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31 de julho de 2016

Década

A obra que criamos é uma maneira de escrever um diário.”
Pablo Picasso



Hoje este blog faz dez anos.

Talvez seja pouco para você que está aí desse lado lendo o texto. Talvez seja muito para um blog. Mas, nesse momento, eu quero usar isso para pensar um pouco em mim. Afinal, não estamos falando apenas de dez anos de textos, mas também de dez anos da minha vida.

E muita coisa acontece em dez anos.

Quando eu cliquei pela primeira vez no botão “publicar”, eu era uma pessoa bem diferente do que sou hoje. Eu havia acabado de entrar na casa dos trinta, morava sozinho há pouco tempo e trabalhava como jornalista.

Hoje, com quarenta, sou casado. Aliás, não sou apenas casado, mas sim casado com uma pessoa que lê qualquer texto que eu escreva antes dele ser publicado – inclusive este – e que também cuidou sozinha de todo o novo layout do blog.

E, ainda mais importante: sou casado com uma pessoa que entende que quando meu olhar se perde em uma conversa é porque eu tive uma ideia para um texto. E isso deve exigir paciência demais, porque faz dez anos que eu estou pensando em textos o dia inteiro.

Minha vida profissional também mudou. Apesar de ainda fazer este ou aquele texto jornalístico, o jornalismo ficou para trás na minha vida. Hoje, eu trabalho escrevendo exclusivamente para internet, especialmente roteiros e publicidade.

E isso é algo que só aconteceu por causa desse blog, quando pessoas do meio começaram a descobrir meus textos e me chamaram para escrever profissionalmente. A primeira vez que meu telefone tocou e era alguém perguntando pelo Rob Gordon, eu quase disse que era engano. Afinal, Rob Gordon era apenas o nome que eu usava para assinar os textos.

Hoje, eu convivo com mais pessoas que me chamam de Rob do que de... Bem, de qualquer outro nome. Hoje, Rob Gordon se tornou uma pessoa de carne e osso, que atende telefone, sai para jantar com clientes e participa de reuniões.

Mas existem duas mudanças nesses dez anos que, para mim, são as mais importantes. A primeira delas é que, dez anos atrás, escrever era meu trabalho. Era algo que eu adorava e queria fazer cada vez mais, mas era basicamente o meu trabalho.

Nesses dez anos, escrever virou mais que isso. Experimentei novos formatos e escrevi para outras mídias. Lancei livros e contos. Comecei a escrever quadrinhos e ganhei prêmios. Nesses dez anos, escrever deixou de ser meu trabalho, deixou de ser algo que gosto.

Nesses dez anos, escrever virou minha vida.

A outra mudança, talvez, não seja tão clara para vocês porque ela é muito fácil de ser percebida aqui deste lado.

Quando eu criei este blog, eu tinha trinta anos. Dependendo da sua idade, a ideia de “ter trinta anos” pode se confundir com maturidade. Mas hoje, já na casa dos quarenta anos, eu olho para o Rob Gordon de dez anos atrás e vejo... Bem, não vejo exatamente um moleque, mas alguém que entendia um pouco menos sobre o mundo.

E eu gosto da ideia de pensar que existe uma linha do tempo alternativa em que esse Rob Gordon de trinta anos ainda está se preparando para escrever todos os textos desses dez anos. Porque boa parte do que eu aprendi nessa década eu aprendi escrevendo.

Em cada postagem deste blog eu aprendi como escrever um pouco melhor, mas muitos desses textos me ensinaram algo ainda maior, me mostrando novas maneiras de enxergar o mundo e a mim mesmo.

Hoje, este blog faz dez anos e muito da pessoa que sou hoje se deve a ele. Todas as dúvidas, medos, sonhos e loucuras que eu pensei nessa década estão nesse blog – algumas de forma explícita, outras não.

E o que me deixa mais feliz é que esse blog nunca foi sobre isso. As dúvidas e os sonhos, na verdade, se infiltraram em dez anos de crônicas com loucos falando comigo na rua, confusões em supermercados, brigas com atendentes de telemarketing. Porque – e hoje eu consigo ver isso com mais clareza – esse blog não é apenas um registro da minha vida, mas sim a forma que eu encontrei de rir de mim.

Se você é leitor antigo, você assistiu a tudo isso acontecendo de perto. Aliás, uma das coisas que mais me dá orgulho é o fato de que esse blog ganha leitores novos a cada dia, mas os antigos permanecem aqui – e se tem algo que eu descobri em dez anos é que fazer alguém ler uma crônica sua é fácil; o difícil mesmo é fazer com que essa pessoa sinta vontade de ler seu próximo texto.

Se você é leitor antigo, certamente se lembra de algumas histórias das mais de 1.100 histórias postadas nesse blog e viu como o Rob Gordon de 30 anos se transformou no Rob Gordon de hoje. Talvez você tenha dado uma gargalhada lendo em um texto, talvez tenha derramado alguma lágrima em cima daquela crônica (eu fiz isso – mais que vocês imaginam – enquanto escrevia nesses dez anos).

E eu agradeço. Não só pela leitura, mas pelos risos e lágrimas. Porque se você fez isso enquanto lia esse blog, é porque eu consegui mudar seu dia em algum momento desses dez anos. E, para mim, nada é mais importante que isso na hora que eu abro uma tela em branco e começo a escrever.

Por isso que eu não vou encerrar este post com o clichê “que venham os próximos dez anos” – mesmo porque eu não estou acostumado com a ideia de que em mais uma década eu terei cinquenta anos. Não. Prefiro “que venha o próximo texto”. É mais a minha cara, porque, para mim, o melhor texto da minha vida precisa sempre ser o próximo. E foi assim que este blog foi feito: com uma crônica atrás da outra.

E foi assim que eu vivi esses dez anos: com uma crônica atrás da outra. Eu me apaixonei por cada texto como se ele fosse o primeiro que escrevo, e me dediquei a cada um deles como se fosse o último da minha vida.

Espero que estejam gostando. Eu estou adorando. Cada dia mais. 

22 comentários:

  1. Parabéns e obrigado: pelos textos, pelos anos e pelo blog.

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  2. Parabéns e obrigado: pelos textos, pelos anos e pelo blog.

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  3. Eita porra, Rob. Dez anos.

    Mesmo de longe, nesse tempo deu pra ver grande parte da sua vida em seus textos. As histórias diárias, relacionamentos, depressão, copas do mundo, loucos pelo bairro, sonhos, livros, quadrinhos, blues, mundo nerd, pesquisas bizarras do google... Tudo em uma escrita que evoluiu demais com o passar dos anos e que hoje você colhe os resultados.

    O pior é que parei pra pensar aqui e já conheço o Champ (e você) há oito. É tempo demais, quase um terço da minha vida. Dez anos é muito tempo pra um blog, uma mídia que já viveu seu apogeu e hoje está em queda. Manter um por tanto tempo e com tanta produção original é para poucos. Vida longa e próspera ao Champs =]

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  4. Parabéns pelos 10 anos! E que venha mais uma, duas, três, muitas décadas de textos incríveis pela frente :)

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  5. Enfiiiiimmm, uma mudança de layout, bem-vinda! Achei bem melhor pra ler. Parabéns pela década, meu jovem! Um abraço!

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  6. Vou comentar aqui em honra ao Champ.

    Eu não tenho certeza quando que conheci o blog, creio que 2007. Um grande amigo me mandou alguns links de blogs que ele achava bons, e o seu estava no meio. Lembro que li todos os textos em alguns dias, adorei o estilo que alternava do humor ao drama em um parágrafo. Pensei no quanto eu adoraria escrever desse jeito.
    Com um pouco de disposição e habilidade de detetive consegui descobrir seu nome real, e na época me achei o máximo pois pelo Orkut eu sabia qual era o seu rosto (que você não mostrava nem a pau). Como todo músico de São Paulo eu vivia na Teodoro Sampaio, e ficava atento ao dia que te visse hahaha.

    Já te disse que você está na lista dos melhores escritores que já li. Hoje por falta de tempo e disposição eu quase nem venho mais aqui no Champ, leio mais seus textos no Facebook. Uma pena que eu não consiga mais acompanhar seu trabalho como eu acompanhava, mas você ainda está na minha lista 10 escritores fodas.

    Fiquei feliz pra cacete quando a Ana apareceu na sua vida, e feliz pra cacete quando eu vi que você estava vencendo aquela depressão fdp. Seus textos me ajudaram muito nestes anos, fazem parte da minha história. Nunca deixei de sentir o quanto você é um amigo que nunca vi. Vira e mexe eu mostro um texto seu para alguém e digo "esse texto é de um amigo meu". Engraçado esse sentimento :-)

    Enfim! Muito obrigado por tudo Rob. Desde o presente lindo que você deu a mim e à Aline no nosso casamento, até todos os pensamentos e reflexões que sua visão diferenciada de mundo me deram.

    Me desculpe por não conseguir mais acompanhar tanto seu trabalho. Sabe como é, em 2007 minha vida era muito diferente rs.

    Grande abraço do fundo do coração à você e à Ana. Que muitos e muitos textos venham

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  7. Amiguinho, parece que foi ontem que nos encontramos naquela estação de metrô, ainda na era pré-Ana (eu ia falar antes da fase Anal, mas sei lá, acho que não ia cair bem), e descemos a Teodoro conversando sobre alguma bobagem qualquer. Embora tenhamos nos encontrado muito poucas vezes nesses quase dez anos que se seguiram, é incrível como vocês estão sempre presentes em minha vida (e viva o lado bom da Internet!). Espero que ainda estejamos por aí nos cinquenta, sessenta e por aí vai. E um dia desses apareço novamente por aí. Enfim, como diria aquele escoteiro alienígena: "para o alto e avante!"

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Porra, Rob, dez anos! É muito!!! Não sou leitora desse tempo todo, mas acho que cheguei há uns 8 anos, e olha, já falei é vou repetir: é a gente que agradece pelos seus textos.

    Não foi um sorriso ou gargalhada e uma lagriminha, o seu blog fez uma diferença enorme na minha vida. Já ri de chorar com algum texto (o da Kong merece destaque), já chorei de soluçar e o marido vir perguntar o que foi, já senti saudades de ter internet pra poder ler algum texto (e roubar a Wifi da faculdade pra poder acessar o blog), e tanta coisa mais...

    Mas acho que uma das coisas mais marcantes foi quando você começou a falar sobre depressão e de aceitar ajuda. Foi como um interruptor dentro de mim tivesse aparecido e ficou lá esperando só eu ter forças e coragem de chegar nele e apertar, e finalmente ir em quem estava do meu lado e dizer "Tô no fundo do poço, me ajuda. Eu sei que posso melhorar." E olha... foi isso aí que mudou a minha vida. Foi aí que eu não entreguei os pontos e desisti de tudo, e então meu casamento se salvou, e eu comecei um tratamento, e melhorei, e pude enfrentar muita merda ruim sem cair, e agora, olha eu aqui com um bebê super fofo no colo, que há 8 anos nunca iria acontecer. Na verdade, o hoje, não existiria se não fosse pequenas mudanças nesses 8 anos, que olha, não posso ser hipócrita e dizer que foi mérito só meu. Muita gente influenciou, e seu blog muito mais do que você pode imaginar.


    Sei que é um mundo muito louco essede internet e pensar que você nem me conhece na vida real, e mal saberia dessas coisas se eu não estivesse contando aqui. Mas olha, Rob: muito obrigada, de verdade, pra caralho! Você nem tem idéia do tanto que esse espacinho digital aqui mudou a minha vida... então, muito, mas muito obrigada!

    Ah, e parabéns pelos 10 anos. O parabéns é seu, mas o presente sempre foi nosso, de ter seus textos aqui pra gente ler! (Clichê, mas verdade)

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  10. Diego F.9:12 AM

    Parabéns, Rob!

    Conheci seus blogs há pouco tempo. Foi em 2014 ou 2015, quando o Raul amderlaine disse que era seu aniversário no Twitter.

    Cliquei no seu perfil e me encantei com as crônicas divertidas e/ou melancólicas. Passei horas lendo posts antigos. Hoje, sempre fico animado quando vejo o (1) no feed de notícias.

    Espero que você continue o ótimo trabalho por muito tempo! Obrigado por inspirar tanta gente.

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  11. Tem alguns anos que acompanho esse blog...e olha, parece que a cada texto Rob, só tenho mais e mais vontade de ler seus textos.
    Mais do que histórias bacanas, engraçadas, emocionantes e reflexivas, são uma escola para aquele que era um garoto de 20 e poucos anos e agora, chegando ao 3.0, percebe que escrever é uma necessidade mais do que uma obrigação. E mesmo que houvesse tal obrigação (profissional), a obrigação pessoa de colocar sentimentos e outras coisas da vida em palavras com certeza tem inspiração sua.
    Obrigado, parabéns pelos 10 anos e até o próximo texto!
    Abs!

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  12. Pensar que desses 10 anos de blog, eu acompanho, pelo menos, 8. Comecei nas sagas e não parei mais. E adoro, quero mais sempre.

    Esses dias, estava eu num grupo de um famoso podcast sobre nostalgia gamer, quando surgiu seu nome, e fiquei orgulhosa de dizer, "pô, acompanho ele desde 2008, das sagas, o quadrinho, a maratona de 24 horas de crônicas... Até ganhei presente!" Pode ter certeza que, quando uma pessoa tem esse nível de importância na vida da gente, é porque foi presente e será por muitos mais anos.

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  13. EU SOU UM LEITOR NOVO DO BLOG E OUVINTE TAMBÉM NOVO DO PODCAST MAIS VENHO AQUI AGRADECER AO ROB POR TER ME ENSINADO O QUE É UMA CRONICA E POR TER ME DEIXADO COM VONTADE DE ESCREVER,OBRIGADO,PARABÉNS PELA DÉCADA.

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  14. Sou leitor relativamente novo aqui. Parabéns pelos dez anos e aguardo o próximo texto!

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  15. Anônimo7:14 PM

    Um texto "DÉCADA" vez... Assim se foram dez anos bem escritos. Parabéns!

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  16. Eu já dei os parabéns em outro lugar, mas ouvindo o podcast agora, o Barreto mandou vir aqui dar os parabéns e se declarar ouvinte, então, como ele é bravo, tá aqui!
    Tenho acompanhado seus textos, mas pode deixar que vou começar a deixar comentários por aqui tb ;)
    Vc é foda!

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  17. Parabéns Rob! Sou do gente que escreve! Pq o Fábio Barreto disse, e eu vim mesmo! Quero mais gato ridículo por favor!

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  18. Deixei de ser macambúzio e aproveitei este dia aprazível para te disser, Rob Gordon, parabéns. Tu é foda, mano.

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  19. Bruna Fernanda8:55 PM

    Eu comecei a ler o blog há muito tempo, mas colocando dessa forma... bom, eu comecei a ler os seus textos com 16 para 17 anos, fiz parte, como alguns leitores antigos, de alguns de seus posts comemorativos e passei um tempo ausente, mas logo voltei a ler ativamente!
    Hoje tudo mudou bastante, e te agradeço sempre por ser um "amigo" que carrego por tanto tempo.
    Parabéns pelo seu dom. Estou feliz de ainda ver seus textos por aqui :)
    Abraços,
    Bruna

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  20. Comecei a ler o Champ com 16 anos, hoje tenho quase 26. Rob, você tem noção que, mais do que ser só parte da sua vida, esse blog é parte da minha e de tantas outras vidas? Foi lendo as suas crônicas que eu, um menino bobo de 16 anos, criei coragem pra escrever o que tinha na cabeça - e não parei até hoje. Você inspira as pessoas, como escritor e como pessoa. Que a sua vida seja sempre de sucessos, que você se sinta feliz com o que faz. Obrigado.

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  21. Sou ouvinte do Gente que Escreve e (mesmo já tendo passado alguns meses desde o episódio e da comemoração do décimo aniversário do Championship Vinyl) vim aqui te dar os parabéns porque o Fábio Barreto mandou! haha


    Parabéns. Continue sendo uma inspiração para todos nós.

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  22. Que venha o próximo texto, Rob!

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