Spock só existe um. Mas, como Kirk, eu nunca desisti de tentar.
Como McCoy, fiz questão de não ficar azedo com meus fracassos. Afinal, eu era
humano.
Eu sempre fui...
Tive bons amigos. Muitos deles eram Spocks. Tive alguns
McCoys também. Alguns estão na mesma nave que eu até hoje. Outros estão em
outras missões, outras viagens. Mas eu sempre soube que é preciso ter um Spock
ao lado. Alguém que se oferece para ir com você, e você responde “fique na nave,
porque se algo der errado, é com você que eu conto para me tirar de lá”.
A Série Clássica de Jornada nas Estrelas é uma série sobre
ficção científica, mas seus filmes para cinema (em especial a partir do
segundo) são todos sobre amizade e passagem do tempo. Pois é preciso que o
tempo passe para que você compreenda que sua viagem será curta e sem graça sem
um amigo. É preciso que o tempo passe para que você compreenda que, para ser
Kirk, é preciso ter Spock e McCoy ao seu lado. Afinal, como o próprio Kirk
disse em Jornada nas Estrelas V, “eu sabia que não ia morrer porque vocês
estavam comigo; e eu sempre soube que vou morrer quando estiver sozinho”. E
hoje Kirk está sozinho. Magro morreu mais de dez anos atrás. Hoje morreu Leonard
Nimoy.
...E sempre serei seu amigo.
Os sites dizem que era um ídolo de milhões de pessoas. Eu
nunca o vi assim. Para mim, ele sempre foi um velho amigo. Isso aconteceu
quando o vi pessoalmente, quando esteve no Brasil. Foi um dos poucos atores que
vi de perto que fez minhas pernas tremerem. Dias depois da coletiva, novo
encontro, um rápido aperto de mãos e um cumprimento. Minutos antes, eu estava
quebrando o pau com uma assessora de imprensa totalmente débil-mental numa sala
lotada – uma das únicas duas vezes que levantei a voz com uma assessora, a
outra vez, ano depois, seria novamente com ela – e quase não consegui tirar uma
foto com ele.
Acabei tirando a foto junto com outra pessoa com quem nem tinha
contato - e que por isso está fora da foto acima, já que ela não cabe aqui - mas hoje sei que era isso ou nada. No momento, eu queria ter falado sobre
tudo o quanto ele era importante para mim e agradecido por tudo que aprendi com
ele, mas não tive chance. Mas não era preciso. Afinal, ele era meu amigo de
infância. Era meu velho amigo. E velhos amigos sempre sabem disso. E agora, em
homenagem ao meu amigo, tudo o que preciso saber é que “ele nunca estará
realmente morto enquanto nos lembrarmos dele”.
Vida longa e próspera.
Quando a Michele me avisou parecia que alguém tinha colocado um phaser na posição stun e atirado em mim. Ontem mesmo estava revendo os últimos episódios da segunda temporada da série clássica e admirando a personalidade vulcana-humana do Spock. Ainda estou stunned. E chorei lendo esse texto.
ResponderExcluirMay Nimoy LLAP in our memories.
orra Rob, chorei aqui.
ResponderExcluirMais um chorando aqui, pelo menos dessa vez é na sala de casa.
ResponderExcluirLindo texto *-* ual !!!
ResponderExcluirSpock pra muitos so um personagem fictício mas pra mim uma grande expiração.�� <3
ResponderExcluirInfelizmente não tive a chance de ouro de conhece-lo, mas sei que ele está em nova jornada além da fronteira final. Lembro de uma palestra que fiz sobre o Spock, me deixou totalmente feliz por conhecer uma alma humana como a do nosso querido Harold Spock, sim esse é o nome completo de Spock, que sua mãe lhe deu....
ResponderExcluirAdorei seu depoimento, Rob. Lindo! Virei fã kkkkkk
Vida Longa e Próspera!
Provavelmente um dos textos mais tocantes que eu li sobre a morte de Nimoy e da importância e proximidade de Star Trek na vida da nossa geração. Vida longa e próspera a tudo o que ele significou e ainda significa.
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